Jornal Correio Braziliense

Cidades

Parque da Cidade sofre com o descaso

Apesar das recentes obras, principal ponto de lazer dos moradores do Plano Piloto exibe lixo, mau cheiro e equipamentos quebrados, como bancos e banheiros

Um dos principais pontos de lazer do brasiliense continua dando sinais de esquecimento. Apesar de recentes obras como a revitalização das churrasqueiras e das quadras poliesportivas, frequentadores do Parque da Cidade cobram mais atenção à área verde de 400 hectares. Com saudades do pedalinho, do bicicletário e da piscina de ondas que um dia funcionaram no local, o público reclama de sujeira, mau cheiro próximo aos lagos, bancos e chuveiros quebrados, além do tamanho da pista onde pedestres e ciclistas disputam um espaço cada vez mais concorrido. Ao exigir novos bebedouros, sinalização, segurança e iluminação, quem passeia por ali não tem dúvidas de que o parque é subaproveitado.

Na manhã de ontem, o Correio percorreu vários pontos do local. Há muito lixo espalhado nas margens da pista de cooper, inclusive em frente à administração. Em volta das lixeiras, sacos se acumulam à espera da coleta. Bancos próximos ao conhecido Quiosque do Atleta estão rachados, com ferros à mostra. No local destinado a três chuveiros, apenas um resistiu à ação de vândalos. Nos banheiros, que passaram por melhorias no ano passado, falta papel higiênico e sobram pias, portas e azulejos quebrados. A maioria dos borrifadores de água, muito procurados durante o período de seca, não funciona.

Ao redor do lago que durante anos abrigou os pedalinhos, o mato está alto. Na água, boiam sacos e garrafas plásticas. O lugar onde eram vendidos os bilhetes para o passeio agora é uma construção abandonada, que fede a urina e muitas vezes acabada servindo de depósito para ambulantes. ;É uma pena ver um lugar maravilhoso como esse descuidado. Eu andava de pedalinho aqui e era algo superagradável;, recordou, com saudosismo, o servidor público Laviere Gomes da Rocha, 45 anos, acompanhado da mulher, Viviane Santana da Rocha, 33. ;Falta segurança também. Só venho caminhar aos sábados e aos domingos porque sei que é mais movimentado. Durante a semana, não me sinto segura;, completou.

O número de frequentadores aumenta em até sete vezes nos fins de semana. Ao longo de um domingo, por exemplo, chegam a circular 7 mil pessoas pela pista de quase 7m de largura. Apenas a sinalização no chão, quase apagada, separa pedestres de ciclistas. ;É preciso, pelo menos, dobrar o tamanho dessa pista. Do jeito que está, não há segurança. Já presenciei vários acidentes, envolvendo crianças, inclusive;, comentou o empresário Euvaldo Marques, 58 anos, morador da Asa Sul e frequentador assíduo do parque. Sobre a sujeira, ele acredita que falta o básico: educação. ;A gente vê as pessoas jogando papel no chão. Falta conscientização nesse caso.;

Perigos
Com exceção do parque Ana Lídia, os demais espaços de diversão para as crianças carecem de reforma. Há parques infantis com madeiras soltas e brinquedos enferrujados. ;A gente percebe as melhorias, mas muitos pontos estão abandonados. A piscina de ondas é uma delas. Eu daria nota 6 ou 7 para o parque;, avaliou o professor universitário Sérgio Figueiredo, 44 anos, que costuma correr ali nos fins de semana. Ele defende que o local precisa cuidar mais de sua imagem. ;Quem vem de fora não sabe o que o parque oferece. Não há uma sinalização eficiente.;

A piscina de ondas, desativada em 1997, foi durante 20 anos um dos lugares mais concorridos do parque. Com capacidade para 1,6 milhão de litros d;água, tinha ondas artificiais de até 1m de altura. Hoje, o lugar está às moscas, acumula água parada e tem paredes destruídas. O estacionamento mais próximo é tão deserto que virou espaço para jovens andarem de patins. A estrutura em que ficavam as bicicletas para aluguel também está desativada e depredada. O trenzinho, usado para transportar visitantes, deixou de rodar há mais de uma década. Promessas para retomar essas atrações nunca saíram do papel.


Administrador reconhece falhas

O administrador do Parque da Cidade, Rivaldo Paiva, reconhece falhas na estrutura, mas diz que, nos últimos dois anos, o local passou por um intenso processo de revitalização. ;O ideal do parque ainda não foi atingido, mas estamos trabalhando para isso;, afirmou. No fim do ano passado, lembra ele, houve um investimento de

R$ 200 mil para reformar churrasqueiras e banheiros. O dinheiro também foi usado para pequenos consertos, como o de alambrados. Mais R$ 400 mil possibilitaram que 26 quadras poliesportivas e sete campos de futebol voltassem a ser frequentados. ;Agora, com o apoio da CEB (Companhia Energética de Brasília), estamos iluminando esses lugares;, informou.

A responsabilidade pelo parque envolve diversos órgãos do governo, como o Sistema de Limpeza Urbana (SLU), a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), a Administração de Brasília, a Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) e a CEB. Do quadro de funcionários do parque, apenas cinco pessoas cuidam da manutenção. Quatro carros e quatro motos fazem ronda no local durante 24 horas. Há ainda oito postos fixos de segurança, onde vigilantes terceirizados se revezam. Alguns estacionamentos são usados como pontos de prostituição durante à noite. Neles, jovens geralmente se reúnem para beber.

O administrador conta que atrações como o pedalinho, o bicicletário e a piscina de ondas funcionavam sob o comando da iniciativa privada. A reativação desses lugares depende, portanto, de gente interessada em explorá-los. ;A piscina de ondas, por exemplo, exige um custo muito elevado. É preciso estudar bem a viabilidade dela;, disse. Até o fim deste ano, Paiva pretende ver concluído o processo de licitação para pontos comerciais do parque. ;Sobre o tamanho da pista de cooper, estamos discutindo. Mas, de qualquer forma, vamos melhorar a sinalização;, adiantou. Ele diz ainda que os 21 para-raios do parque foram consertados no ano passado. E fez questão de lembrar da reforma recente do Parque Ana Lídia. ;Os outros parques infantis estão em manutenção constante;, garantiu. (DA)


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