O PT vai escolher outro nome da própria legenda para integrar como primeiro suplente a chapa encabeçada pelo deputado Rodrigo Rollemberg (PSB) ao Senado. Para estancar uma crise provocada pelas denúncias de abuso sexual contra uma sobrinha, o secretário de Assuntos Institucionais e Políticos do PT, Hélio José da Silva Lima, pediu ontem a desfiliação do partido. Na véspera, a direção regional tentou, em vão, aprovar o afastamento cautelar do dirigente. Embora a tese tenha sido aprovada por maioria, não houve quorum suficiente para suspendê-lo do cargo até que as acusações de pedofilia fossem esclarecidas. Para evitar o desgaste e o sangramento público, no entanto, Hélio José decidiu sair de cena.
Em carta encaminhada ao presidente regional do PT, Roberto Policarpo, o agora ex-dirigente disse que tem sido vítima de ;graves acusações;, ;sem qualquer espaço de defesa;. Há 30 anos no PT, ele é líder da corrente Base Petista e Socialista, que detém cerca de 15% dos votos nos encontros e convenções petistas, com poder de interferir em decisões apertadas, como as prévias para escolha de candidato ao governo e no processo de eleição direta (PED) para a seleção do presidente regional. Na disputa interna pela indicação da corrida ao Executivo, Hélio José esteve ao lado do deputado Geraldo Magela (PT), mas sua corrente teve papel importante para a liberação da segunda candidatura ao Senado para o PSB (1), o que permitiu a aliança do PT com Rodrigo Rollemberg no páreo para o Senado.
Por conta da força de sua tendência, Hélio José foi escolhido pelo diretório regional como primeiro suplente de Rollemberg. Em caso de vitória do socialista e uma eventual licença do titular, o petista se tornaria senador. Desde o início, no entanto, o candidato ao Senado e seu grupo político não concordavam com essa indicação do PT. Na semana passada, ele recebeu uma denúncia ; depois protocolada na presidência do partido ; de que Hélio José teria cometido abusos sexuais contra uma sobrinha, hoje com 23 anos, quando ela tinha entre 11 e 15 anos.
Familiares
A acusação foi feita pela própria jovem, que contou ter escondido o sofrimento ao longo de anos. Ela procurou Rollemberg duas vezes para dizer que seu tio não poderia se tornar senador. ;Soube de um fato grave e, na condição de homem público, cidadão e pai, não podia me omitir. Entendi que meu dever era comunicar o PT e solicitar a substituição;, afirma Rollemberg. Hélio José esteve ontem no Correio acompanhado de um sobrinho, João Henrique Lima, de um irmão, Itamar Lima, da esposa, Edir, e de militantes petistas que o apoiam. Os familiares deram testemunho a favor de Hélio José contra as acusações da jovem.
Compadre de Hélio José, o ex-deputado Chico Vigilante saiu em defesa da jovem. ;Esse sofrimento é solitário e muitas vezes a vítima não tem coragem de denunciar. Quando resolve falar, não tem nem mesmo o apoio da própria família;, disse o petista, que trabalhou internamente para aprovar o afastamento de Hélio José dos quadros do PT, assim como o presidente regional, Roberto Policarpo. A suspensão contou com o apoio também de integrantes das correntes da esquerda do PT. Os representantes do distrital Chico Leite, do deputado federal Geraldo Magela e do próprio Hélio José na executiva regional defenderam a abertura de prazo para que ele pudesse se defender. ;Para mim, a defesa é um princípio de que não abro mão;, explicou Chico Leite.
Com a desfiliação de Hélio José, a direção do PT deverá comunicar a nova situação ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF) para que o pedido de registro da candidatura dele como suplente seja rejeitado. Em seguida, o PT deverá indicar um substituto. Rollemberg afirma que não sabe quem será escolhido, mas garante que não vai se intrometer. Entre os petistas lembrados para a substituição de Hélio José estão Daniel Seidl e Pedro Celso, um dos responsáveis pela agenda da campanha de Agnelo Queiroz. Hélio José sustenta ser vítima de uma execração pública, que prejudicou sua família, supostamente organizada por Rollemberg para tirá-lo da chapa. Demonstra que agora vai trabalhar contra a candidatura dele ao Senado. Quanto às denúncias da sobrinha, os familiares saem sua defesa e apontam o ex-dirigente do PT como um pai íntegro e dedicado, mas ninguém apresenta um motivo real para desmontar a história de abuso sexual contada pela jovem.
1 - Escolha
O senador Cristovam Buarque (PDT) foi o primeiro escolhido para concorrer ao Senado na chapa encabeçada por Agnelo Queiroz (PT). Na negociação, Cristovam reivindicou que o segundo candidato fosse Rodrigo Rollemberg (PSB). No PT, havia uma discussão sobre ceder a vaga para o petista Geraldo Magela, que concorreu e perdeu as prévias para o governo com Agnelo.
Sem nenhuma mudança no DEM
Reunida ontem na sede do partido, a executiva regional do DEM chegou a uma conclusão: a aliança da legenda com o ex-governador Joaquim Roriz (PSC) e a candidatura do deputado Alberto Fraga (DEM) ao Senado são irreversíveis. Dessa forma, a saída para a crise criada com o afastamento declarado de Fraga da campanha de Roriz é tentar encontrar uma acomodação política dentro do cenário possível. Fraga continuará em sua posição de independência e o grupo rorizista mantém rejeição a aliados de José Roberto Arruda.
O presidente regional do DEM, Adelmir Santana, afirma que tentará ser uma ponte para uma reaproximação entre os dois candidatos majoritários. ;Vou tentar marcar um encontro entre eles;, disse. Ele vai trabalhar para evitar que Fraga use o tempo de televisão para atacar Roriz. ;Somos aliados. Não podemos ficar nos atacando;, acredita o senador, que concorre ao mandato de deputado federal. Fraga, por sua vez, garante que não há necessidade de marcar encontros com Roriz. ;Vou continuar minha campanha sem participar dos comícios de Roriz. Já disse que não vou usar o horário eleitoral para atacar ninguém. Serei propositivo, mas cada ação tem uma reação;, ressaltou.
O deputado federal que integrou o governo Arruda como secretário de Transportes reclama que aliados da coligação têm feito duras críticas à administração do DEM. Fraga se sente ofendido quando alguém afirma que houve corrupção em todas as áreas da gestão. Segundo ele, esses discursos ofendem vários integrantes do DEM que participaram do governo Arruda, como os deputados Eliana Pedrosa, ex-secretária de Desenvolvimento Social; Paulo Roriz, ex-secretário de Habitação; e Roberto Giffoni, que foi titular da Secretaria da Ordem Pública e da Corregedoria. A raiz dos conflitos entre o grupo rorizista e o DEM se deve ao embate com José Roberto Arruda, que se tornou um grande adversário de Roriz mesmo antes da Operação Caixa de Pandora. De acordo com o coordenador de comunicação da campanha de Roriz, Paulo Fona, o ex-governador respeita as decisões do DEM.