Aos 51 anos, Rodrigo Rollemberg (PSB), já grisalho, mantém a disposição de acordar bem cedo e dormir de madrugada no corpo a corpo com o eleitor. Mais maduro, no entanto, ele agora não é mais apenas o candidato da juventude. No primeiro mandato no Congresso, como deputado federal, conseguiu se destacar como líder da bancada do PSB durante dois anos, participou da discussão e aprovação de leis, como a da Ficha Limpa, e agora, pela segunda vez, em 20 anos de política, disputa um cargo majoritário. Em 2002, o socialista concorreu a um mandato de governador, sem sucesso. Ficou em 4; lugar. Rollemberg, no entanto, aposta que o momento atual é diferente. Na sua avaliação, o eleitorado, mais do que nunca, procura renovação e políticos com passado limpo. Embora evite fazer ataques duros a Joaquim Roriz (PSC), ele sustenta que o ex-governador integra uma safra de políticos do passado que já deram a sua contribuição. Por isso, Rollemberg mergulhou na candidatura do petista Agnelo Queiroz e avalia que o quadro de crise no DF possibilitará uma inovação nessas eleições ; a vitória de dois candidatos ao Senado do mesmo grupo. Depois de uma semana em que perdeu noites de sono e acendeu velas para espantar um problema relacionado a seu primeiro suplente, Hélio José, Rollemberg promete não interferir na escolha do substituto do petista que se desfiliou após ter o nome envolvido em denúncias de abuso sexual. O novo suplente, segundo Rollemberg, será, mais uma vez, uma escolha do PT.
Esta semana, o fato relevante foi o indeferimento da candidatura de Joaquim Roriz. Qual será o reflexo na sua campanha?
Esse é um assunto da Justiça. É claro que a Justiça tem suas razões para ter tomado essa decisão. A Lei da Ficha Limpa está criando outros referenciais da política no Distrito Federal e no país. Mas nós temos que nos preocupar é com a nossa campanha.
Esta situação de indecisão sobre o destino de Roriz traz algum reflexo direto na campanha de Agnelo?
Percebo que a campanha de Agnelo vem ganhando substância a cada dia. O ânimo está maior. Há um sentimento de crescimento independentemente da decisão relacionada ao Roriz.
Maria de Lourdes Abadia também pode ter o registro negado pela Lei da Ficha Limpa. Isso favorece seus planos?
Eu me preparei para fazer uma campanha propositiva. A contribuição que a gente pode dar é essa. Não estou preocupado com a decisão da Justiça em relação à Abadia. É claro que traz consequências na campanha. Mas quero que as pessoas votem em mim independentemente dos adversários, em função das propostas para o DF e para o país.
Tradicionalmente, na história do DF, na disputa por duas vagas, dois candidatos de grupos opostos sempre foram eleitos. Por que dessa vez seria diferente?
Há um sentimento muito forte de renovação. Mais do que isso. De inovação na política do DF. E acho que uma das inovações será a eleição de dois senadores do campo democrático e popular. Tenho feito uma campanha bastante colada na do Cristovam. Tenho dito que será bom para o DF eleger dois senadores com esse perfil, um ex-governador que levanta a bandeira importante para o país, que é a educação, um homem correto. E apresento toda a minha trajetória, especialmente o meu mandato como deputado federal em que fui muito bem avaliado pelo Diap (Departamento Intersindical de Assuntos Parlamentares), fui eleito por 146 jornalistas que cobrem o Congresso Nacional como um dos 10 melhores deputados, bati todos os recordes de recursos para o DF desde que existe a representação política e me envolvi em projetos importantes para o aperfeiçoamento político do país, como a Lei da Transparência, a Lei da Ficha Limpa. Portanto, me sinto preparado e o PSB também considerou que seria o momento de disputar o Senado com o apoio de 11 partidos.
O PSB tem o discurso da ética, mas Rogério Ulysses, o único deputado distrital eleito pelo partido em 2006, foi citado na Caixa de Pandora. Ficou alguma sequela no partido?
Não. O PSB foi muito firme. Ele foi expulso. Foi uma decisão tomada por unanimidade depois de um processo em que se garantiu ampla defesa, mas em nenhum momento o PSB titubeou em manter o princípio em defesa da ética.
Na campanha, o senhor teve um problema com seu primeiro suplente, Hélio José, acusado de agressão sexual de uma menor. Esse assunto está resolvido?
Eu não personalizo as questões da política, mas tive uma informação de caráter grave e me senti na obrigação de comunicar o PT e pedir a substituição. O PT entendeu a importância disso e tomou as providências, de forma que o assunto está superado.
O que, de fato, aconteceu?
