Jornal Correio Braziliense

Cidades

Nova denúncia atinge Roriz

Um novo episódio suspeito relacionado a Joaquim Roriz (PSC) envolve Osvaldino de Oliveira, dono da transportadora Nely Transportes. O empresário ; que é investigado com o ex-governador no famoso inquérito relacionado à partilha de um cheque de R$ 2,2 milhões ; aparece agora em gravação como testa de ferro de Roriz em terras no Nordeste de Goiás. A denúncia foi protocolada ontem no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) pelos deputados distritais Paulo Tadeu (PT) e Érika Kokay (PT), em audiência com a procuradora-geral de Justiça do DF, Eunice Amorim Carvalhido.

A representação será encaminhada ao Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (NCoc) do MP local, onde os promotores de Justiça já são responsáveis pela investigação do episódio que levou Roriz à renúncia ao cargo de senador em 2007. Dono de uma empresa que há uma década presta serviços no ramo de coleta de lixo no Distrito Federal, Osvaldino teve os sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático (e-mails) quebrados em 2008, com autorização da Justiça, para avaliação sobre qual foi a participação dele na partilha do cheque do empresário Nenê Constantino. Uma parcela do dinheiro ficou com Roriz, segundo o ex-governador para a compra do embrião de uma bezerra.

A divisão do dinheiro descontado no Banco de Brasília (BRB) (1) pelo então presidente Tarcísio Franklim de Moura ocorreu no estacionamento da Nely Transportes. Agora, o nome de Osvaldino aparece em meio a uma denúncia de que Roriz pagou R$ 10 mil em dinheiro vivo para calar André Alves Barbosa, neto de um suposto laranja do ex-governador, o fazendeiro Geraldo Alves Barbosa, conhecido como Geraldinho, com quem ele mantém uma relação tumultuada há pelo menos 20 anos. Em conversa com o deputado federal Alberto Fraga (DEM), André contou que a Fazenda Rasgado, com 2,6 mil alqueires, registrada no cartório em nome de sua família, pertenceria na verdade a Roriz. A propriedade localizada em São Domingos de Goiás foi passada em 2004 para o nome de Osvaldino para burlar a penhora de uma dívida no valor de R$ 7 milhões, contraída por Geraldinho, supostamente em benefício do ex-governador.

Fraga (2); candidato ao Senado ; se encontrou com André no começo de junho no Kingstown Hotel, em Taguatinga. Segundo o deputado, familiares de Geraldinho o procuraram com a expectativa de vender a gravação em que o fazendeiro aparece conversando com Roriz sobre a dívida relacionada à fazenda. O deputado do DEM usou um gravador escondido para registrar o encontro. ;Gravei porque achei que fosse uma armação;, explica Fraga. Numa parte não gravada, André teria lhe cobrado R$ 50 milhões pelas imagens de Roriz. ;Eles disseram que aceitavam R$ 30 milhões, mas nunca pensei em comprar até porque, se eu tivesse esse dinheiro, estaria fazendo outra coisa da minha vida;, disse Fraga.

Chantagem
André esteve com Roriz em março, na casa do ex-governador no Park Way. Desse encontro, surgem duas versões. Na denúncia feita a Fraga, André disse que foi cobrar o pagamento da suposta dívida no Banco Real. O ex-governador disse que resolveria a pendência depois da eleição, quando reassumisse o Palácio do Buriti. ;Fui lá falar de uma dívida. Essa dívida é do banco, que o banco tem que penhorou a fazenda lá. Só que a fazenda foi passada para o Osvaldino;, disse André a Fraga. ;Quem pegou foi o velho. Não fomos nós. Eu fui lá falar da dívida;, afirmou no diálogo com o deputado.

A equipe de Roriz afirma que a história é outra. O coordenador de Comunicação da campanha de Roriz, Paulo Fona, sustenta que Geraldinho teve negócios de gado no passado com o ex-governador e os dois mantêm uma boa relação. Roriz já teria, inclusive, arrendado a fazenda de Geraldinho. Por isso, ele teria dado dinheiro ao neto dele, como uma forma de ajudá-lo agora. ;Esse sujeito (André) é um vigarista que tentou chantagear o (ex) governador depois que recebeu ajuda. Como não conseguiu, resolveu tentar arrancar dinheiro de outras pessoas;, afirma Fona.

Dos 2,6 mil alqueires da Fazenda Rasgado, hoje cerca de 2 mil pertencem a Osvaldino, que teria adquirido as terras em 2004. Do total, 600 alqueires foram vendidos à Agropecuária Palma, empresa da família Roriz, que são administrados pelo neto mais velho do ex-governador, Juliano. A assessoria de Roria afirma que não há nada de ilegal na operação. Toda a transação teria sido registrada em cartório e o pagamento do ITR (Imposto Territorial Rural) seria feito regularmente.

