Jornal Correio Braziliense

Cidades

Comemoraões do Dia da Independência levam mais de 30 mil à Esplanada

Isso, apesar do calor e da baixa umidade relativa do ar

; Leilane Menezes
; Roberta Machado
; Mariana Branco


A aparência do cenário no início da manhã era de deserto e de seca total, mas, aos poucos, com a chegada do público à Esplanada dos Ministérios, o centro de Brasília ganhou cores. A grama quase sem verde, coberta pelo marrom da terra, começou a receber gente ainda cedo, antes das 7h. Todos queriam um bom lugar para ver a apresentação de Sete de Setembro. Mesmo diante da baixa umidade relativa do ar, que chegou a 18% em um dos momentos mais críticos, e da temperatura elevada, mais de 27;C no fim da manhã, entre 30 mil e 35 mil pessoas assistiram ao desfile do Dia da Independência, segundo a Polícia Militar. Pelo menos 71 passaram mal e foram atendidas pelo Corpo de Bombeiros.

O desfile começou no horário marcado, perto das 9h. O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, como de praxe, foi o primeiro a saudar a plateia, de dentro do Rolls Royce da Presidência, ao lado da primeira-dama do Brasil, Marisa Letícia. Havia 17 ministros de Estado e o governador do DF, Rogério Rosso, entre as autoridades presentes.

Muitos candidatos em campanha política aproveitaram o clima de festa para se promover. Para onde quer que o público olhasse, lá estavam bandeiras de vários partidos. O chão ficou tomado de panfletos dos mais diversos tipos e cores. Alguns partidários usaram inclusive megafones e pequenos carros de som para chamar a atenção do eleitor.

Quem vai votar nas próximas eleições também se manifestou. Uma família da Asa Norte mandou fazer duas faixas com os dizeres: ;Só votamos em ficha limpa; e ;Queremos fechar a Câmara Legislativa;. ;Estamos indignados com essa situação e, por isso, resolvemos protestar no desfile. É uma boa ocasião;, explicou a relações públicas Elma Bezerra, 49 anos, ao lado do irmão , Carlos Bezerra, 44, e dos filhos dele, Gabriel, 12, e Mateus, 13.

Animação
Mas era do lado de fora da tribuna presidencial, longe da formalidade das autoridades e da campanha, que a festa parecia mais animada. O povo se aglomerou para ver a passagem de militares, o fogo simbólico, a pirâmide humana do Batalhão de Polícia do Exército de Brasília, os veteranos brasileiros da 2; Guerra Mundial, a Esquadrilha da Fumaça, além de alunos de várias escolas do DF. No total, 3,5 mil militares e 600 civis, entre crianças e integrantes de grupos culturais, desfilaram na Esplanada dos Ministérios. Ao fim da festa, sete aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) tomaram o céu de Brasília com as famosas acrobacias e desenhos feitos no ar.

Muitas pessoas também fizeram quentinhas com lanches, levaram refrigerante e cerveja. A dona de casa Tereza França veio de Uberlândia (MG) para passar o feriado ao lado da filha e ver a comemoração. A família dela foi uma das primeiras a chegar, por volta das 7h. ;Acordamos bem cedo para pegar o melhor lugar. Viemos do Gama. Minha filha mora aqui, mas eu nunca tinha vindo nesta época. Fiquei impressionada;, empolgou-se Tereza. O genro dela, Kevin Beaudoin, 22 anos, norte-americano e de passagem pelo Brasil, também participou da manifestação verde-amarela de patriotismo. ;Adorei cada minuto. Os tanques de guerra são incríveis. Sou militar e gostei muito;, disse.

O cinegrafista Stevam Virgínio, 22 anos, morador de Vicente Pires, vai todo ano ao desfile cívico-militar, desde que tinha apenas 4 anos. ;Desde pequeno sou apaixonado pela festa, em especial pela Esquadrilha da Fumaça;, detalhou. A paixão pelo desfile passa de geração para geração na família. ;Minha mãe vem todo ano, há duas décadas;, contou. Ele levou o filho João Pedro, 2 anos, a mulher, a irmã e sobrinhos.

