Jornal Correio Braziliense

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Depois de um ano, caso Villela ainda está sem solução

Com paranormais, denúncias de falsas provas e de tortura, polícia aponta a filha dos Villela como a principal suspeita das mortes, mas o inquérito continua aberto

Com mais dúvidas que respostas, a investigação do triplo homicídio da 113 Sul se arrasta há um ano e arranha a imagem da Polícia Civil do Distrito Federal. Agentes que começaram a apuração são acusados de plantar provas, dificultar o trabalho de colegas e até de torturar inocentes para que confessassem o crime, beneficiando, assim, os verdadeiros autores. Além de perder o caso, alguns integrantes da 1; Delegacia (Asa Sul) passaram à condição de investigados, após a perícia apontar que a chave do apartamento onde ocorreu o crime ; o 601/602 do Bloco C da SQS 113 ; havia sido colocada propositalmente em uma quitiniete de Vicente Pires.

Desde o início da apuração, a polícia deteve 10 pessoas. Dessas, cinco homens chegaram a ser apontados como suspeitos de, em 28 de agosto do ano passado, terem executado a facadas o casal de advogados José Guilherme Villela e Maria Carvalho Mendes Villela e a principal empregada deles, Francisca Nascimento da Silva. Mas os acusados acabaram soltos por falta de provas. Entre eles, Cláudio José de Azevedo Brandão, 38 anos, Alex Peterson Soares, 23, e Rami Jalau Kaloult, 28. Os dois últimos moravam na quitinete de Vicente Pires onde, em novembro, a delegada Martha Vargas, então chefe da 1; DP, anunciou ter achado a chave do apartamento dos Villela. Cláudio era vizinho deles. Os três rapazes ficaram presos por um mês e a delegada chegou a garantir que o triplo homicídio estava praticamente solucionado. Tudo com base em conselhos de uma suposta paranormal.

No entanto, ao assumirem o caso, os policiais da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida) descobriram que, na verdade, a mesma chave apreendida no imóvel dos acusados havia sido fotografada pela perícia no apartamento das vítimas no dia em que os corpos foram encontrados, 31 de agosto de 2009. O suposto encarregado de plantar a prova contra os três rapazes seria o agente José Augusto Alves, 41 anos, braço direito de Martha Vargas quando ambos trabalhavam na 1; DP. Na semana passada, ele acabou preso com a filha do casal Villela, a arquiteta Adriana Villela, 46 anos, e outras três pessoas, sob a acusação de atrapalhar as investigações.

A filha dos Villela está detida há 12 dias. Além dela e de José Augusto, foram presos Guiomar Barbosa da Cunha, 71 anos, ex-faxineira do casal Villela, a vidente Rosa Maria Jaques, 61, e o marido dela, João Tocchetto, 49. Os investigadores da Corvida acusam Adriana de tramar com Rosa Maria a fraude da suposta chave do apartamento dos Villela que incriminou os três moradores de Vicente Pires.

Dinheiro
Há uma semana, a diretora adjunta da Corvida, Mabel Alves de Faria, quebrou o silêncio. Em entrevista coletiva, a delegada reafirmou que Adriana Villela é a única suspeita de ser a mentora do crime. ;E não podemos descartar a possibilidade de ela (Adriana) ter participado da execução;, disse Mabel. No entanto, o inquérito não está concluído e a polícia, até agora, não divulgou provas contundentes da autoria do crime. No mesmo dia em que a delegada veio a público, Carolina e Augusto Villela, filha e irmão de Adriana, respectivamente, divulgaram nota em repúdio às acusações da polícia contra Adriana.

No despacho em que decretou a prisão temporária do grupo dos cinco, o juiz Fábio Francisco Esteves, do Tribunal do Júri de Brasília, afirmou haver indícios contra Adriana Villela. A filha de José Guilherme e Maria Carvalho teria interesse no patrimônio milionário dos pais. ;Os indícios de envolvimento de Adriana na morte dos pais e de Francisca assentam-se em provas testemunhais que atestam os conflitos por dinheiro entre ela e o pai;, escreveu o magistrado.

A situação da filha dos Villela se complicou quando os agentes apreenderam duas cartas, no escritório dos pais, em 27 de outubro de 2009. O teor delas revela, segundo a polícia, conflito entre Adriana e sua mãe por causa dos bens da família. Fábio Esteves destacou que Adriana, segundo testemunhas, vinha se desentendendo principalmente com Maria Carvalho, ;administradora das finanças do casal;.

O juiz apontou outras questões que implicariam Adriana. ;Há provas materiais, impressões digitais no apartamento das vítimas, local que (Adriana) pouco frequentava, além de sua extrema mobilização no dia do crime, a fim de criar um álibi, findando com a constatação de seu nada usual comportamento;, observou.

Dos cinco presos temporariamente, apenas a filha dos Villela continua detida no Presídio Feminino do Distrito Federal, no Gama. Os outros tiveram o pedido de habeas corpus (HC) aceito ao longo da semana. O de Adriana foi negado em caráter liminar. Havia a expectativa de que o mérito do HC de Adriana fosse julgado na última quinta-feira pela Primeira Turma Criminal do Tribunal de Justiça do DF e Territórios. No entanto, a procuradora Marinita Maria Silva só entregou o seu parecer sobre o caso ontem. O desembargador relator não estava mais na Corte, mas o processo foi encaminhado para a casa dele. A próxima sessão da Turma Criminal, porém, só está prevista para 2 de setembro (1).

Nos três meses em que o caso esteve sob responsabilidade da delegada Martha Vargas e sua equipe, os agentes da 1; DP ora trabalhavam com a hipóteses de crime encomendado, ora com latrocínio (roubo com morte), ora com ambas. De qualquer forma, sempre faltaram provas para sustentar uma delas. O que mais dificultou o trabalho de investigação foi a ausência de uma testemunha-chave. Não apareceu ninguém que tenha visto ou ouvido algo da ação criminosa, apesar de as três pessoas terem sido mortas em um prédio com 36 apartamentos e num horário de grande movimento.

1 - Votação na OAB
Também em 2 de setembro, a Ordem dos Advogados do Brasil, seção Distrito Federal (OAB-DF), vai votar se há motivos que justifiquem a intervenção nas investigações, pedida pela defesa de Adriana Villela. Em documento entregue à entidade, os advogados da arquiteta afirmam que os policiais primeiro a elegeram como suspeita para, depois, buscarem provas para a tese. Na mesma seção da Ordem, os conselheiros analisarão denúncia feita pelos três homens presos em Vicente Pires. Eles acusam agentes da 1; DP de os terem torturado para confessar a autoria do crime da 113 Sul.