A defesa de Adriana Villela, apontada pela Justiça como a principal suspeita do assassinato dos pais e da empregada da família, em 28 de agosto do ano passado, partiu para o ataque. Em um documento entregue à Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Distrito Federal (OAB-DF), o advogado Rodrigo Otávio Barbosa de Alencastro acusa a polícia de ter torturado psicologicamente a filha mais velha do casal Villela. Afirma ainda que, em vez de buscar elementos para chegar a um suspeito, a polícia elegeu Adriana como autora dos fatos e, agora, tenta, a qualquer custo, produzir provas para indiciá-la pelo triplo assassinato. Adriana Villela teve a prisão preventiva decretada e está detida desde segunda feira.
Intitulado Memorial dos filhos de José Guilherme Villela e Maria Carvalho Mendes Villela, o documento é de 16 de junho, portanto, dois meses antes de a Justiça decretar a prisão preventiva de Adriana Villela. Na época, o advogado narrou o que considera ;equívocos; da investigação e ;fragilidade das provas colhidas;, segundo ele, por meio de métodos classificados como ;questionáveis sob a ótica da dignidade da pessoa humana;. Segundo a defesa, tais provas serviram apenas para que a autoridade policial tirasse conclusões inverossímeis.
Com esses argumentos, Alencastro pede a intervenção da OAB-DF ;a fim de auxiliar na urgente elucidação de tão bárbaro crime e evitar que toda esta situação cause ainda mais sofrimento aos familiares e amigos das vítimas;. O advogado também reclama que a polícia teria mantido agentes vigiando a casa de Adriana e a estariam seguindo pelas ruas da cidade, ;enquanto os verdadeiros assassinos estão à solta, certamente satisfeitos e seguros com a impunidade e plenamente livres para, eventualmente, fazer algum mal aos familiares das vítimas;.
;Aos gritos;
No relato do advogado Rodrigo de Alencastro à OAB-DF, Adriana Villela teria sofrido tortura psicológica quando as apurações já estavam sob a responsabilidade da Coordenação de Investigação dos Crimes contra a Vida (Corvida). Logo após a busca e apreensão em sua casa, Adriana foi convidada a comparecer à unidade policial, onde teria ficado com dois agentes de polícia em uma sala. Aos gritos eles teriam começado a dizer que uma mulher de nome Regina ;já contou tudo e está jogando tudo sobre você; você não planejou a morte dos seus pais ; o que foi que deu errado, hein, Adriana?;. E continuou. ;;o seu objetivo era o closet, não era?;. O closet, segundo escreveu o advogado, é o local onde estariam guardados dinheiro e joias da família (veja quadro com principais pontos do documento).
Alencastro escreve que Adriana foi submetida ;a uma verdadeira tortura psicológica; e que passou também a ser intimidada pelos agentes que teriam dito ;Você mentiu e precisa me dizer a verdade;Você mentiu e tem de escolher se vai responder por isso em liberdade ou ficar presa aqui a partir de hoje;. A delegada Mabel Faria teria dito ao advogado que a entrevista com Adriana fora gravada em áudio. E que, apesar de o material ter sido requisitado pela defesa, a delegada alegou que não poderia entregá-lo antes de disponibilizar a gravação ao juiz e ao promotor do caso.
A OAB-DF designou o conselheiro Eduardo Toledo para acompanhar as investigações. O Correio fez contato com Toledo na tarde de ontem para falar sobre o documento entregue à entidade pela defesa de Adriana Villela, mas ele estava em audiência e não retornou as ligações. Procurada, a direção da Polícia Civil informou que ;todos os atos foram praticados pela autoridade legal, com manifestação do Ministério Público, decisão judicial autorizando, e cumpridas com as formalidades legais, com a presença de testemunhas, sendo depois tudo relatado e juntadas ao inquérito e remetido para conhecimento do judiciário e do promotor que acompanha o caso;.
;Estou absolutamente convicto da inocência dela e não vejo motivos para que se chegasse a essa conclusão lamentavelmente divulgada;, afirmou Alencastro. ;Adriana é arquiteta e artista plástica, não é pessoa com experiência na área segurança, em investigação ou procedimentos policiais que lhe permitisse atrapalhar as investigações;, completou.
