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Vendas de carros estão em alta, apesar do fim do IPI

Apesar de a desoneração tributária ter acabado em março, comércio de veículos 0km fecha o período de janeiro a agosto com crescimento de 1,96%. Média é de 9,4 mil carros por mês


O encerramento definitivo, em março deste ano, do benefício fiscal de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente em veículos 0km não prejudicou as vendas do setor no Distrito Federal. Pelo contrário. Dados do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos Autorizados do DF (Sincodiv-DF) apontam, de janeiro a agosto deste ano, um crescimento do mercado. Enquanto nos oito primeiros meses de 2009 foram emplacadas 73.737 unidades, em 2010 foram 75.188, uma expansão de 1,96%. Em todo o país, a expansão foi ainda maior, de 10% ; 3,4 milhões de unidades comercializadas nos oito primeiros meses deste ano, contra 3,09 milhões no mesmo período de 2009.

Na comparação de agosto deste ano com o mesmo mês do ano passado, os números são mais surpreendentes. Um total de 11.267 unidades zero saíram das lojas no último mês, volume 29,26% maior do que os 8.732 veículos vendidos em agosto de 2009. A análise do comportamento do mercado de automóveis zero mês a mês em 2010 aponta que a ausência da vantagem fiscal após março foi sentida pelas concessionárias apenas em curto prazo. A recuperação nos meses subsequentes foi suficiente para que os resultados deste ano superassem os registrados no período em que havia a vantagem da desoneração.

Março deste ano, o último mês do benefício, teve o melhor desempenho de 2010, com 12.378 unidades vendidas (veja quadro), patamar 18,57% superior ao alcançado em igual período do ano anterior. Em abril, primeiro mês sem a redução fiscal, as vendas ainda estavam aquecidas: 54,33% superior ao mesmo mês de 2009. Já em maio, houve queda de 17,1%. No mês seguinte, as vendas de veículos 0km no DF sofreram retração de 22,5%. A reabilitação do mercado, no entanto, veio nos meses de julho e agosto. No sétimo mês do ano, a redução nas vendas foi menos intensa, de 4,3%. Em agosto, houve forte alta de 29%, na comparação com o mesmo período de 2009.

Análise
Para o diretor de vendas do Sincodiv-DF, Hélio Aveiro, o cenário favorável mesmo após o fim da redução do IPI é resultado do momento econômico vivido pelo país. Ele cita a estabilidade no emprego e o aumento da massa salarial como fatores determinantes para que o brasileiro continuasse sentindo-se seguro para adquirir o carro zero. ;Não fosse o fato de julho ter sido um mês de férias, com muitas pessoas fora de Brasília, teríamos conseguido vender mais ainda. Nossa expectativa é fechar o ano muito bem;, afirmou. Aveiro disse ainda que os empresários do segmento automotivo fizeram promoções agressivas após o fim da desoneração, o que contribuiu igualmente para que as vendas se mantivessem em um bom patamar.

Para o economista Roberto Piscitelli, professor da Universidade de Brasília (UnB), os números divulgados pelo Sincodiv-DF são a comprovação de que a desoneração do IPI incidente sobre os carros ao longo de um período superior a 12 meses (leia na Memória) foi desnecessária. ;Foi dinheiro (público) jogado fora. As pessoas estão comprando com ou sem IPI porque a economia está aquecida. A medida foi prorrogada exageradamente. Discriminou atividades, setores e prejudicou o contribuinte;, defendeu.

Sem IPI reduzido, a pedagoga Luciana Donizeti, 33 anos, adquiriu ontem seu primeiro carro 0km. Radiante, ela disse que pesquisou antes de fechar negócio e que a valorização do seu veículo usado, aliada a pequenas vantagens oferecidas pela concessionária ; emplacamento e acessórios como trava elétrica gratuitos ;, fez a diferença na hora da escolha. ;Foi isso que me fez decidir. As condições de financiamento estão muito parecidas em todo lugar. Venda sem entrada, prazos longos, você vê que todo mundo quer vender;, relatou a pedagoga, que não trocou o carro nos meses de desoneração tributária porque, à época, não tinha condições financeiras.






Memória
Medida pós-crise
A medida de reduzir o IPI sobre veículos 0km foi adotada pelo governo a fim de proteger a indústria automobilística, afetada pela crise econômica mundial, que estourou em outubro de 2008. Após os seis meses propostos inicialmente ; de janeiro a junho de 2009 ;, a vantagem tributária foi prorrogada duas vezes. A primeira, até dezembro do ano passado. Depois, até o fim de março deste ano.

A partir de 1; de abril, as alíquotas voltaram aos índices originais para a maioria dos modelos de carros. Entretanto, inicialmente até o fim de junho, a desoneração total foi mantida para caminhões, tratores e reboques. Nas proximidades de a data de expirar, foi estendida pelo Ministério da Fazenda até 31 de dezembro deste ano. De acordo com a própria Fazenda, a renúncia fiscal resultante do incentivo aos caminhões e máquinas agrícolas será de R$ 280 milhões. Hoje, as alíquotas de IPI para automóveis variam de 7% a 13%. (MB)