Para aliviar a superlotação das emergências da rede pública, o GDF vai construir oito unidades (1) de pronto atendimento (UPAs) até o fim do ano. Mas em vez de ampliar os serviços oferecidos à população, a inauguração da primeira UPA do Distrito Federal, em Samambaia, vai causar a redução das opções de atendimento. A Secretaria de Saúde vai fechar a pediatria do hospital regional da cidade em 29 de setembro, quando deve ser aberta oficialmente a unidade da região. Todos os profissionais serão deslocados para trabalhar na unidade de média complexidade, construída na Quadra 107. As crianças que precisarem de internação terão que ser levadas aos hospitais de Taguatinga, Ceilândia ou Asa Norte. Médicos criticam a concentração de todo o atendimento na UPA e pais reclamam do fechamento da pediatria da emergência.
Desde o último dia 8, o Hospital Regional de Samambaia (HRSam) não interna crianças. E a partir de 29 de setembro, a pediatria do pronto-socorro será totalmente desativada. A unidade tem 26 médicos pediatras, que passarão a dar expediente na UPA. A maioria não está satisfeita com a mudança. ;Não adianta centralizar todo o serviço na unidade de pronto atendimento porque ela não tem estrutura de internação. A gente vai ter que passar 70% do tempo do nosso plantão andando de ambulância para levar as crianças mais graves para outros hospitais. Acho que fechar a pediatria do hospital não é a melhor saída, só vai piorar;, afirma um médico da unidade regional, que pediu para não ser identificado.
O Hospital de Samambaia tem 16 leitos na pediatria e a UPA da cidade terá apenas 10 vagas. A unidade de pronto atendimento funciona como um centro de média complexidade, onde os pacientes podem passar uma noite internados, mas, em casos mais graves, precisam ser encaminhados a um hospital .O diretor do HRSam, Cláudio Bernardo Pedrosa de Freitas, afirma que normalmente a maioria das vagas de internação da emergência fica vazia. ;Os leitos da pediatria raramente ficam todos ocupados. Nos casos mais graves, as crianças podem ir para o Hran, Hras ou para o Hospital de Taguatinga. Ninguém ficará sem atendimento;, garante.
Ele explica que o pronto-socorro da pediatria funciona onde antes havia um centro de hemodiálise. ;O setor da pediatria foi improvisado e não atende da melhor forma as necessidades da população. Já a UPA da cidade é toda planejada, moderna e confortável, onde pacientes e funcionários terão à disposição um serviço humanizado;, justifica o diretor do Hospital de Samambaia, Cláudio Bernardo. Ele explica que foi preciso reduzir o número de leitos do HRSam por conta da construção da área de repouso dos médicos plantonistas. ;Com a desativação, vamos ganhar espaço físico para fazer consultórios de pediatria, otorrinolaringologia, urologia e gastroenterologia;, finaliza o diretor.
Contrato rompido
Depois de terceirizar a gestão das UPAs, com realização de licitação para contratar a empresa que comandaria as unidades, a Secretaria de Saúde voltou atrás no mês passado e rompeu o contrato assinado com a Cruz Vermelha Brasileira, sediada em Petrópolis (RJ). Pelo acordo, a organização social faria a gestão das duas primeiras UPAs ; a de Samambaia e a do Recanto das Emas. Mas o governo rompeu a parceria, alegando que haveria irregularidades no contrato, e decidiu assumir o controle das unidades de pronto atendimento. A Cruz Vermelha ainda estuda medidas judiciais contra a Secretaria de Saúde por conta do rompimento do contrato. A entidade alega ter cumprido todos os itens previstos no acordo e afirma não ter recebido nenhuma justificativa oficial para o cancelamento do negócio.
Os pacientes que dependem do Hospital de Samambaia reclamam do fechamento da pediatria da unidade e temem que a medida traga transtornos a quem precisa de atendimento. A auxiliar administrativa Marineide dos Santos Bastos, 28 anos, é mãe do pequeno Isaac, de apenas quatro meses. Na manhã de ontem, ela foi à unidade de Samambaia em busca de atendimento para o menino. ;A gente já tem pouca opção, se fecharem a pediatria do Hospital de Samambaia vai ser muito ruim. Às vezes a gente precisa de exames, de fazer raio X, e isso normalmente não é oferecido nos postos de saúde;, diz Marineide.
Mãe de Cauã, de um ano e três meses, Thauane Aparecida Santana, 20 anos, mora em Taguatinga, mas vai a pé para o Hospital de Samambaia, que fica próximo de sua casa. ;Quando o meu filho fica doente, venho direto para cá. Mesmo que tenha médicos para fazer consultas nessa UPA, é importante ter um lugar para internar as crianças que precisarem. Isso traz tranquilidade para os pais;, afirma a jovem.
1 - Reforço na rede
Os locais onde há previsão de construção de UPAs ainda este ano são Samambaia, Recanto das Emas, São Sebastião, Núcleo Bandeirante, Arapoanga, Taguatinga, Ceilândia e Sol Nascente. Os recursos para a edificação das instalações são repassado pelo Ministério da Saúde.