Jornal Correio Braziliense

Cidades

Consórcio, o lance que atrai os jovens

Nos últimos cinco anos no DF, quase dobrou a participação de clientes com até 30 anos nessa modalidade de compras

Com dinheiro no bolso e sem muita pressa para conquistar o primeiro bem, jovens brasilienses redescobriram os consórcios como alternativa para começar a construir um patrimônio. Dados levantados a pedido do Correio mostram que a participação de clientes com até 30 anos praticamente dobrou desde 2005 nas principais administradoras que atuam no Distrito Federal. Atentas a uma tendência que se consolida no país inteiro, as empresas do segmento transformaram a juventude em público-alvo.

Após um período no limbo, por conta de fraudes que causaram desconfiança, os consórcios retomaram o fôlego com mais intensidade nos últimos cinco anos, principalmente a partir de 2008, com a publicação da Lei dos Consórcios(1). Bancos entraram de vez na disputa pelo mercado e ajudaram o setor a bater recordes. Em junho, de acordo com a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), o número de consorciados ativos no Brasil atingiu 3,8 milhões, salto de 6% em relação ao mesmo período de 2009. No mesmo mês, a venda de novas cotas ultrapassou a marca de 1 milhão, aumento de 10,1% ante junho do ano passado.

O incremento da renda e a estabilidade econômica são alguns dos motivos que, na avaliação de especialistas, explicam o ressurgimento dos consórcios como fortes concorrentes dos financiamentos tradicionais. Com mais segurança financeira, clientes ; e principalmente os jovens ; têm se importado menos em esperar para serem contemplados com automóveis, imóveis ou eletroeletrônicos. ;Estamos vivendo uma mudança de cultura. O jovem passou a enxergar as vantagens do consórcio;, diz a presidente da Abac para as regiões Norte e Centro-Oeste, Elis Régia Alves dos Reis.

Enquanto financiamentos cobram juros que superam os 3% mensais, consórcios oferecem taxas de administração com variação de 14% a 16%, o que pode resultar em taxas anuais inferiores a 1%, a depender do tamanho do parcelamento. Na segunda opção, porém, o comprador pode levar anos para conquistar o bem desejado. ;Não tinha pressa, por isso, fiquei tranquila;, conta a secretária Ana Paula Magalhães, 21 anos, que na sétima das 60 parcelas de R$ 520 que contratou foi sorteada com um carro. ;Eu só gastava meu dinheiro. Então, não tinha nada a perder;, completa a moça, que entrou no consórcio incentivada pela irmã mais velha.

Taxa vantajosa
A opção fará Ana Paula economizar R$ 7 mil, nas contas dela. ;Com a taxa de administração, vou pagar R$ 38 mil pelo mesmo carro que, com o financiamento tradicional, sairia por R$ 45 mil na concessionária;, compara a jovem, que planeja comprar outra cota para trocar de veículo. Segundo uma pesquisa encomendada pela Abac, clientes entre 20 e 30 anos representavam, em 2009, 21% dos consorciados de automóveis no país, contra 10% em 2006. No caso dos contratos de imóveis, a participação da juventude era de 15%, salto de 7% na comparação com três anos atrás.

Pelo menos 20 administradoras de consórcios atuam no DF, sendo oito delas com sede na capital federal. Para o mercado, mais jovens na base de clientes significa aumento do potencial de recompra. Na Caixa Consórcios, criada em 2002, 14% dos 3.919 consorciados ativos têm até 30 anos. Em 2006, essa faixa etária respondia por 6,5% do total de 2.224 clientes. Em termos absolutos, o número de jovens brasilienses que fecharam negócio na empresa pulou de 144 para 548, variação de 280%. ;Há espaço para mais crescimento. Muitos jovens ainda não conhecem o consórcio;, avalia o diretor operacional, Antônio Limoni.

Na Caixa Consórcios, as cartas de crédito variam de R$ 30 mil a R$ 300 mil para imóveis e de R$ 23,3 mil a R$ 42,5 mil para carros. Os planos vão de 120 a 150 meses, com base no valor contratado. Quase sempre incentivado pelos pais, o jovem aprendeu a encarar o consórcio como uma poupança forçada. ;A juventude está mais bem empregada hoje em dia. Tem mais oportunidade para conseguir renda própria;, observa Limoni.


1 - Mais rigor
A Lei 11.795, de 8 de outubro de 2008, dispõe sobre o sistema de consórcios em todo o país. A legislação tornou mais rígida a fiscalização em torno das administradoras. O Banco Central passou a ser o responsável pelo controle das atividades, na tentativa de coibir irregularidades.

