Helena Mader
postado em 06/08/2010 07:00
Homens armados, capatazes que se comunicam por rádio, cercas destruídas, ameaças de morte. A disputa por terras na capital do país transformou uma das áreas mais nobres da cidade em um faroeste. A venda irregular do mesmo lote a diversos compradores e a atuação de grileiros na região do Condomínio Privê Lago Norte 1, à beira do Lago Paranoá, são hoje o principal motivo de registro de ocorrências na 9; Delegacia de Polícia. ;Nossa grande preocupação é que esses conflitos e ameaças acabem em morte;, afirma o delegado chefe da unidade, Silvério Moita.Os terrenos que estão no centro da disputa ficam em terras públicas, de propriedade da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap). Ao todo, o Privê do Lago Norte 1 tem 280 lotes, 200 deles ocupados. Os 80 imóveis vazios são o grande alvo dos criminosos que agem no local. Além de visar os terrenos demarcados, eles também criam novos lotes em áreas de preservação permanente (APP) e em espaços reservados para abrigar equipamentos públicos no futuro, como postos de saúde ou escolas.
Derrubadas
Os moradores mais antigos e a administração do condomínio juntaram dinheiro para colocar cercas e guaritas no local e, assim, tentar controlar o acesso dos invasores. Os lotes ambientalmente sensíveis receberam placas de sinalização, com telefones para denúncia. Mas durante a madrugada, os grileiros derrubam os piquetes nos fundos do parcelamento, entram com caminhões repletos de material de construção e, em pouquíssimo tempo, demarcam terrenos e constroem muros.
Quando o antigo comprador do imóvel chega para construir ou visitar seu terreno, encontra o lote cercado, muitas vezes vigiado por homens pagos pelos grileiros. Os casos vão parar ou na Justiça, ou na polícia. A advogada Carla (nome fictício), 29 anos, passou por essa desagradável experiência no começo deste ano. Ela mora com o marido e os dois filhos na casa do pai, no Privê Lago Norte 1. A família mantém outro lote vazio no mesmo condomínio desde 1992, para que Carla pudesse construir a própria casa no futuro. Mas a advogada decidiu respeitar a proibição de construir no parcelamento e aguardava o momento certo para começar as obras.
Em maio, ela foi surpreendida pela construção de um muro em seu lote. ;Um dia eu estava chegando na casa do meu pai quando vi um caminhão lotado de material de construção encostado em frente ao meu terreno. Fiquei muito assustada e tentei impedir que os funcionários descarregassem o material. Entrei na frente do caminhão, mas o homem que comandava a invasão mandou que os pedreiros passassem por cima de mim. Ele agia com muita violência, me ameaçou. Estamos todos apavorados;, afirma. A advogada recorreu à polícia e à Justiça, com um pedido de reintegração de posse. Com isso, conseguiu impedir a tentativa de invasão, pelo menos temporariamente.
Medo e ousadia
Até mesmo os representantes da administração do Privê Lago Norte 1 têm medo de aparecer, diante da violência e da ousadia da quadrilha que tenta invadir a área. Um dos diretores do condomínio conta que vai à 9; Delegacia de Polícia pelo menos duas vezes por semana. ;Por conta do nosso trabalho para impedir as invasões, estamos sendo ameaçados de morte. Recebo ligações durante a madrugada;, reclama um integrantes da administração do parcelamento. ;Minha família está com muito medo. Mas precisamos agir, já que chamamos a fiscalização, denunciamos ao governo e ninguém faz nada;, reclama o dirigente do condomínio.
Localizado ao lado do Setor de Mansões do Lago Norte, com vista privilegiada para o Lago Paranoá, o Privê Lago Norte 1 é muito visado por conta da valorização rápida da área. O condomínio é irregular, mas já tem projetos urbanísticos e o processo de regularização fundiária está em andamento. No início do ano passado, um lote no parcelamento custava R$ 40 mil. Hoje, os mesmos imóveis não saem por menos de R$ 200 mil. Um dos grileiros que atuam no Privê criou e vendeu seis lotes em área de preservação permanente. Ou seja, ganhou pelo menos R$ 1,2 milhão com a ação criminosa.
Derrubada de imóvel no Taquari
O juiz da Vara do Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Fundiário do DF frustrou a iniciativa de um morador do Bairro Taquari com o objetivo de evitar a demolição do imóvel de 390 metros quadrados, erguido em área pública, dentro do Parque Ecológico Taquari e sem alvará de construção. O morador argumentou que adquiriu o lote em 1994, quando o parque não existia. Ainda assim, a Justiça manteve a derrubada da casa.