Jornal Correio Braziliense

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Fiscalização na Feira da Orca faz movimento cair

Quem circula pelas redondezas da QS 3 de Taguatinga nas manhãs de domingo já deve ter notado o engarrafamento e a assustadora quantidade de carros pelas ruas. Na região, funciona, há mais de 30 anos, a Feira da Orca, comércio informal onde agências de revenda de automóveis e até mesmo proprietários de carros particulares estipulam um preço, expõem os carros e ficam à espera dos compradores, que chegam em hordas. Já é tradição encontrar meios-fios lotados de carros, canteiros transformados em pista de exposição e um espaço mínimo nas faixas de rolamento garantindo a circulação dos motoristas. Há duas semanas, porém, esse cenário começou a mudar. A Polícia Militar, que já coíbe a expansão do comércio no local, endureceu a fiscalização.

Domingo de manhã, as pistas próximas à feira estavam vazias e os meio-fios, excepcionalmente visíveis. A ação de ontem contou com apoio do Comando de Policiamento Rodoviário (CPRV), que, por meio de uma ordem de serviço, foi ao local para notificar e, se preciso, rebocar carros de proprietários mais insistentes. ;Por aqui, o pessoal estaciona em fila dupla e prende outros veículos. É difícil até para os pedestres circularem;, relata o cabo Edno Honório da Silva, que participou da missão. Ele permaneceu na região da feira das 7h30 às 12h30 e preencheu nove notificações para motoristas que estacionaram de forma inadequada. Antes de aplicar as multas, pediu a todos que retirassem os veículos dos lugares proibidos.

A medida foi criticada por vendedores e também por parte da clientela. ;Vamos colocar os carros onde?;, questionava Rony Clayton da Sousa, 19 anos, vendedor de uma das agências. Segundo ele, desde que as ações de fiscalização de trânsito começaram, os compradores foram afugentados. A média de vendas a cada domingo varia de três a quatro automóveis, mas, uma hora antes de a feira se encerrar, a agência para a qual trabalha não havia vendido uma unidade sequer.

A dona de casa Lislene Cristina Monteiro, 28 anos, depois de mais de 20 visitas à Feira da Orca, também estranhou a novidade. ;Assim que cheguei, pensei: cadê a feira? Pelo menos 60% dos carros desapareceram;, avaliou. Ela já vendeu quatro carros no local, que considera o mais econômico e vantajoso para se fechar negócios automotivos. ;Com certeza o trânsito melhorou, mas a oferta, infelizmente, diminuiu muito.;

Ambulantes
E não só os donos de carros foram obrigados a entrar na linha. Uma operação da Secretaria de Estado da Ordem Pública e Social e de Controle Interno do DF (Seops), no domingo retrasado, retirou os ambulantes que vendem alimentos e bebidas no local. ;Tive que levar churrasco pra casa e dividir entre os vizinhos;, lamentou o vendedor João Pereira da Silva, 52 anos de idade e 18 de Feira da Orca. Segundo ele, a medida de garantir a circulação de carros e pedestres é correta, mas os trabalhadores não deveriam ser impedidos de atuar. Pereira relata que existe uma proposta antiga de mudar a feira para uma área na Estrutural ou para o Estádio Serejão, mas essa ideia nunca vingou. Recentemente, ele foi à administração da cidade para negociar a legalização do comércio e recebeu como reposta a informação de que não há medida possível em período eleitoral, o que poderia ser confundido com favorecimento. ;Enquanto não houver novo governo, nos mandaram correr para evitar o rapa (a fiscalização);, protesta.

Na contramão dos expositores e dos compradores, a vizinhança apoiou o arrocho dos órgãos de fiscalização. Vendedor de uma unidade da concessionária Smaff localizada ao lado da feira, Renan Amorim, 27 anos, comemorou a tranquilidade recém-conquistada. ;O excesso de trânsito sempre nos atrapalhou. Os vendedores da feira estacionam os carros na frente da nossa loja e chegam a tampar os acessos de entrada e saída. Muito cliente já ficou preso dentro ou não conseguiu entrar. Já teve até briga por isso;, revela. Amorim relata que um cliente esperou cerca de um mês para ir à concessionária comprar um carro, porque só pode ir aos domingos e não conseguiu entrar no terreno da Smaff. Ontem, finalmente fechou o negócio. ;Até nós, que trabalhamos por aqui, precisamos estacionar em um supermercado e caminhar cerca de meio quilômetro pra chegar aqui;, protesta.

Tradição
A Feira da Orca existe desde 1978 e ganhou esse nome devido à proximidade com a concessionária de mesmo nome. Os primeiros vendedores chegam por volta das 6h e ficam até cerca de 13h. A feira movimenta o mercado de ambulantes, que vendem desde comidas e bebidas a formulários com informações sobre o veículos, geralmente afixados nos vidros. A movimentação desperta até o interesse dos hotéis da cidade, localizados nas redondezas.