Jornal Correio Braziliense

Cidades

Coligações de Roriz e Agnelo concentram 95,8% das doações eleitorais

As prestações de contas eleitorais mostram que a correlação de forças está equilibrada entre as campanhas de Joaquim Roriz (PSC) e de Agnelo Queiroz (PT). As duas maiores coligações foram responsáveis por 95,8% das arrecadações para as eleições de outubro no Distrito Federal. O total de investimentos declarado ao Tribunal Regional Eleitoral do DF no início do mês foi de R$ 6,3 milhões. Os candidatos da chapa do ex-governador ; Esperança Renovada ; conseguiram arrecadar R$ 3.061.908,92. Por sua vez, os aliados do petista ; Novo Caminho ; juntaram R$ 3.007.444,74. Os dados foram informados pelas próprias coligações e podem ser consultados no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O levantamento feito pelo Correio (veja o quadro) leva em consideração a soma das declarações de todos os candidatos de cada partido. Se o valor recebido pelos dois grupos é muito próximo, os gastos também foram similares. Os políticos que pretendem se eleger nas próximas eleições fazendo campanha ao lado de Roriz gastaram R$ 1.936.637,75. Do outro lado, os companheiros de Agnelo usaram R$ 1.864.657,96 do montante conquistado para turbinar as disputas.

Uma das principais táticas para se conquistar uma eleição majoritária é a formação de uma chapa forte, com partidos com boa capacidade de votos e de recursos. O arco de alianças facilita a vitória e, principalmente, a governabilidade do eleito, uma vez que o governador precisa de uma grande base de apoio para aprovar os projetos de interesse no parlamento. Além disso, nas disputas proporcionais, o número de votos obtido pela coligação representa a quantidade de cadeiras a que ela terá direito. Com uma boa chapa, é possível eleger pessoas com baixa votação, mas dentro do quociente eleitoral.

Divisão
Em 2006, as legendas estavam divididas em três grupos, que tinham como expoentes principais Arlete Sampaio (PT), Roriz e o ex-governador José Roberto Arruda (na época pelo PFL). Com a deflagração da operação Caixa de Pandora, que investiga um suposto esquema de corrupção no DF, e a cassação de Arruda, os partidos se rearrumaram em torno dos dois principais candidatos. O ex-peemedebista Roriz se filiou ao PSC e conquistou PMN, DEM, PR, PTdoB, PSDB, PP, PRTB e PSDC. Por sua vez, o ex-comunista Agnelo Queiroz mudou-se para o PT e agregou o PMDB, PDT, PTB, PSB, PPS, PHS, PCdoB, PTC, PRP e PRB.

O lado azul conseguiu atrair mais recursos para a disputa majoritária. Só a campanha de Roriz recebeu R$ 778 mil ; 12% da soma de todos os candidatos de Brasília. ;A grande arrecadação demonstra a confiança da sociedade no projeto de Joaquim Roriz;, afirma o presidente local do PSC, Valério Neves. Fora a verba para o candidato principal, a sigla arrecadou R$ 461,4 mil. Segundo o presidente, nem mesmo o indeferimento da candidatura do ex-governador pelo TRE-DF irá interferir na captação dos recursos. Por quatro votos a dois, os juízes eleitorais enquadraram Roriz na Lei da Ficha Limpa por ter renunciado ao mandato de senador para fugir de cassação. A defesa dele ingressará no TSE e, provavelmente, no Supremo Tribunal Federal (STF) para reverter a decisão.

A segunda maior arrecadação no DF é de uma candidata a deputada distrital. Celina Leão (PMN) foi secretária de Estado da Juventude e chefe de gabinete da deputada distrital Jaqueline Roriz (PMN), mas entra pela primeira vez na disputa eleitoral. O partido dela aparece como segundo maior da coligação no volume de recursos, com R$ 516,7 mil. A estreante declarou ter recebido para a campanha, em julho, R$ 274,5 mil. ;Fico feliz porque as pessoas só investem em quem confiam;, afirma.


Transparência nas contas
Segundo Celina Leão, a diferença para a declaração dos adversários está na transparência dos dados. ;Tem candidato com comitê e pessoas trabalhando em todas as cidades que declarou ter gasto apenas R$ 5 mil. Se o TRE der uma volta no DF vai perceber que tem muito caixa dois;, diz Celina. Ela afirma ter recebido a orientação de ;políticos mais antigos; para não declarar todos os gastos à Justiça Eleitoral. ;Eu não faço isso porque tenho coragem para mostrar a realidade. Quem não declara tudo é porque tem dinheiro sujo.;

Quem também levanta dúvidas sobre a honestidade dos concorrentes é o presidente do PSC. Valério Neves diz estranhar a declaração do principal adversário. ;A estrutura dele está muito grande nas ruas para ter gasto tão pouco. O Ministério Público Eleitoral devia avaliar isso melhor;, diz.

Segundo o presidente do Partido dos Trabalhadores no DF, Roberto Policarpo, a coordenação de campanha de Agnelo soube usar os recursos em iniciativas mais baratas, como o corpo a corpo. ;O PT conta muito com o trabalho voluntário da militância, o que o Roriz não tem. Para pagar cabo eleitoral como ele é preciso investir muito mais;, afirma o petista.

Do lado vermelho, o PMDB foi um reforço importante. As campanhas dos ex-correligionários de Roriz somaram, em julho, R$ 526,6 mil. O presidente regional da sigla, deputado federal Tadeu Filippelli, destaca que a arrecadação de todos foi pequena, visto a expectativa de gastos dos candidatos. ;O primeiro mês é de organização e articulação. Os resultados só começarão a aparecer agora;, aposta. Segundo o peemedebista, a escassez de doações não é um fato isolado e tem ocorrido em todos os estados. ;Os doadores estão mais cautelosos e exigindo um cuidado redobrado na relação com os candidatos.;

Investimento na Câmara

A disputa para a Câmara Legislativa do Distrito Federal virou briga de gente grande. De acordo com levantamento do Correio, publicado ontem, os candidatos a deputados distritais são donos das maiores despesas eleitorais. Eles foram responsáveis por 56% de toda movimentação financeira de julho, tendo gasto ao total R$ 2,2 milhões. Dos 50 principais gastadores, 35 estão na disputa para distrital.

A concorrência a uma das 24 vagas também é a maior do país. A relação é de 36,25 candidatos para cada cadeira na nova estrutura da Câmara no Setor de Indústrias Gráficas ; que custou R$ 106 milhões, três vezes mais do previsto. O salário de um distrital é de R$ 12.384,06. E cada parlamentar do DF tem direito a receber 14 por ano. Se conseguir economizar todo o salário, o deputado terá R$ 693.507,36 no fim do mandato ; sem contar os rendimentos financeiros. No primeiro mês de campanha, 10 candidatos já arrecadaram pelo menos 10% desse valor.

Segundo o professor aposentado de Ciências Políticas da UnB Octaciano Nogueira, o cargo é mais disputado por trazer mais benefícios aos políticos. ;Para começar, eles loteiam o governo. Cada um com seu feudo;, diz. Além disso, eles sofrem menos pressão da opinião pública do que os parlamentares do Congresso Nacional. ;O resto do país não quer saber o que fazem na Câmara Legislativa. Por exemplo, os deputados distritais se comprometeram a realizar sessões três vezes por semana, mas não aparecem e fica tudo por isso mesmo;, critica o professor.