Jornal Correio Braziliense

Cidades

Asas Sul e Norte são as campeãs em registros de furtos e roubos a pedestres

De janeiro a julho deste ano, 6.407 pessoas foram assaltadas enquanto caminhavam pelas asas Sul e Norte, o que coloca a área nobre em primeiro lugar no ranking desse tipo de crime entre as cidades do Distrito Federal

Proteja as bolsas e carteiras, não leve muito dinheiro consigo, evite andar sozinho em lugares ermos. Quem caminha por Brasília deve seguir à risca essas dicas se não quiser ser surpreendido por um bandido. Segundo dados da Polícia Civil, as asas Sul e Norte são as campeãs em registros de furtos e roubos a pedestres em todo o Distrito Federal. Somente nos primeiros sete meses de 2010, 6.407 ocorrências dessa natureza foram registradas nos dois bairros. Ou seja, a cada dia, pelo menos 30 pessoas são vítimas do crime no Plano Piloto. Ceilândia, a maior e mais populosa cidade do DF, aparece em segundo, com 3.398 casos.

O número, porém, pode ser bem maior, uma vez que muitas pessoas preferem não comunicar o fato à polícia, principalmente quando o objeto subtraído tem pequeno valor. No entanto, deixar de ir à delegacia pode comprometer ainda mais a segurança. O delegado-chefe da 5; Delegacia (Setor Bancário Norte), Laércio Rosseto, é o responsável por um dos pontos mais vulneráveis em relação a essas duas modalidades de crime no DF: a Rodoviária. Ele orienta sempre registrar ocorrência, por mais simples que a situação possa parecer. ;Todo e qualquer crime deve ser levado ao conhecimento da autoridade policial para que nós tenhamos condições de mapear os pontos mais críticos. Isso serve para orientar tanto a Polícia Civil como a Polícia Militar a definir da melhor forma o policiamento preventivo;, destaca.

Quem passa pelas asas Sul e Norte sente medo. Todos os dias, a estudante e professora Altamires Alves Santos, 23 anos, sai de Sobradinho para assistir às aulas da Faculdade de Letras da Universidade de Brasília (UnB). Costuma descer do ônibus no Eixinho Norte, na altura da 209 Norte. A caminhada até a universidade é feita em passos rápidos e com atenção redobrada. ;Já ouvi muitos casos de assaltos. No mês passado, disseram que um rapaz tinha sido roubado e esfaqueado quando estava quase chegando à parada;, afirma. Segundo ela, não é raro ver moradores de rua pela região. ;À noite, os passeios são mal iluminados. Tenho medo de subir sozinha. Quando termina a aula, tenho que pegar dois ônibus: um para a Rodoviária e outro para casa.; A sensação de insegurança piora, diz Altamires, porque o policiamento não é ostensivo: ;Os policiais poderiam fazer rondas a pé. Acho que preveniria muitos crimes, além dos assaltos;.

Baseada nos relatos de três alunos do ensino médio Helson Albernaz Filho, Alair Feitosa e Johnathan Maiko, todos com 16 anos, a situação do pedestre na Asa Sul não difere muito. ;Só me lembro de ver uns policiais montados em cavalos, mas faz muito tempo;, garante Helson. A saída da escola, na 905 Sul, em direção à W3 é recheada de perigos aos pedestres. ;Muitos funcionários e alunos do colégio já foram assaltados nesse caminho;, conta o jovem. Alair e Johnathan já passaram por algumas situações complicadas. ;Uma vez, a gente estava na parada de ônibus e uns três meninos de rua, mais novos, começaram a rodear a gente e fazer comentários sobre o meu tênis e o casaco do Johnathan. Por fim, eles desistiram, disseram que já tinham assaltado naquele dia;, relembra Alair.

Crack
O engraxate Cláudio Hugo dos Santos tem 33 anos e passou 20 deles trabalhando no Setor Comercial Sul (SCS), um dos locais de maior fluxo de pedestres no centro de Brasília. Para ele, hoje a situação está mais calma, mas foi preciso passar muito sufoco para garantir a presença da Polícia Militar. ;Depois que aconteceram aqueles tiroteios aqui, até o Bope (Batalho de Operações Especiais) tem passado com frequência.; O engraxate acredita que a segurança melhorou depois que os camelôs foram retirados, pois com as barracas era mais fácil o batedor de carteira se esconder. O que não mudou foi a quantidade de mendigos. ;Todas as manhãs, têm pelo menos seis meninos dormindo na esquina. No fim da tarde, eles somem;, diz.

O presidente do Conselho Comunitário de Brasília, Saulo Santiago, concorda com o engraxate. Para ele, a presença dos moradores de rua contribui para o alto índice de roubos e furtos nas duas regiões nobres da capital. ;O problema maior é que a maioria deles (mendigos) são viciados em drogas e, para comprarem pedras de crack, maconha e outros entorpecentes, passam a furtar e roubar. As drogas se tornaram um problema de saúde pública e o governo precisa agir, pois vai chegar uma hora em que a situação ficará insustentável;, alerta Saulo.

Migração
Com a ajuda dos presidentes dos conselhos comunitários das asas Sul e Norte e policiais que trabalham no patrulhamento ostensivo no dia a dia, o Correio mapeou (ver arte) os pontos considerados mais críticos nessas duas localidades. Na Asa Norte, os becos das 700, a SQN 302 e a entrequadra 715/716 são lugares onde o pedestre está mais exposto. ;Na 715/716, ficou mais perigoso depois que a polícia passou a fazer rondas ostensivas na 315, que era o ponto das garotas de programa. Como estavam se sentindo incomodadas com a presença constante da polícia, elas migraram para a 715;, explica Raphael Rios, presidente do Conselho Comunitário da Asa Norte. Segundo ele, os marginais preferem as entrequadras mal iluminadas. ;Na 104/105, 108/109, entre outras, onde a iluminação à noite é precária, tomamos conhecimento de muitos casos de assaltos;, complementa.

A presidente do Conselho Comunitário da Asa Sul, Eliete Ribeiro, considera mais problemáticas as áreas das 700 situadas próximas aos colégios delicadas. ;Principalmente no caminho para a W3 é muito perigoso e escuro. Muitas pessoas já foram assaltadas nesse trajeto;, conta. Ela também aponta como visadas pelos assaltantes as quadras de comércio mais intenso. ;Na 108, na 403 e na 406 Sul, onde existem muitos estabelecimentos e, consequentemente, maior circulação de dinheiro, os pedestres ficam mais expostos, pois os marginais sabem onde e quem atacar;, alerta.

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Perseguição
Em 9 de agosto, o Setor Comercial Sul foi palco de tiroteio entre criminosos e policiais. Por volta das 19h, dois homens tentaram roubar um carro, mas foram frustrados por PMs. Na fuga, passaram por cima de calçadas e, ao chegarem em frente ao Hospital de Base, o motorista abandonou o carro em movimento, que foi parar em cima do calçamento da unidade de saúde. Ele tentou fugir a pé, mas acabou detido. Ferido na mão, o outro homem foi atendido no HBDF.