Amigo de Roriz, Osvaldino mantém contrato com o GDF desde 2000 sem licitação para coleta de lixo. Até 2006, a empresa era subcontratada pela Qualix, que detinha com exclusividade, os contratos de limpeza pública do DF. A partir de 2007, a Nely passou a receber diretamente do Governo do Distrito Federal. Nos últimos três anos e meio, a prestadora de serviços recebeu R$ 33,5 milhões. A assessoria de Roriz nega a suspeita de que Osvaldino seja um laranja de Roriz.

1 - Tráfico de influência
O cheque que provocou a renúncia de Joaquim Roriz, nominal ao empresário Nenê Constantino, era do Banco do Brasil, mas foi descontado na tesouraria do BRB por interferência do então presidente dessa instituição financeira, Tarcísio Franklim de Moura. O Núcleo de Combate às Organizações Criminosas do MPDFT ajuizou uma ação de improbidade contra Roriz, Constantino e Tarcísio Franklim porque considera que houve tráfico de influência na operação.

2 - Aliados pouco amistosos
Candidato ao Senado na coligação encabeçada por Joaquim Roriz, Alberto Fraga mantém uma relação conflituosa com o ex-governador. Quando gravou o encontro com André Barbosa, ele se preparava para disputar o GDF numa terceira via. O plano não deu certo e o DEM decidiu seguir com Roriz. Fraga, no entanto, anunciou que não pretende fazer campanha ao lado dele.

O número
180 mil

Número de eleitores no DF que o TRE pretende treinar ; por meio de demonstrações da urna eletrônica em locais públicos ; para reduzir o tempo de votação em 3 de outubro.


Relação antiga

Não é a primeira vez que o fazendeiro Geraldo Barbosa, conhecido como Geraldinho, aparece para tumultuar uma campanha de Joaquim Roriz ao GDF. Em 1998, ele deu uma entrevista ao Correio em que afirmou ter emitido notas fiscais frias do seu frigorífico em Luziânia (GO) para simular a compra de cabeças de gado de Roriz. Ele também contou que escondeu por mais de um ano o capataz Valdivino Vieira Pinheira, que trabalhou para o ex-governador. O funcionário era considerado testemunha-chave nas investigações da CPI do Orçamento no Congresso, em 1994, quando Roriz foi acusado de ter negociado a aprovação de emendas irregulares.

No relatório da CPI, Geraldinho aparece como comprador de 500 cabeças de gado de Roriz por valor equivalente a 150 mil dólares. O dinheiro teria sido depositado em contas do ex-governador. A receita cobriria parte da diferença apurada entre a renda de Roriz e sua movimentação bancária. Depois da entrevista ao jornal, Geraldinho voltou atrás. Em depoimento encaminhado ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF) pelo advogado Eri Varela, que representava Roriz, Geraldinho acusou o então distrital César Lacerda de ter lhe oferecido dinheiro para incriminar o ex-governador. Também envolveu na denúncia o então senador José Roberto Arruda, que concorria ao GDF. Arruda e Lacerda refutaram as acusações.

A assessoria de Roriz afirma que se trata agora da terceira geração da família de Geraldinho a pressionar o ex-governador. Mesmo assim, até agora ele não se negava a ajudá-los. Nos últimos meses, Roriz teria recebido ligações do neto de Geraldinho, André Barbosa, em que ele pedia dinheiro para não divulgar a imagem em que receberia dinheiro do candidato do PSC. O ex-governador não quis ceder à chantagem, segundo conta o coordenador de Comunicação da campanha, Paulo Fona. Os advogados de Roriz teriam três bilhetes em que André Barbosa relata estar negociando a gravação. O texto é impresso no computador. Barbosa e seus familiares não foram localizados ontem pelo Correio. (AMC)


DCE
Presidente se diz alvo de acusação falsa


O Diretório Central de Estudantes (DCE) do Centro Universitário de Brasília (UniCeub) registrou ontem queixa contra André Kerber, tesoureiro do diretório, e outros estudantes. O DCE os acusa de fazer denúncias falsas contra o presidente da entidade DCE, Carlos Eduardo Peixoto Guimarães, conhecido como Kaká e candidato a deputado distrital pelo PV. Segundo Jéssica de Oliveira, diretora de relações públicas do diretório, André teria entrado na instituição no domingo, usando um documento forjado, e trocado as fechaduras da sala do DCE. Ele teria, ainda, levado cerca de R$ 800, além de um celular e documentos. Mais tarde, quando Kaká e outros membros foram até a sala, eles perceberam o que ocorreu. ;Ele roubou o dinheiro e está acusando o DCE de não prestar contas desse valor;, afirma Kaká. Na noite de domingo, André denunciou Kaká à 2; Delegacia de Polícia (Asa Norte) por arrombar a sala do DCE do UniCeub. De acordo com Kaká, o tesoureiro e o vice-presidente do DCE, Luis Henrique Prata, cortaram relações com o diretório no fim de 2009 e tentavam retirá-lo da presidência. Ainda segundo Kaká, a motivação da intriga seria política. No entanto, André Kerber sustenta que parte da diretoria começou a fazer atividades paralelas após novembro de 2009, quando houve um saque no valor de R$ 9,9 mil da conta do DCE sem o conhecimento do tesoureiro. Kerber acredita que o montante seria usado na campanha de Kaká.