Jornal Correio Braziliense

Cidades

Novas regras estabelecidas para as clínicas do DF visam evitar mortes

Antes, "pouquíssimas cautelas eram adotadas", segundo o promotor de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde, Diaulas Costa Ribeiro

Para tentar controlar um mercado cada vez mais lucrativo e ao mesmo tempo perigoso, entrou em vigor na última quinta-feira um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) ; assinado entre o Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT), o Conselho Regional de Medicina (CRM) e a Vigilância Sanitária ; que traz uma série de novas regras a serem seguidas pelas clínicas do setor. As mudanças nas realizações das cirurgias plásticas foram provocadas pelo MPDFT depois que a tesoureira Marinalda Araújo Neves Ribeiro, 46 anos, morreu em uma mesa de cirurgia, em 9 de julho, ao se submeter a uma lipoaspiração, retirada de excesso de pele, além de reparação de pálpebras.

Na luta para impedir novas mortes, as clínicas foram divididas em quatro classificações, de acordo com a complexidade do procedimento que pode ser realizado no local. Outra determinação do TAC está na definição do endereço da clínica, que não deve ficar a mais de 10km de distância de um hospital. Os custos com as plásticas, dessa forma, devem sofrer alterações, uma vez que serão necessárias mais internações. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), no entanto, não sabe precisar em quanto os gastos serão maiores. Quando realizado em um hospital do DF, o preço da intervenção chega a ficar R$ 5 mil ou R$ 6 mil mais caro que em uma clínica.

;Quando um paciente vai passar por uma vasectomia, ou uma laqueadura tubária, por exemplo, ele tem que seguir pré-requisitos especificados por lei. Para uma laqueadura, a mulher tem que ter no mínimo 25 anos ou pelo menos dois filhos vivos. Já no caso das cirurgias plásticas, até então, pouquíssimas cautelas eram adotadas;, lembra afirmou o promotor de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde (Pró-Vida), Diaulas Costa Ribeiro. De acordo com o Conselho Regional de Medicina (CRM), as clínicas terão até um mês para se adequarem à normatização.

Insegurança
Mesmo com os cuidados adotados, muitos potenciais pacientes de cirurgiões plásticos ainda não se sentem seguros. Uma peregrinação por seis médicos, visitas a clínicas e baterias de exames não foram suficientes para convencer a estudante Elisa Almeida, 25 anos, a realizar uma cirurgia plástica para redução dos seios. Cultivando há cinco anos a vontade de fazer o procedimento, ela ainda sente insegurança em definir uma data para a intervenção.

Após conhecer clínicas, instalações hospitalares e diferentes perfis de profissionais, ela pode confirmar o lucrativo mercado movido pelas promessas de beleza e modelos estéticos. Para a realização da cirurgia no DF, Elisa recebeu orçamentos que variam de R$ 3 mil a R$ 15 mil, sem contar os gastos com os procedimentos básicos. ;Não acho que seja algo simples e por isso me preocupo. Fiz questão de entender, não vou colocar a minha vida em risco. Vou fazer a cirurgia por uma questão de saúde, simplesmente por estética eu não faria algo do tipo;, considera.

Mais tempo, maior risco
Quanto maior o número de associações de procedimentos pelos quais o paciente decide optar, mais altos também são os riscos das cirurgias plásticas. ;O que define o risco é o tempo que o paciente vai passar em procedimento cirúrgico. Um maior tempo exige mais anestesia e envolve uma maior possibilidade de complicações, como uma trombose, por exemplo;, explica o cirurgião plástico e professor da Universidade de Brasília (UnB), Jefferson Macedo. As cirurgias mais procuradas são as para colocação de próteses de silicone e as de lipoaspiração.

Segundo o professor, o indicado é que sejam feitos, no máximo, dois procedimentos por vez. ;Cabe ao médico ter a coragem e a clareza de explicar isso ao paciente e dizer não;, conclui. Ainda de acordo com Macedo, se a cirurgia plástica for realizada adequadamente, representa o procedimento cirúrgico que menos apresenta riscos. ;Nós operamos o paciente em bom estado, não doente;, considera.