A Secretaria de Saúde abriu sindicância para apurar a morte de um homem, na noite da última terça-feira última, no Posto de Saúde N; 2 do Recanto das Emas. O porteiro Sérgio Ricardo dos Santos, 38 anos, chegou à unidade por volta das 19h, com dificuldade para respirar. Ele esperou atendimento por quase 20 minutos. Quando dois médicos apareceram para prestar socorro, já era tarde. O paciente já estava morto. Para a esposa da vítima, Evernice Silva Guimarães, 29, houve negligência. ;Meu marido estava perdendo a respiração aos poucos dentro do carro. Se algum especialista tivesse chegado, ele poderia estar vivo. Simplesmente ficaram todos (funcionários) de braços cruzados dizendo que não tinha médico para o caso dele;, desabafa.
O porteiro já havia sido internado na sexta-feira passada no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), com suspeita de pedra nos rins. Depois de ser medicado, ele recebeu alta. No domingo, começou a sentir fortes dores no peito e também na perna esquerda. Achou que estava com gases e preferiu não ir ao hospital. Na terça-feira à noite, Sérgio assistia à televisão no sofá de casa quando sentiu a visão escurecer e, em seguida, desmaiou. Evernice, desesperada, pediu ajuda. Um vizinho o colocou dentro do carro e o levou ao posto de saúde, que fica menos de dois quilômetros da residência da família, na Quadra 601 do Recanto das Emas. Durante o percurso até a unidade de saúde, Evernice tentou reanimar o marido com massagem no peito. Ao chegar ao posto, ela chamou uma enfermeira, mas a servidora teria informado que ninguém poderia atendê-lo. A família, com a ajuda de pessoas que aguardavam atendimento no local, carregou Sérgio até uma sala dentro do posto. Somente após muita insistência, dois pediatras apareceram. Eles fizeram massagem cardíaca no porteiro, aplicaram medicação, mas Sérgio não resistiu.
De acordo com o diretor-geral da Regional de Saúde do Recanto das Emas, Paulo Uchôa, o procedimento adotado pelos profissionais da unidade foi correto. ;O posto, depois das 19h, só atende a especialidades de clínica-geral e de pediatria. As pessoas acham que se forem ao posto vão encontrar solução para tudo, mas não é bem assim;, justifica.
O diretor também minimizou o fato de dois pediatras realizarem os primeiros socorros. ;Pediatra é médico, cardiologista é médico, ginecologista é médico. Independentemente da especialidade, ele sabe agir num momento de emergência;, complementou Paulo Uchôa.
Apatia
No entanto, um servidor do posto contou ao Correio que os dois clínicos escalados para o plantão noturno não foram trabalhar. ;Isso ocorre com frequência. É comum os médicos faltarem ou encerrarem o expediente antes do horário;, denuncia.
A auxiliar de serviços gerais Antônia Aparecida do Nascimento, 42 anos, confirma a ausência dos profissionais. Ela ficou revoltada com a apatia dos funcionários do posto diante de uma situação tão grave. ;O homem estava com a pele preta, a língua enrolando, com dificuldade para respirar e ninguém se comoveu com isso. A gente teve que ameaçar invadir a sala onde eles estavam para que tomassem alguma providência. Pena que chegaram muito tarde;, lamentou Antônia, que esperava atendimento há 40 minutos para a filha de seis anos, que estava com febre.
Essa é a segunda morte (1) em menos de quatro dias por suspeita de falta de atendimento na rede pública do DF. No último dia 14, Maria Lucas Barbosa da Silva, 56 anos, morreu após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). Ela aguardava, há sete dias, pela internação na Unidade Intensiva de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Regional de Santa Maria, mas não conseguiu vaga. O GDF garantiu que o contrato com a gestora da unidade médica, Real Sociedade Espanhola Beneficência, será revisto.
1 - Acompanhamento
O presidente do Conselho Nacional de Saúde, Francisco Júnior, está acompanhando os dois casos de perto e hoje, deve se reunir com representantes da Secretária de Saúde para discutir melhorias na área da saúde e evitar mais mortes.