Jornal Correio Braziliense

Cidades

Vidente envolvida em caso da 113 Sul dá consultas na prisão

Rosa Maria Jaques conquista uma nova clientela. Companheiras de detenção têm feito fila para ouvir as previsões da paranormal

O Presídio Feminino do Distrito Federal, conhecido como Comeia, nunca esteve tão alvoroçado. Detentas do Núcleo de Prisão Semiaberta (NPSA) têm feito fila para consultar o futuro. E não é por menos. Afinal, não é todo dia que elas dividem espaço com uma vidente conhecida nacionalmente e entrevistada em vários canais televisivos. E melhor: de graça. A responsável pelo feito é a paranormal Rosa Maria Jaques, 61 anos, presa há uma semana em Porto Alegre (RS) ao lado do marido, João Toccheto, 49 ; ambos são acusados de atrapalhar as investigações do crime ocorrido em 28 de agosto do ano passado, no Bloco C da 113 Sul. Rosa está na Comeia, localizada no Gama, desde a última quarta-feira. No fim de semana, uma presa teria pedido para Rosa Maria enxergar em que data ela ganharia a liberdade. A clarividente teria respondido: ;É... você vai ficar aqui por muito tempo;. Indignada, a mulher saiu resmungando: ;Ué, isso eu já sabia;.

A paranormal tem sido a distração do momento, segundo fontes policiais ouvidas pelo Correio. As consultas ocorreriam sempre durante o banho de sol, uma vez que Rosa Maria ocupa, sozinha, uma cela diferenciada na ala de detentas em regime semiaberto, aquelas que saem pela manhã para trabalhar e voltam às 18h para dormir no presídio. Embora seja famosa, o rosto da paranormal ainda não é conhecido por muitas das que passam o dia ali. Isso porque as 480 internas estão divididas em alas diferentes.

Rosa Maria e o marido são acusados de fraudar a existência de uma chave do apartamento da 113 Sul na casa de dois moradores de Vicente Pires. Em 31 de outubro de 2009, ela procurou a delegada Martha Vargas, então chefe da 1; DP (Asa Sul), para dizer que tinha a ;missão; de ajudar nas investigações dos homicídios do casal de advogados José Guilherme Villela e Maria Villela; e da empregada deles Francisca da Silva. No mesmo dia, a vidente, o marido, a delegada e o policial civil José Augusto Alves ; então braço direito de Martha ; foram ao imóvel dos Villela. Usando seus supostos dons de clarividência, Rosa teria visto pelos olhos do autor o local de sua residência.

Em abril deste ano, a polícia reconheceu que a chave encontrada em Vicente Pires teria sido plantada no local. O episódio se tornou uma das razões para a decretação, na semana passada, da prisão temporária de cinco pessoas ; a vidente e o marido, o policial José Alves, uma ex-faxineira dos Villela e a filha do casal assassinado, Adriana, que, aliás, é considerada pela Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida) a principal suspeita do crime.

No despacho em que decidiu pelas prisões, o juiz Fábio Esteves escreveu que Rosa Maria e Adriana Villlea se encontraram antes de a paranormal procurar a polícia. Segundo ele, o grupo agiu de forma ;orquestrada; para atrapalhar os trabalhos de apuração do caso.

A primeira experiência paranormal de Rosa Maria teria começado aos 6 anos. Só depois dos 20 anos, na década de 1970, ela começou a dar consultas de vidência. Mas, para a diretora adjunta da Corvida, Mabel de Faria, Rosa Maria Jaques ;não tem todos esses poderes que diz ter. Ela trabalhou durante toda a sua vida como estelionatária;. O pedido de habeas corpus da vidente e do marido ainda não foi julgado.

Visita de advogadas

Há uma semana detida na Comeia, Adriana Villela ainda não teve contato com as demais presas. Ela passa o dia em um quarto com cerca de 10 metros quadrados, antes reservado para encontros íntimos das detentas. Só fala com familiares e advogados que a visitam. O espaço fica praticamente ao lado da área do pátio onde a maioria das presas toma banho de sol. No local, apelidado de parlatório, não há chuveiro elétrico. A água para tomar banho é fria e desce por um cano instalado pouco abaixo da janela ; na verdade, alguns buracos por onde entra a luz do sol. O vaso sanitário é uma abertura no chão e fica no canto da parede, de frente para o local do banho. Não há pia. Uma parede separa o banheiro, chamado de boi, da cama de casal onde Adriana dorme.

Mesmo separada das demais detentas, Adriana segue uma rotina de restrições. Não tem acesso a jornais ou revistas nem assiste à televisão. Ontem, por volta das 13h, ela recebeu a visita de duas advogadas. Uma preferiu não se identificar. A outra se apresentou como a ex-deputada constituinte Moema São Thiago. Elas saíram do presídio no Gama depois de pouco mais de uma hora. ;Adriana está sendo vítima de um processo injusto, mas tem resistido firmemente;, disse Moema à reportagem.

Habeas corpus
Por telefone, um dos advogados de Adriana, Rodrigo Otávio de Alencastro comentou a situação da cliente. ;A restrição de liberdade por si só é gravíssima. Tem sido extremamente difícil para ela enfrentar tudo isso ainda mais porque ela está sendo acusada injustamente;, defendeu Alencastro.

Amanhã, a 1; Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) tem sessão marcada para a tarde. O mérito do pedido de liberdade de Adriana Villela pode entrar na pauta de votação. Em caráter liminar, o habeas corpus foi negado na semana passada.