A prisão da manicure Iara Cristina Silva, 22 anos, será investigada por mais dois órgãos, além da corregedoria goiana. O Conselho Nacional de Justiça(CNJ) quer explicações dos tribunais de Brasília e de Goiás sobre os motivos de a jovem ter sido mantida presa por oito meses, mesmo com uma sentença de absolvição e um alvará de soltura expedido em 17 de novembro de 2009, determinando que ela ganhasse a liberdade imediatamente. A Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) também determinou a instauração de um procedimento administrativo para apurar a veracidade dos fatos denunciados pelo Correio.
A jovem soube dos pedidos de investigação pela reportagem. ;Eu acho bom. O que aconteceu comigo pode acontecer com vários. É o certo, pelo certo. Porque aqui fora, se você erra, ninguém perdoa, não. Tem que pagar;, comparou Iara Cristina. Ela foi condenada, em 2008, a 14 anos e seis meses de prisão, acusada de ter participado de um sequestro, em outubro de 2006, da família de um gerente do Banco do Brasil de Formosa (GO).
O diretor do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socieducativas (DMF), juiz Luciano Losekann, encaminhou ontem ofício aos corregedores de Justiça de Goiás e do DF solicitando informações sobre o caso em até 20 dias. O DMF é um órgão do Conselho Nacional de Justiça. Se constatadas falhas no processo, os envolvidos poderão responder administrativamente.
Em nota divulgada hoje, a Corregedoria-Geral de Justiça do DF esclareceu que o procedimento administrativo foi aberto na quarta-feira. E adiantou que informações da Vara de Execuções Penais do DF (VEP-DF) dão conta de que a jovem não possui qualquer processo de execução ou condenação no DF e que permaneceu custodiada na condição de presa provisória. Segundo apurou-se até agora, a VEP-DF sequer foi comunicada a respeito da condenação de Iara Cristina para fins de acompanhamento da execução da pena.
Não era alvará
Em relação ao suposto envio de cópia autenticada do alvará de soltura de Iara Cristina pela comarca de Formosa em 18 de fevereiro ; e que teria sido recebida em 5 de março deste ano pela Justiça do DF ; a corregedoria esclarece na nota que o documento ;diz respeito, tão somente, a expediente do juízo que havia decretado a prisão, informando que estaria prejudicado, em razão de sua absolvição, um pedido anterior de declaração de vaga em presídio para cumprimento de pena no DF pela senhora Iara;.
A suspeita de que Iara Cristina estava presa indevidamente teria surgido após a VEP-DF solicitar à Justiça goiana informações sobre o motivo da prisão. ;Com as informações recebidas, verificando-se a possibilidade de a cidadã estar indevidamente recolhida em presídio nesta capital federal, durante inspeção regularmente realizada pela VEP-DF, a direção do presídio feminino foi orientada pela VEP-DF a buscar, pessoalmente, no juízo que havia decretado a custódia cautelar, cópia autenticada do alvará de soltura a ser cumprido, pelo estabelecimento prisional, independentemente de qualquer outra providência.;
A movimentação da Justiça para apurar se houve falha no processo parece insuficiente para estancar o sofrimento provocado pela prisão. Em todas as conversas, Iara Cristina repete que vai provar, para quem duvidou, que é inocente. ;Eu quero que a Justiça me coloque naquela sala com o vidro escuro e peça para os meninos que participaram do sequestro e as vítimas me reconhecerem. Eles vão dizer: ;vocês pegaram a mulher errada. Não é essa aí, não;;, planeja.
Iara Cristina ainda procura emprego. Também não teve coragem de voltar à Penitenciária Feminina do Gama ; onde ficou presa por dois anos e um mês ; para buscar os documentos de identidade e CPF. ;Tenho que dar um rumo para a minha vida. Tenho que sair da casa da minha mãe, porque ela não ganha nem para ela. Preciso conseguir dinheiro, achar o meu filho e o meu marido. Estou sem rumo, sem saída.;