Comparação

Caixa Consórcios

2006
Base de clientes ; 2.224
Até 30 anos ; 144 (6,5%)

2010
Base de clientes ; 3.919
Até 30 anos ; 548 (14%)

Em números absolutos, avanço de 280% no período.

Bancorbrás

2005
Base de clientes ; 4.700
Até 30 anos ; 385 (8,2%)

2010
Base de clientes ; 8.000
Até 30 anos ; 1.168 (14,6%)

Em números absolutos, avanço de 203% no período.


O valor da estabilidade
Thiago Franco foi contemplado com uma quitinete no Sudoeste e logo em seguida a alugou


Os dados mais recentes da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) do DF indicam que o rendimento médio mensal dos ocupados entre 20 e 30 anos é de R$ 1.175, enquanto os assalariados da mesma faixa etária ganham, em média, R$ 1.218. ;Especialmente em Brasília, a segurança financeira dos jovens permite que eles se programem melhor e façam mais investimentos. O mercado da cidade é muito promissor para as administradoras;, atesta Elis Régia, presidente da Abac na região.

Thiago Franco, 29 anos, passou em concurso público em 2006. Dois anos depois, assumiu as parcelas do consórcio iniciado por um amigo. ;Peguei para ajudá-lo. Não sabia muito bem como funcionava;, confessa o jovem que, na quarta parcela, foi contemplado com uma quitinete no Sudoeste, que não teve dificuldade para alugar. ;Dei sorte e gostei da ideia. É fácil administrar um consórcio, porque as parcelas são fixas e os juros, mais baixos.;

Nos consórcios de imóveis, o forte da Bancorbrás ; empresa há 25 anos no mercado candango ;, a participação de clientes até 30 anos saltou de 8,2%, em 2005, para 14,6%, este ano (veja quadro Comparação). ;Temos visto jovens que começam a estudar, entram num consórcio e saem da universidade já com o primeiro imóvel;, comenta o superintendente Nelson Cocco. As cartas de crédito na Bancorbrás variam de R$ 70 mil a R$ 500 mil.

Para Francisco Ferraz, diretor comercial da Ferraz Consórcios, empresa com 3 mil clientes, a juventude tende a movimentar ainda mais do setor nos próximos anos. ;O jovem está aprendendo a assumir compromissos;, percebe ele, que presidiu a Abac entre 2008 e 2009. ;Se todo mundo quiser apartamento na planta, os valores vão continuar subindo. Por que a compra tem que ser imediata? Se o jovem conhecer as vantagens dos consórcios, não terá necessidade de lotar os lançamentos e pagar mais caro;, provoca Ferraz, acirrando a concorrência com os financiamentos tradicionais. A Ferraz oferece cartas de créditos para imóveis com mensalidades de R$ 400 a R$ 2 mil, pagas entre 120 e 180 meses. (DA)


Especialmente em Brasília, a segurança financeira dos jovens permite que eles se programem melhor e façam mais investimentos;
Elis Régia Alves dos Reis, presidente da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios para o Norte e o Centro-Oeste

Dicas

; Leia com atenção o contrato e peça todos os esclarecimentos à administradora.

; Desconsidere qualquer promessa verbal feita pelo vendedor. Todos os direitos e deveres devem estar previstos em contrato.

; Se ficar inadimplente, procure a administradora para renegociar a dívida. Outra opção é transferir a cota para outra pessoa.

; Só adquira cotas em administradoras credenciadas no Banco Central. A lista consta no site www.bcb.gov.br, no link Serviços ao cidadão, no item Consórcio.

; Outras informações pelo site da Abac (www.abac.org.br) ou pelo telefone (11) 3231-5022.


Tira-dúvidas

O que é um consórcio?
Consórcio é um grupo fechado, formado com a finalidade de criar uma poupança destinada à compra de bens (veículos, motos e eletroeletrônicos), imóveis ou serviços turísticos.

Como funciona?
É uma espécie de condomínio. Os participantes, chamados consorciados, pagam uma mensalidade pré-determinada. Uma vez por mês, o valor arrecadado, que equivale ao número de bens a serem distribuídos, é sorteado entre eles.

Quem administra e fiscaliza os consórcios?
Empresas credenciadas, que cobram taxas de administração. A fiscalização fica por conta do Banco Central.

Como é feito o cálculo das prestações?
A prestação mensal é composta pelo fundo comum (valor do bem), fundo de reserva (se existente), pelo seguro (se contratado) e pela taxa de administração (que varia de acordo com o tipo de bem e o prazo do consórcio).