Fui procurado por uma menina, uma sobrinha, parente dele, que relatou que tinha sido; muito constrangedor para mim falar disso porque se tratam de assuntos familiares. Mas tive um contato com a vítima, procurei me certificar de tudo isso, inclusive na companhia de um dirigente do PT, designado pelo partido. Ele teve conversas com parentes da vítima que confirmaram. Portanto, nós não tínhamos outra alternativa a não ser comunicar o PT e pedir a substituição.
O Hélio José tem dito que essa denúncia foi uma estratégia pensada porque o senhor queria trocar a primeira suplência e indicar um empresário do ramo da indústria química;
Isso não procede. Desde o primeiro momento, o acordo é para que o suplente fosse indicado pelo PT. O partido, com seus fóruns internos, indicou. Em nenhum momento, questionei isso, mas, em função da gravidade do fato, não poderia me omitir e tomei as providências que julguei necessárias.
Agora quem vai ser o suplente?
Quem o PT indicar.
Existe dificuldade de arrecadação na sua coligação?
Acho que sim, até pela pouca quantidade de material disponível. Mas eu sempre fiz campanha com poucos recursos. As minhas campanhas são um acúmulo da minha trajetória política, de coerência, de compromisso e serviços prestados ao DF. Acho que isso conta muito, especialmente numa campanha majoritária que privilegia o corpo a corpo. Acordo muito cedo e durmo muito tarde.
O PT e a esquerda nunca conseguiram derrotar Roriz. Dessa vez, será diferente?
O Roriz pertence a uma outra geração de políticos que teve o seu tempo, a sua vez. O Brasil e especialmente o DF vivem um momento de renovação na política. Isso será confirmado nas urnas em 3 de outubro.
Roriz é seu adversário, mas o senhor limita as críticas a ele. Por quê?
Com o tempo a gente percebe claramente que a população está interessada em ouvir propostas. A população conhece muito bem as virtudes e os defeitos de todos os candidatos. O que interessa saber é o que de positivo cada um tem para propor, o que de concreto vai melhorar para a vida dela e para o conjunto do DF a partir das propostas de cada candidato. Estamos muito focados nisso, com o objetivo de mudar a imagem do DF. Brasília surgiu a partir de uma proposta extremamente inovadora, de ser vanguarda de políticas públicas e em função dessas denúncias de corrupção a cidade acabou se confundindo com a imagem do atraso. Nós temos que resgatar a imagem de Brasília e isso vai se refletir em termos de propostas e não atacando fulano e beltrano.
O eleitor está mais crítico e arredio em relação aos políticos na campanha?
Imagino que em relação a alguns políticos, sim. Quero dizer que estou extremamente satisfeito, até agradecido com a receptividade que tenho recebido da população. Acho que isso é fruto de muitos anos de trabalho e sacrifício que a vida pública nos impõe. Tenho ido muito à Rodoviária, às feiras e tenho sido muito bem recebido. Chega a ser comovente.
O eleitor do PT e o do PSB já aceitaram a aliança com o PMDB?
No momento do anúncio, houve uma reação. Mas percebo que hoje há uma integração muito grande e o reconhecimento da participação do (Tadeu) Filippelli. E há uma percepção de que o presidente Lula só conseguiu produzir os avanços que fez porque foi capaz de construir uma ampla aliança. E só vamos poder implementar as políticas públicas que defendemos para o DF se formos capazes de construir uma aliança para ganhar a eleição e para governar com tranquilidade.
A sua candidatura ao Senado com o apoio do PT entrou nessa negociação do PSB para apoio a Dilma Rouseff?
Em nenhum momento a minha candidatura foi negociada no plano nacional. Surgiu de um movimento natural, especialmente no momento em que o Magela desistiu de ser candidato ao Senado para disputar as prévias ao governo. Ficou um vazio naquele momento e fui estimulado pelo PSB e outros partidos a disputar.
O presidente Lula vai gravar apoio a sua candidatura?
Acho que quando começar o programa eleitoral, o Lula participará das campanhas majoritárias.
Quais serão suas propostas?
São muitas. Por exemplo, imposto zero sobre a cesta básica. Isso tem um impacto enorme para aumentar o poder de compra da classe trabalhadora, especialmente dos mais pobres. Eleição direta para administração regional também é um tema. Temos de garantir que os administradores sejam eleitos pela população. Queremos fazer uma reforma política que amplie a democracia, que aumente os espaços da população. Por exemplo, reduzir o número de assinaturas para projetos de iniciativa popular. Dar à população o direito de tirar aqueles candidatos majoritários que não cumprirem com seus programas ou que descumprirem a lei.
O senhor começou na política há 20 anos como o candidato da juventude. Hoje, aos 51 anos, apresenta qual perfil para o eleitorado?
Uma pessoa muito comprometida com o desenvolvimento do DF. É muito legal as pessoas me apresentarem como um candidato ao Senado jovem. E temos um grande desafio de criar oportunidades para a juventude. Mas hoje acho que as pessoas me veem como alguém que gosta do DF e tem compromisso com a cidade.