Apoio familiar
Adriana Vilela está detida no Presídio Feminino do DF (localizado no Gama) separada das outras presas, em um ambiente que, segundo Alencastro, teria sido improvisado para recebê-la. Mas o local, de acordo com o advogado, não é apropriado. Ele contou que esteve com Adriana ontem, quando conversaram no parlatório ; onde as presas recebem visitas. ;Ela está abaladíssima e, principalmente, indignada com essa acusação cruel de ter participado do crime quando, em todos os momentos, sua intenção e seus atos foram no sentido de contribuir com a investigação;, relatou.
Ainda segundo o advogado de defesa, tanto o irmão de Adriana, Augusto Villela, quanto a filha dela, Carolina, apoiam integralmente as ações da defesa no sentido de conseguir a liberdade para Adriana Villela. ;Eles estão traumatizados com a exposição no primeiro momento e ainda se sentem pouco à vontade para tratar disso publicamente. Mas acompanham e apoiam a defesa da irmã e da mãe;, garantiu Alencastro.
Habeas corpus deve ser apreciado hoje
>> Ary Filgueira
Os advogados de Adriana Villela, 46 anos, acreditam que a passagem da cliente pela prisão será curta. A confiança de José Eduardo Alckmin e Rodrigo Otávio Barbosa de Alencastro está, segundo eles, na fragilidade da investigação. ;Os fatos que incriminam nossa cliente são inconsistentes;, explicou Alckmin. Na tarde de ontem, eles entraram com o pedido de habeas corpus no TJDFT requerendo a liberdade da única filha do casal assassinado.
A defesa alega que única prova contra Adriana é o depoimento de uma funcionária do Edifício Summer Park. A mulher teria reconhecido a filha do casal por meio de uma fotografia mostrada pela polícia. Ela afirma que Adriana esteve no local onde a paranormal Rosa Maria Jaques ficou hospedada por 30 dias, em 2009. ;O rosto de Adriana apareceu em muitos jornais e a moça pode ter se confundido;, disse Alencastro.
O relator do caso é o desembargador Romão Cícero. Segundo a assessoria de imprensa do tribunal, ele levou os documentos para casa e deve decidir hoje à tarde se acata o pedido da defesa. Adriana Villela está presa desde a segunda-feira e é apontada pela polícia como a principal suspeita do crime.
Principais alegações
Trechos do memorial que a defesa de Adriana Villela entregou à OAB-DF pedindo a intervenção da entidade para a elucidação rápida do triplo homicídio:
Tortura psicológica repulsiva
;;foi convidada (Adriana Villela) a comparecer à unidade da Corvida, colocada em uma sala com dois agentes de polícia, os quais aos gritos passaram a dizer que Regina ;(;já contou tudo e está jogando tudo sobre você;, que ;você não planejou a morte dos seus pais; o que foi que deu errado, hein, Adriana?;, além de que ;o seu objetivo era o closet, não era?; ; local em que estariam guardados o dinheiro e as joias. Vale dizer, a requerente foi submetida a uma verdadeira tortura psicológica.;
Polícia elege suspeitos
;Ao que tudo indica, está-se diante de hipótese de absoluta inversão da ordem natural no andamento de uma investigação policial: em lugar dos responsáveis pelo andamento do inquérito buscarem elementos de prova e de convicção para chegar a um suspeito, elegeram Adriana como autora dos fatos com base em meras ilações e conjecturas, visto que ausentes elementos concretos a justificar tal suspeita e agora tentam, a todo custo, produzir as provas necessárias a buscar o seu indiciamento. Vale dizer: primeiro um suspeito, depois as provas contra ele.;
Suposições infundadas
;As suspeitas da autoridade policial estão baseadas em eventuais e isolados desentendimentos entre a requerente e a sua falecida mãe, comuns em qualquer família e justificados pelos fortes traços de personalidade que trazem como características marcantes. O choque de gerações, a diversidade de conceitos e a forma diametralmente oposta de encarar os fatos da vida faziam com que, pontualmente, tivessem algumas discussões. Tais informações foram trazidas aos autos pela própria Adriana, como reconhece a autoridade policial.;
Irregularidades e competição entre delegacias
;Tal circunstância tem colocado em lados opostos duas unidades da Polícia Civil do Distrito Federal: a 1; Delegacia de Polícia, que teve a sua delegada-chefe recentemente afastada de suas funções, e a Corvida que, agora, tenta provar que os colegas cometeram irregulares, o que, sem pretender emitir qualquer juízo de valor, coloca Adriana no meio de uma acirrada disputa interna da instituição.;