O calor imposto pela seca, no entanto, atrapalhou a festa de algumas pessoas. A família de Emília Gomes, 78 anos, teve de abandonar o desfile antes da exibição da Esquadrilha da Fumaça porque ela passou mal. Vindos de Ituiutaba (MG), os mineiros não estavam habituados com o clima da capital federal e não tomaram os cuidados necessários. ;Bebemos água, mas não muita. Nos falaram que o tempo era seco, mas não achava que era tanto;, lamentou a nora de Emília, a manicure Vivian Maria de Oliveira, 45 anos.

Improviso
A fila para conseguir entrar em um dos acessos das arquibancadas era grande até o meio do desfile. Quem ficou do lado de fora teve de se contentar em ouvir a narração e ver as imagens por meio do sistema de som e três telões. Algumas pessoas, como o morador de Formosa Elton Soares, 58 anos, subiram nas árvores para acompanhar a festa. A montagem da festa custou R$ 999,7 mil e a empresa responsável foi escolhida por pregão eletrônico.

A festa terminou pouco antes das 12h. Mas levou cerca de duas horas para que os mais de 30 mil espectadores deixassem a Esplanada. Quem preferiu ir ao desfile de carro, teve de estacionar em locais mais distantes. Ônibus e metrô também serviram como alternativa de transporte.

OMS
Pela escala da Organização Mundial de Saúde (OMS),
índices de umidade relativa do ar inferiores a 30% são considerados preocupantes. Já os entre 20% e 30% indicam estado de atenção e entre 12% a 20%, de alerta. Abaixo de 12%, o sinal é de alerta máximo. O DF está sem chuva há 103 dias.


Pátria minha
; O servidor público Alexandre Ferreira, 45 anos, morador da Asa Norte, esperou ansioso por um dos grandes momentos do desfile cívico-militar: a apresentação da Esquadrilha da Fumaça. Ele queria mostrar ao filho, Lucas Ferreira, 4 anos, a habilidade dos pilotos da Força Aérea Brasileira (FAB). ;Meu pai é piloto particular. Quando eu era criança, ele me levava para ver os aviões, e eu me apaixonei. Meu filho compartilha do mesmo amor. A gente adora o barulho dos Mirages (tipo de avião conhecido por ser muito veloz), as manobras, os desenhos no ar;, afirmou Ferreira. Ele e o filho chegaram por volta das 9h à Esplanada dos Ministérios. Lucas acompanhou tudo montado nos ombros do pai. Queria ver seus ;super-heróis; em ação. Alexandre preparou Lucas para o que o menino viu no feriado da Independência do Brasil. ;Domingo passado, fomos até a base aérea de Anápolis, em Goiás, onde ficam guardados os Mirages. Estava aberto à visitação e mostrei de perto para ele. Foi emocionante vê-los no ar. Lucas vibrou o tempo todo;, contou o pai. A criança viu as manobras pela segunda vez, mas com o mesmo entusiasmo da primeira. Ao final da apresentação, Lucas já sabia o que queria ser quando crescesse. ;Quero ser piloto de Mirages;, disse. (LM)

; O funcionário do Ministério da Defesa Gilmar Antônio Silveira, 47 anos, teve um motivo muito especial para levar a filha Júlia Gabriela Silveira, 5 anos, ao desfile da Independência neste ano. Ele fazia questão de mostrar à pequena a Pirâmide Humana do Batalhão de Polícia do Exército Brasileiro, que consiste em algumas dezenas de homens em formação piramidal sobre uma motocicleta. O milagre de equilíbrio é uma das atrações mais apreciadas da celebração do Sete de Setembro. Gilmar tem uma razão pessoal para se empolgar com o espetáculo: em 1997, ele foi um dos 47 homens que desfilou sobre a moto. Naquele ano, o Batalhão de Polícia do Exército executou um recorde que garantiu sua inscrição no Guinness Book, o Livro dos Recordes, apresentando a maior quantidade de pessoas participando desse tipo de número na história. ;Ela gosta das motos porque sabe que o papai já fez igual;, contou, orgulhoso. O servidor público revelou que Júlia também aprecia aviões. Ontem, além de curtir a festa e se encantar com a Esquadrilha da Fumaça, a menina se divertiu fazendo bolinhas de sabão. ;Chegamos cedo, às 6h, mas ela não parava nas arquibancadas. Então, eu a trouxe para brincar no gramado e vimos o desfile pelo telão. Acho que criança se diverte mais assim, fica mais solta;, comentou Gilmar. (MB)

