Embora os cinco mandados de prisão tenham sido autorizados em 11 de agosto, o cumprimento da ordem judicial ; documento a que o Correio teve acesso com exclusividade (veja fac-símile) ; ocorreu quase uma semana depois. A primeira a ser presa foi a filha do casal assassinado, Adriana Villela, 46 anos. Na segunda-feira à noite, ela foi encaminhada ao Instituto de Medicina Legal (IML) ; localizado no Departamento de Polícia Especializada (DPE) ; para exame de corpo de delito. Ontem pela manhã, o policial da Divisão de Combate ao Crime Organizado (Deco) José Augusto Alves (ex-agente da 1; DP), 41 anos, e Guiomar Barbosa da Cunha, 71, também acabaram detidos em Brasília. Uma equipe de policiais viajou para Porto Alegre (RS), onde prendeu a paranormal Rosa Maria Jaques, 61 anos, e o marido dela, João Tocchetto, 49.
A prisão temporária deles é justificada pelo juiz substituto de direito Fábio Francisco Esteves pelo fato de que os cinco atrapalharam as investigações do assassinato de José Guilherme Villela, da mulher dele, Maria Carvalho Mendes Villela e da principal empregada do casal, Francisca Nascimento da Silva. O crime ocorreu em 28 de agosto de 2009. Os corpos só foram localizados em 31 do mesmo mês. Adriana, Augusto, Guiomar, Rosa e João deverão ficar presos pelos próximos 30 dias.
Em sua decisão, o Juiz Fábio Francisco Esteves explica as razões para deferir o pedido do Ministério Público do DF e Territórios, que atendeu a uma reivindicação da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida). Além de prejudicar os trabalhos da polícia, Adriana é apontada como a principal suspeita de envolvimento com a morte dos pais e da empregada. Ela é acusada de ter articulado com a paranormal Rosa Maria o que seria a fraude da suposta chave do apartamento dos Villela que incriminou três moradores de Vicente Pires ; Alex Peterson Soares, Rami Jalau Ali Kalout e Cláudio José de Azevedo Brandão ; quando o caso ainda estava com a então delegada-chefe da 1; DP (Asa Sul), Martha Vargas.
Prova descartada
A prova foi descartada a partir da transferência do caso para a Corvida. Os policiais dessa delegacia especializada descobriram que, na verdade, a mesma chave apreendida no apartamento dos acusados foi fotografada nas dependências do apartamento das vítimas e que ;misteriosamente; não foi coletada na apreensão. O encarregado de fazer isso seria o policial Augusto Alves. A descoberta culminou na exoneração da delegada Martha Vargas da 1; DP em 28 de abril deste ano. O Correio publicou matéria com exclusividade.
A paranormal Rosa Maria Jaques ;entrou no caso; em 31 de outubro de 2009, quando procurou a delegada Martha Vargas e informou que havia recebido a missão de contribuir com as investigações. Rosa Maria estava com o marido, João Tocchetto. No mesmo dia, segundo relata o magistrado na decisão, Martha Vargas ; acompanhada de Augusto, João e Rosa Maria ; foi ao apartamento dos Villela e Rosa, usando seus dons de clarividência, teria visto pelos olhos do autor o local de sua residência. Ela apontou a casa de Cláudio, que fica num conjunto de quitinetes em Vicente Pires. Mas o grupo bateu na porta do cômodo onde moravam Alex e Rami, vizinhos de Cláudio. Os policiais disseram que encontraram ali a chave suspeita e prenderam a dupla. Só depois de alguns dias, detiveram Cláudio.
De acordo com o texto assinado pelo juiz, embasado pela investigação da Corvida, há indícios de que o filho de Guiomar ; José Ailton Barbosa da Cunha ; teria indicado o nome de Cláudio para Adriana e Rosa Maria. Guiomar ainda é apontada como autora de artifícios para embaraçar as investigações. ;Primeiro, declarou à polícia que o relacionamento de Adriana com a mãe era excelente. Posteriormente, tentou criar falsamente uma estranha presença de um ex-porteiro Leonardo no dia do crime. O ex-funcionário estaria conversando com o porteiro Marcos Santana, segundo a faxineira informou.
Ligações telefônicas
O documento deixa claro, em sua terceira página, que a ligação entre Adriana e o casal João e Rosa tinha como objetivo ;evidentemente levar à não elucidação do evento criminoso para garantir a impunidade dos autores do crime;. Na mesma folha, o magistrado relata que ;as manobras, contradições, mentiras revelam que João, Rosa e José Agusto estão a serviço de Adriana.; O policial Augusto teria, inclusive, omitido o fato de conhecer o casal João e Rosa em depoimento à Corvida. Mas o vínculo dele com os suspeitos foi comprovado em ligações telefônicas gravadas pelos agentes da Corvida com autorização judicial.
A decisão do juiz é encerrada com a argumentação de que as investigações estão sofrendo graves prejuízo. ;Verifico a existência de uma orquestrada ação visando impedir a elucidação de evento criminoso hediondo. Mais grave ainda é que os autores desta ação têm deliberadamente tentado não só eliminar os indícios que recaem sobre a principal suspeita como incriminar outras pessoas.;
Ontem pela manhã, Augusto Alves recebeu a visita de representantes do Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal (Sinpol). A entidade tem dado a assistência jurídica ao policial. O presidente licenciado do Sinpol, Wellington Luiz de Souza, não acredita que Augusto tenha tentado encobrir o crime ou atrapalhar as investigações. ;Ele é um policial sério e trabalhador;, defendeu.
Habeas corpus
O advogado de Adriana Villela, José Eduardo Alckmin, informou ontem à noite que vai entrar com o pedido de habeas corpus para obter a liberdade de sua cliente. Adriana passou a noite em uma cela do Presídio Feminino (Comeia), situado no Gama. A empregada Guiomar Barbosa também dormiu na Comeia. Até o fim desta edição, o casal João e Rosa não havia chegado a Brasília.
Licença-prêmio
Logo após ser exonerada, Martha Vargas pediu uma licença de 30 dias, alegando problemas de saúde. Antes de o prazo se esgotar, a delegada entrou com outro pedido, dessa vez de licença-prêmio. A solicitação, que tem vigência de seis meses, foi atendida tendo em vista ao fato de a ex-chefe da 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul) ter 20 anos profissão e nunca ter requerido o benefício. Por causa do afastamento, ela ainda não foi ouvida na Corregedoria de Polícia Civil, que investiga a conduta da policial à frente das investigações do triplo assassinato.
Perfil
Relação conflituosa
Adriana Villela, 46 anos, é artista plástica. Vive no Lago Sul, mas também tem uma casa em Alto Paraíso (GO). É a filha mais velha do casal de advogados. No começo das investigações prestou depoimento na condição de colaboradora. Foi ela quem fez os desenhos das joias da família levadas do apartamento provavelmente no dia do crime.
Ao longo das investigações, a polícia teria recolhido provas
de que Adriana mantinha uma relação conturbada com os pais. Apesar de ter morado na mesma quadra de José Guilherme e Maria Villela, no Bloco F, ela raramente frequentava a casa deles. Duas cartas de Adriana para a mãe, apreendidas no escritório dos Villela em 27 de outubro passado, revelariam um conflito com os pais, por questões financeiras. Assim como o irmão Augusto e a filha Carolina, Adriana sempre evitou dar entrevistas sobre o triplo assassinato. Dos três, era a que demonstrava maior irritação com o assédio de jornalistas.