Jornal Correio Braziliense

Cidades

Doze pessoas registraram ocorrência contra responsáveis pelo Carnafacul

Investigação dirá se houve crime ou quebra de contrato

Em apenas dois dias, 12 pessoas formalizaram denúncia na Polícia Civil do Distrito Federal contra a JRD Produções Artísticas e Culturais, dona da licença para uso da marca Carnafacul. O grupo alega que tiveram prejuízo ao investir ou prestar serviço para a empresa que promovia a festa para um público estimado em 10 mil pessoas. A Carnafacul Brasília ocorreria pela primeira vez na cidade neste domingo, no Autódromo Internacional Nelson Piquet, mas acabou cancelada pelos donos da marca, a Marcello Borgerth Produções e Eventos S/S Ltda. No site De Boa BSB, eles dizem apenas que houve descumprimento do contrato por parte da licenciada.

Como a investigação está em fase inicial, a polícia apura se houve crime ou simples quebra de contrato. Também não fala em valores do prejuízo que os brasilienses alegam ter tido. O Correio apurou que passa dos R$ 300 mil, com base no relato de quatro dos cinco que prestam queixa na polícia. Na tarde de ontem, em menos de duas horas pelo menos cinco pessoas estiveram na 5; Delegacia de Polícia, na área central de Brasília, para registrar o boletim de ocorrência.

Eram comissários e coordenadores universitários encarregados de vender os ingressos e fazer a mobilização das faculdades. A preocupação comum do grupo é em reaver o dinheiro repassado para a JDR e devolver os valores para quem pagou pelos ingressos. O estudante Rafael Azevedo, 24 anos, estava entre os coordenadores universitários, cuja tarefa era conseguir comissários de vendas. Segundo ele, a JDR cooptou pelo menos 30 pessoas com a mesma função que, por sua vez, credenciaram 10 comissários cada um, todos vendendo ingressos. ;Repassei cerca de R$ 3 mil diretamente para a Andria (pessoa que se apresentava como responsável pela JRD). Esse valor se refere à venda do primeiro lote de ingressos. Por sorte, ainda estou com o dinheiro do segundo lote e já comecei a devolução;, contou.

O cancelamento da festa frustou a estudante de turismo Adeline de Souza, 27 anos, e as amigas dela. Ela pagou R$ 40 pelo ingresso e foi à delegacia para saber o que fazer. ;Quero meu dinheiro de volta. Mas aqui explicaram que eu tenho que procurar a pessoa que me vendeu o bilhete ou procurar o juizado de pequenas causas. Não tenho muita esperança;, lamentou.

A investigação está em fase preliminar e o campo do boletim de ocorrência onde é especificado o tipo de crime está em aberto. O delegado-chefe da 5; DP, Laércio Rossetto, afirmou que ainda é cedo para falar em estelionato. ;Estamos ouvindo as pessoas para saber em que circunstâncias os contratos foram celebrados, quem produzia o evento e por que foi cancelado. É preciso deixar claro se houve quebra de contrato ou se alguém quis obter vantagem econômica de forma ilícita;, detalhou.

Baseado no que já ouviu das pessoas que se declaram vítimas da JRD, o delegado diz que existe a possibilidade de ter havido a prática de pelo menos seis crimes. Entre eles, apropriação indébita e estelionato (leia quadro). Para ele, no entanto, o momento exige cautela. Outras pessoas serão ouvidas e ele espera que os responsáveis pela JRD compareçam à delegacia para esclarecer os fatos.

Silêncio
A jornalista Marcela Soares Rocha disse ter cerca de R$ 42 mil para receber da JRD, entre salário e cheques que ela assinou para pagar fornecedores. ;Ela (Andria) dizia que estava esperando o pagamento de um patrocinador. Enquanto meu limite do cheque especial cobria, eu deixei. Mas quando a reserva acabou, sustei os cheques que ainda faltam cair;, relatou. Um produtor que pediu para ter o nome preservado revelou investimentos de cerca de R$ 100 mil no evento.

O Correio fez novo contato com a Marcello Borgerth Produções e Eventos S/S Ltda. A pessoa que atendeu a ligação pediu que as perguntas fossem enviadas por e-mail para uma pessoa de nome Amanda, apresentada como assessora. Até o fechamento desta edição, ela não havia respondido à mensagem eletrônica. Andria, a mulher que, segundo as vítimas, seria a responsável pela JRD, também não atendeu as ligações da reportagem.

Enquanto isso, quem trabalhou para a realização do evento preocupa-se em como resolver o problema. Porém todos com quem o Correio conversou alegaram que os recursos arrecadados com o primeiro lote dos tíquetes já foram entregues diretamente para Andria ou para a pessoa contratada por ela para tomar conta da parte financeira do evento. Essa pessoa também seria mais uma vítima. ;Já repassei R$ 1,5 mil referentes ao primeiro lote dos ingressos. Tenho cerca de R$ 1 mil dos passaportes do segundo lote. Esse dinheiro vou devolver para quem comprou. Já a primeira parte eu não tenho como ressarcir;, explicou.

O número
R$ 300 mil

Estimativa de prejuízo de quem se sentiu prejudicado com o cancelamento da festa


Em apuração

A polícia desconfia que podem ter ocorrido pelo menos seis crimes no caso da Carnafacul. Confira:

Crime - Pena prevista de reclusão
Apropriação indébita - 1 a 5 anos
Estelionato - 1 a 5 anos
Falsidade ideológica - 1 a 5 anos
Falsa identidade - 3 meses a 1 ano
Fraude no comércio - 6 meses a 2 anos
Uso de documento falso - 2 a 6 anos