; Servidor público federal aposentado, professor de esperanto, jardineiro e aspirante a ator. Todas essas qualificações se aplicam a Amarílio Carvalho, 77 anos, que veio da cidade de Barra do Garças, em Mato Grosso, especialmente para prestigiar a festa do Dia da Independência do Brasil em Brasília. Esse é o oitavo ano em que ele vem à capital federal para a festa cívica. Chamando a atenção de todos por estar vestido com uma bandeira do Brasil e usando peruca colorida, o mato-grossense contou à reportagem que o motivo da assiduidade é o amor à pátria. ;Também venho todo 21 de abril, Dia de Tiradentes, para fazer meu monólogo;, contou. Que monólogo é esse? ;Todo Sete de Setembro e 21 de abril, eu conto a história da vida de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes;, revelou Amarílio, referindo-se ao ativista político mineiro morto em 1742 por discordar da política tributária do Brasil colonial. ;Ele pregou o amor ao Brasil e, hoje, 90% dos políticos do país prega é a corrupção;, sentenciou. Amarílio Carvalho anunciava para os muitos curiosos que paravam para vê-lo que a apresentação aconteceria hoje, em um auditório do Museu Nacional da República. ;Só para dar um toque. Joaquim José nunca é homenageado nos desfiles cívicos, e foi um grande patriota.; (MB)

Protesto popular
; O movimento social suprapartidário Roriz Nunca Mais liderou o tradicional Grito dos Excluídos, evento organizado todo 7 de setembro em diversas cidades brasileiras há mais de 15 anos. Jovens se reuniram em frente à Catedral Metropolitana de Brasília a partir das 8h para questionar a validade da candidatura do ex-governador Joaquim Roriz e clamar pelo limite da propriedade de terra. Formada por 23 entidades, entre elas o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), a Central Única dos Trabalhadores
(CUT) e o Sindicato dos Professores do Distrito Federal
(Sinpro-DF), a mobilização também recebeu apoio de vários políticos candangos em campanha. (RM)



Criançada empolgada
Caças, helicópteros e aeronaves em geral. Foram as atrações que mais encheram os olhos da criançada no desfile de 7 de setembro. Eles curtiram as apresentações de bandas marciais, grupos culturais e o desfile de tanques e tropas. Mas nada se comparou ao encantamento dos pequenos quando os aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal e da Polícia Militar do DF cruzaram os céus da Esplanada dos Ministérios pouco depois das 9h40. O entusiasmo atingiu o auge por volta das 11h, no momento em que os tucanos da Esquadrilha da Fumaça entraram em cena.

;Quero ver aqueles aviões que fazem desenho no ar;, respondeu sem titubear Bruno Juan Araújo Rodrigues, 8 anos, quando questionado sobre sua parte favorita no desfile da Independência. ;Eu também gosto da Esquadrilha da Fumaça;, ecoou o irmão mais novo dele, Daniel Alejandro Araújo Rodrigues, 7. ;É uma tradição de família vir. Trago eles quase todos os anos, e os dois passaram a última semana me cobrando;, contou o pai da dupla, o auxiliar administrativo Cledemilton Rodrigues dos Santos, 31 anos. A família mora em Planaltina e, para não perder nada da festa cívica deste ano, saiu de casa às 6h20 da manhã ontem.

Teresa Juventino Tonoli Braga, 10 anos, veio de ainda mais longe para conferir o desfile, igualmente atraída pelos aviões. A criança e o tio, o técnico agrícola Gilberto Tonoli Braga, 27, chegaram tarde à Esplanada dos Ministérios e, por isso, tiveram de subir em uma árvore para não perder nada do que acontecia no Eixo Monumental, onde se exibiam atrações uma após a outra. ;Venho desde 2003. Estou esperando principalmente a Esquadrilha da Fumaça, mas gosto de tudo;, disse a menina.

Democracia
Moradores do Lago Sul, os irmãos Bernardo e Milena Fortes Galvão, de 7 e 10 anos, chegaram às 9h30 à Esplanada acompanhados da mãe, a professora Mariana Fortes, 34 anos. A família não se animou a enfrentar a fila para as arquibancadas e, por isso, as crianças tiveram que se contentar em ver o desfile pelo telão. ;Perto do cercado tem muita gente. A minha mãe me colocou no ombro, mas eu sou muito pesado e ela não aguentou muito tempo;, contou Bernardo, que se entusiasmou com a marcha dos militares. Mas, como a irmã, não escondeu a preferência pelas aeronaves. ;Acho que, no fim, todo mundo vem por conta disso. É a atração mais democrática, todo mundo consegue ver;, avaliou a mãe.

