Jornal Correio Braziliense

Cidades

Atenção à vida digital dos filhos

Pais devem estar sempre atentos às armadilhas usadas para fisgar crianças e adolescentes, como a atuação de pedófilos, sequestradores e estelionatários em redes sociais e chats. Segundo especialistas, é importante saber o que os jovens fazem na internet

Se a internet pudesse escapar da definição técnica de rede mundial de computadores, uma alternativa fidedigna encontraria sentido no verso ;Mundo, mundo, vasto mundo;, um dos mais conhecidos do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade. Dentro do infinito de possibilidades do meio, estão ferramentas que podem impulsionar a criatividade, a troca de experiências, culturas e a disseminação de informação com uma velocidade assustadora. Mas assustadora também pode ser a facilidade com a qual os fins de redes sociais podem ser pervertidos dependendo apenas da índole do usuário. A superexposição de informações pessoais pode fazer com que o internauta perca o controle da multiplicação de seus dados, além de facilitar a atuação de criminosos como pedófilos, sequestradores, estelionatários entre outros. Paradoxalmente, o público mais frágil é o que mais tem intimidade com a internet: crianças e adolescentes. Na maioria dos casos, os pais ficam sabendo das complicações quando só lhes resta remediar.

No início do mês, um episódio ganhou destaque na imprensa nacional. No Rio Grande do Sul, uma relação sexual entre dois adolescentes terminou em inquérito policial. Os jovens de 15 e 16 anos transmitiram as imagens pelo site de vídeo do microblog Twitter. Durante a transmissão, o casal teve 25 mil acessos. O vídeo acabou gravado e disponibilizado em um banco de arquivos on-line para quem quisesse ver. A polícia procura os cerca de 3 mil usuários que fizeram o download.

;Antigamente, você precisava sair de casa para encarar o mundo. Hoje, você liga o computador e ele está lá;, diz a pedagoga Leda Gonçalves de Freitas, professora da Universidade Católica de Brasília (UCB). Para ela, o papel da família tem perdido espaço. ;Temos percebido que as tecnologias vêm substituindo a interação dentro de casa. Os pais têm pouco tempo, estão sempre trabalhando. Falta um trabalho familiar para estabelecer um acompanhamento que garanta a segurança dos filhos;, avalia. Segundo ela, na medida em que o tempo vai passando, mais difícil fica para os parentes imporem limites e restrições de conteúdo na internet. ;Os jovens vão formando os laços sem a presença da família. E é preciso se comprometer com a educação e a formação ética das crianças e dos adolescentes. Isso passa pela internet e os pais têm que aprender a lidar com isso.;

Ferramentas
A forma mais indicada é aprender a usar as ferramentas que os jovens dominam. ;Os pais são analógicos e os filhos, digitais. A maioria dos pais não se acostumou a usar o computador para lazer. Eles o reconhecem como trabalho;, afirma a advogada Marcela Macedo, especialista em crimes digitais e coordenadora do movimento criança mais segura na internet. Por isso, a integração ao universo de diversão virtual é tão importante. ;Você não consegue orientar sem conhecer. Os pais têm que participar da vida digital dos filhos;, diz. Segundo ela, medidas simples como conversas sobre a vida digital e a inscrição dos adultos em redes sociais como Twitter, Facebook, Orkut etc. permitem que os pais saibam como funciona a ferramenta e acompanhem o material acessado e compartilhado pelos filhos. O excesso de informações pessoais pode ser fonte tanto para os amigos quanto para os inimigos(1).

Para Marcello Barra, sociólogo e professor da UnB, é difícil saber se os pais vão acompanhar ou não o ritmo da geração de seus filhos. ;Nas subculturas, os grupos se desenvolvem em alguns aspectos e as outras gerações não têm condições de acompanhar. Os pais podem até ter acesso ao Twitter, por exemplo, mas podem não saber explorá-lo a fundo como os filhos. Os jovens vão se autoafirmar pela diferença;, analisa.

Com a facilidade de acesso à internet e a popularização da tecnologia, é comum que, em uma casa com dois adolescentes, cada um tenha o seu computador. Pode ser prático, avaliam os especialistas, mas também pode tornar os jovens presas mais fáceis e dificultar o monitoramento dos pais. ;Hoje, o acesso à pornografia é muito fácil. Um pedófilo não se apresenta como tal. E a internet tem o problema da legitimidade: você nunca sabe se o outro é aquilo que diz ser;, alerta Marcela.

O uso comunitário do computador pode ser uma alternativa. Funciona bem na casa da autônoma Alexandra Mariano Rodrigues da Silva, 36 anos. Seus dois filhos, Bruna, 14 anos, e Gabriel, 15, têm que dividir o tempo, a máquina e o espaço, já que o computador fica na sala. Alexandra diz seguir de perto a vida virtual da prole. ;Na minha casa, não existe privacidade. Enquanto eles morarem comigo, as regras são minhas;, garante. Para ter uma página no Orkut, os filhos precisaram da autorização da mãe. E ela tem a senha. A garantia de que ninguém vai fugir dos trilhos fica por conta de um espião, programa que lista os sites visitados e grava conversas mesmo se o histórico for limpo. A instalação de filtros e controles parentais de conteúdo são medidas que podem vetar o acesso a sites indesejados.

1 - Sequestro
A divulgação das informações detalhadas da rotina e dos hábitos de um estudante de 19 anos de Sorocaba, interior de São Paulo, no Facebook terminou em sequestro no fim de julho. A quadrilha encontrou a vítima e monitorou cada passo do jovem pela rede social. Durante cinco dias, o estudante foi mantido em um cativeiro e ameaçado de morte. Seu pai revelou que o rapaz passava muito tempo no computador e que a família conhecia pouco a rotina on-line do filho