O Governo do Distrito Federal anunciou ontem que não haverá reajuste de passagem. A decisão foi tomada depois de auditoria realizada nas planilhas de custos do transporte coletivo do Distrito Federal. Os formulários foram cedidos pelos próprios empresários de ônibus. A análise, que durou 29 dias, foi feita por auditores e especialistas do GDF com apoio de técnicos da Secretaria de Transporte de São Paulo. Os detalhes do trabalho serão apresentados pelo governador Rogério Rosso na segunda-feira. O aumento era dado como certo pelos empresários. Eles alegam operar com deficit (1) de 28%, uma vez que não há reajuste de tarifa há quatro anos e meio. O Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo do DF (Setransp-DF) disse que não irá se pronunciar enquanto não tiver mais informações sobre a conclusão da auditoria.
Apesar do anúncio, não há iminência de greve dos rodoviários, pelo menos por enquanto. Ontem, com três dias de atraso, os empresários da Viplan, da Planeta e da Riacho Grande depositaram na conta dos 8 mil rodoviários os 40% do adiantamento do salário e os R$ 112 da cesta básica, que deveriam ser pagos no último dia 20. Com isso, os motoristas e cobradores afastam a possibilidade de greve. A assembleia marcada para amanhã foi cancelada.
De acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo do DF (Setransp-DF), os patrões conseguiram honrar os compromissos trabalhistas com empréstimos nos bancos, uma vez que eles declaram estar no vermelho. No entanto, já deixaram a entender que não terão dinheiro para pagar o restante (60%) do salário dos trabalhadores, no próximo dia 5. ;Ficaremos no aguardo dos novos fatos. Por enquanto, a possibilidade de greve está descartada;, afirmou o presidente do Sindicato dos Rodoviários, João Osório.
Trégua
O atraso de parte do salário dos rodoviários resultou em protestos de uma parcela da categoria. Durante três dias consecutivos, os empregados realizaram paralisações relâmpago nos horários de pico, o que prejudicou muito a população ; os grupos Viplan e Planeta são responsáveis por cerca de 65% do sistema de transporte público do DF.
Ontem, antes de saber do depósito, os rodoviários já haviam decidido dar uma trégua ao movimento e aguardar o desenrolar dos fatos. Os primeiros ônibus saíram da garagem pontualmente às 4h30. E a normalidade continuou durante o dia. Assim, o usuário do transporte coletivo não enfrentou problemas ontem. ;Hoje (ontem) eu consegui chegar na escola onde trabalho no Gama, mas na quarta-feira faltei por causa da greve. Cada dia é de um jeito, a gente fica à mercê do sistema;, desabafa o auxiliar de ensino José Coleta de Medeiros, 57 anos, morador de Samambaia Norte. A doméstica Rosa Pacheco, 30 anos, também não teve dificuldade para usar o transporte coletivo. ;Quando tem greve é difícil. É preciso ir atrás de transporte pirata. Mas eu acho justa a causa deles. Trabalhar sem receber não dá;, argumentou a moradora do Paranoá.
1 - Reajuste de 42,5%
Os empresários alegam que há quatro anos e meio o valor da passagem de ônibus não é corrigido. O presidente do Setransp-DF, Wagner Canhedo Filho, já declarou que seria preciso um reajuste de 42,5% para cobrir o deficit (28%) e o reajuste de 9% concedido aos trabalhadores em junho. O custo médio da passagem no DF é de R$ 2,50. O sistema de transporte coletivo recolhe mensalmente R$ 60 milhões.