Por fim, pouco após as 10h, o desejo dos pequenos de ver o show aéreo começou a ser satisfeito. As arquibancadas ficaram vazias e, munido de máquinas fotográficas, o público correu para o gramado. Primeiro, entrou o Batalhão Planalto, da FAB, com caças dos modelos KC-130, F-2000 e F-5M, todos de combate. Depois, foi a vez da aeronave de abastecimento Hércules se exibir, acompanhada de jatos supersônicos. Helicópteros dos bombeiros e da Polícia Militar também se apresentaram. E a festa foi encerrada pela Esquadrilha da Fumaça. (MB)


Espetáculo nos céus
A Esquadrilha da Fumaça, da Força Aérea Brasileira (FAB), existe desde a década de 1950. As apresentações começaram no Rio de Janeiro. Em ocasiões especiais, os pilotos dão demonstrações de habilidade escrevendo mensagens com fumaça no ar e executando manobras. A técnica que faz os aviões expelirem fumaça consiste em um tanque com óleo ligado por uma mangueira ao escapamento da aeronave. Acionado pelo piloto, o óleo é injetado no escapamento direito, o mais quente. No ar, o óleo se condensa, transformando-se em fumaça.


Opções de lazer longe do centro
; Mariana Sacramento
Sol forte e muito calor marcaram o feriado da Independência na capital federal. A fim de se refrescar, muitos brasilienses deixaram o civismo de lado e aproveitaram o tempo livre às margens do Lago Paranoá e nos parques da cidade. Os portões da Água Mineral, no Parque Nacional de Brasília, foram fechados por volta das 11h. Isso porque a quantidade de visitantes ultrapassou a capacidade da reserva, que é de 3 mil. ;Abrimos uma exceção para evitar tumultos;, explicou a brigadista Carmen Lídia Mascarenhas, 29 anos. Mais de 4,7 mil pessoas curtiram o dia de folga nas piscinas de águas naturais. A movimentação também foi intensa no Parque da Cidade e no Piscinão do Lago Norte.

Nem mesmo a fila quilométrica que se formou em frente a entrada da Água Mineral estragou o programa da família do funcionário público Rafael dos Santos Ferreira, 49 anos, para esse feriadão. ;Saímos de casa, em Taguatinga Sul, cedo, às 7h30, mas não adiantou. O jeito é esperar;, disse ele. Cadeiras de sol, chapéus e toalhas de banho a postos, pai, mãe, e filhas aguardavam pacientemente o momento de entrar na reserva. ;O que a gente não faz por essas meninas?;, perguntou Inácia Nery de Oliveira, 47 anos, referindo-se às filhas Isabela e Rafaela, 9 e 15 anos, respectivamente.

Parque da Cidade
Já os pais de João Paulo, 4 anos, o supervisor de logística Humberto Júnior da Silva, 29, e a cabeleireira Claudete Rodrigues de Carvalho, 41, mudaram de ideia quando se depararam com a multidão na porta do Parque Nacional de Brasília. ;Resolvemos tomar banho aqui no Lago Paranoá, que é mais tranquilo. Evitamos também o desfile de 7 de setembro na Esplanada dos Ministérios por conta do calor;, contou a mãe, moradora do Riacho Fundo II. Cerca de 200 pessoas também escolheram o mesmo lugar para passar o dia livre.

No Parque da Cidade, brasilienses disputavam as sombras das árvores, enquanto os termômetros marcavam 24,4;C por volta das 12h. Familiares e amigos da dona de casa Cláudia Maria da Conceição, 43 anos, moradora do P Sul, em Ceilândia, decidiram fazer um almoço completo em frente ao laguinho. ;É bom para descansar, relaxar e fugir da pressão do dia a dia;, explicou. No cardápio, galinhada, salada e melancia de sobremesa.

Já a criançada da turma se esbaldou na areia do parque Ana Lígia. Depois de brincar em todos os brinquedos, o pequeno Vinícius de Sousa, 5 anos, deu uma pausa para se refrescar na ducha ao lado do Quiosque do Atleta. ;Ele estava com medo porque a água está muito fria. Agora que se acostumou não quer mais sair;, contou a tia, Antônia Maria de Sousa.