Jornal Correio Braziliense

Cidades

Empresários que atuam na Academia de Tênis temem perder o espaço com a venda da área

Cinéfilos e tenistas também reclamam

As incertezas sobre o destino da Academia de Tênis não envolvem apenas os donos da área e representantes do mercado imobiliário interessados nas negociações. Os empresários que mantêm negócios no complexo hoteleiro estão apreensivos com o destino do terreno, que deve ser vendido até o fim deste ano. Cinéfilos (1) e jogadores de tênis ; amadores e profissionais ; também acompanham de perto todas as notícias sobre o negócio. Como divulgado com exclusividade na edição de ontem do Correio, a transação poderá alcançar R$ 240 milhões.

Herdeiros do empresário e médico José Farani, idealizador da Academia de Tênis, estudam propostas que vão desde a entrada de um novo sócio no empreendimento até a venda completa do lote de 90 mil metros quadrados. No local, podem ser construídos teatros, cinemas, casas de espetáculos e clubes. Mas o grande interesse das incorporadoras é pelo segmento de hotéis e apart-hotéis. No terreno vizinho à Academia de Tênis, um negócio semelhante já está 95% vendido. Nem mesmo o preço alto ; R$ 10 mil por metro quadrado ; afastou os interessados. A construtora carioca João Fortes confirmou que as negociações com os donos da Academia estão avançadas e informou que o interesse da empresa é pela hotelaria.

O empresário Glério Júnior abriu o restaurante Badejo, de comida brasileira, há pouco mais de um ano no local. Ele disse que ainda não foi oficialmente notificado sobre a possibilidade de venda do espaço, mas torce para permanecer no ponto. ;Fui muito bem acolhido pelos proprietários e o lugar aqui é excelente. Os clientes param na porta, não tem problema de falta de vaga e o lugar é bem tranquilo;, conta Glério, que trouxe a marca para Brasília depois de 20 anos de experiência em Belo Horizonte.

Gerente do restaurante Palace Long Fu, um dos mais tradicionais no ramo da cozinha chinesa, Carlos Lemes de Souza conta que a informação sobre o possível fechamento do espaço ainda não chegou aos empresários. ;Isso ainda não está sendo discutido, mas posteriormente vamos analisar a possibilidade de um contrato com os novos donos, caso seja feita a venda;, garante Carlos. O restaurante chinês funciona na Academia há 10 anos e é uma das seis opções gastronômicas para visitantes e hóspedes.

Quem também está instalado na área há uma década é Francisco Ansiliero, proprietário do Dom Francisco. Há um mês, ele foi avisado sobre as negociações para a venda do terreno do complexo hoteleiro. ;É um bom espaço, mas com a venda pode ficar ainda melhor. Não estou apavorado, quem é comerciante já está habituado com contratos de aluguel e eventuais mudanças;, justifica.

1 - Circuito alternativo
As 10 salas de cinema da Academia de Tênis estão fechadas desde maio deste anos, quando um incêndio atingiu as instalações. O local ficou conhecido por projetar filmes que não passam no circuito comercial, além de películas alternativas e independentes. O complexo também abrigava grandes eventos, como o Festival Internacional de Cinema de Brasília.

Tenistas reclamam
O Campeonato Brasileiro Infantojuvenil de Tênis é realizado no local


Não são apenas os amantes da boa gastronomia e os cinéfilos que temem o fechamento definitivo do complexo hoteleiro à beira do Lago Paranoá. Jogadores de tênis, amadores ou profissionais, usam as 21 quadras da Academia para treinar e para se exercitar. No local, são realizados importantes campeonatos nacionais e internacionais, que reúnem grandes nomes do esporte. Quem usa o espaço rotineiramente defende a permanência do complexo de lazer.

Todos os anos, no mês de julho, Brasília recebe o Campeonato Brasileiro Infantojuvenil de Tênis e os jogos são disputados dentro da Academia. Atletas com idade entre 10 e 18 anos mostram suas habilidades nas quadras do lugar e muitos se projetam nacionalmente depois do evento. Este ano, 522 meninos e meninas de 24 estados brasileiros participaram do torneio.

Para o presidente da Federação Brasiliense de Tênis, Carlos Mamede, a transformação da Academia em um novo condomínio de apart-hotéis vai atrapalhar o esporte na cidade. ;A Academia de Tênis deveria ser tombada como um patrimônio do Distrito Federal. Aqui é realizado um dos maiores torneios do país e nenhuma cidade tem uma área com a capacidade e o glamour da Academia de Tênis;, afirma. ;Brasília é privilegiada por ter um espaço tão apropriado para o tênis. Conheço a maioria dos complexos do país e nada se compara ao que temos;, acrescenta Mamede.

Memória
Reduto dos poderosos


A Academia de Tênis já foi conhecida com o ponto de encontro de figuras importantes da República. Nos governos dos presidentes Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso e também na gestão atual, de Luiz Inácio Lula da Silva, os restaurantes, quartos e saguões do complexo abrigaram ministros e outros integrantes do primeiro escalão.

Especialmente durante a transição de governos, os políticos procuraram a Academia de Tênis para se hospedar enquanto não se instalavam definitivamente em um apartamento funcional. Foi o caso da ex-ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello, que morou na Academia e, com outros integrantes da pasta, usava o local para debater assuntos importantes. Ela teria preparado o Plano Collor em reuniões realizadas no complexo.

Na gestão de FHC, os ministros Luiz Carlos Bresser Pereira, da Administração, e Raul Jungmann, da Reforma Agrária, além do então presidente do Banco Central, Gustavo Franco, passaram temporadas nos quartos ou chalés da Academia de Tênis. Na transição do governo de Fernando Henrique Cardoso para a gestão de Lula, 13 ministros se instalaram provisoriamente no hotel, entre eles Ciro Gomes, Benedita da Silva, Gilberto Gil, Guido Mantega, Ricardo Berzoini e a então ministra de Minas e Energia e hoje candidata a presidência pelo PT, Dilma Rousseff. Nessa época, alguns restaurantes que funcionam na área chegaram a atender até oito ministros em uma única noite. A academia de ginástica, as salas de cinema e as quadras de tênis eram muito frequentadas pelo primeiro escalão do poder.