O passado de Adaylton Nascimento Neiva, 31 anos, parece guardar mais surpresas do que a polícia imagina. Ontem, ele confessou mais um homicídio, cometido no ano passado. A vítima é a dona de casa Evanilde dos Santos Ribeiro, 41 anos. O corpo dela foi encontrado num matagal, próximo à BR-020, na altura do km 12, em Sobradinho, em 29 setembro. Evanilde saiu de sua residência, na Fercal, no da 25 daquele mês para matricular o filho numa escolinha de futebol e não voltou mais. Adaylton usou um cordão para esganar Evanilde. Essa é, aliás, uma das características comuns dos crimes praticados pelo assassino. Em dezembro de 2009, ele tirou a vida de Alessandra Alves Rodrigues, 14, sufocando-a com a ponta dos dedos. Em 2000, matou a enteada de 5 anos asfixiada com um saco plástico. No mesmo dia, assassinou a pauladas sua companheira, que estava grávida de cinco meses. Todos esses crimes foram cometidos no Novo Gama (GO). Ele ainda assumiu ter estuprado três mulheres no Gama.
O delegado-chefe adjunto da 13; Delegacia de Polícia (Sobradinho), Rogério Oliveira, contou que só foi possível desvendar a autoria do homicídio porque Adaylton passou a usar o celular de Evanilde depois de matá-la. Com a quebra do sigilo telefônico do aparelho, ela passou a ser o principal suspeito. De acordo com o delegado, o maníaco do Novo Gama, como ele já está sendo chamado no município goiano, pode ser o autor de vários outros crimes no Distrito Federal. ;Depois de ouvi-lo, vamos entrar em contato com as outras delegacias do DF para apurar o envolvimento dele em outros delitos que até então estão sem solução. Ele é muito colaborativo e afirmou ter muito a dizer;, afirma Rogério Oliveira.
Suicídio
O assassino confesso continua detido no Centro de Operações de Segurança (Ciops) do Novo Gama. Na manhã de ontem, ele tentou se enforcar com a própria camiseta. ;Ele rasgou a camisa, fez um nó e tentava amarrar no alto da cela. Nossos agentes chegaram a tempo de evitar o suicídio. Estamos monitorando a cela dele a cada 10 minutos;, ressalta o delegado-chefe do Ciops, Fabiano de Souza Medeiros. Hoje, Medeiros pretende voltar à cena do assassinato de Alessandra, em busca de novos elementos que possam contribuir nas investigações.
O acusado negou ter abusado de Alessandra antes de matá-la, mas Fabiano acha a versão dele pouco provável. ;O top dela, os anéis e a tornozeleira permanecera juntos da ossada. Já a calcinha e o short estavam afastados do corpo. É bem provável que ele tenha cometido estupro antes de executar a garota;, acredita o delegado.
O maníaco foi condenado em 2001 por três esturpros cometidos no Gama. Cumpriu pena de 2001 a 2009, quando foi beneficiado com a progressão de regime e passou a cumprir o restante da sentença no semi aberto, quando foi dado como foragido por não cumprir suas obrigações com a Justiça. O Correio conversou com o casal que deu abrigo a Adaylton depois que ele deixou a cadeia, em outubro do ano passado . Eles moram a menos de 50 metros da casa da família de Alessandra e alegam não saber do envolvimento dele com o sumiço da adolescente. ;Na época em que a família dela estava desesperada à procura da menina, ele pegou cartazes dela e disse que iria ajudar a distribuir. Parecia um homem muito prestativo. Nem consigo acreditar que eu dei abrigo a um monstro;, conta a diarista Rosilene da Costa, 31 anos.
O marido dela, o vendedor José Garcia da Costa, 37, disse que conheceu Adaylton em 2000, por meio de um vizinho. Mesmo após ser condenado por três estupros no Gama e por dois homicídios do Novo Gama, Garcia acreditou que Adaylton poderia se regenerar. ;Quando ele foi para a cadeia, nós deixamos ele de lado. Mas ele começou a mandar várias cartas, dizendo que estava sofrendo. Ficamos com pena e fizemos algumas visitas na Papuda e ele nos convenceu que tinha se regenerado. Quando pôde pegar o benefício do saidão, em 2008, precisava registrar um endereço e nós demos o nosso. Ele vinha para cá e voltava para a prisão na data certa. Meus filhos o adoravam. Só agora eu vejo o perigo que eles estavam correndo;, conta.
Homem pacato e prestativo
Um sujeito pacato e prestativo. É assim que a mãe de Adaylton, a aposentada Maria das Graças do Nascimento Neiva, 62 anos, define o filho. A senhora, moradora de Luziânia (GO), contou ao Correio como recebeu a notícia de que o filho, o segundo mais velho de oito irmãos, é o principal suspeito de uma série de assassinatos e estupros no DF e no Novo Gama (GO). ;Ele era muito carinhoso. Sempre negou que tinha matado a enteada e a esposa. Eu acreditava na inocência dele porque achava que ele não mentiria para mim. Quando vi a notícia na TV, fiquei desnorteada. Um rapaz tão bonito como ele não precisava fazer essas coisas para arranjar mulher;, diz Maria das Graças.
Em depoimento à polícia, Adaylton alegou ter saído de casa aos 13 anos por sofrer abusos e espancamentos de vizinhos e da irmã mais velha. No entanto, a mãe nega a versão. ;Ele desprezou a família porque quis ganhar o mundo sozinho. Tanto que os irmãos dele são todos unidos. Essa história de abuso e agressão é mentira;, rebate.
A aposentada também contou que o filho foi poucas vezes à sua residência depois que passou a cumprir a pena em regime semi-aberto e que nunca foi visitá-lo na cadeia, a pedido dele. ;Eu não ia porque ele falava que não queria me ver lá. Nunca abandonei nenhum dos meus filhos. Se ele escolheu o caminho errado, foi por conta própria;, desabafa.
O maníaco é pai de um menino de 9 anos. A criança mora com a mãe no Novo Gama (GO), mas Adaylton sempre foi ausente. ;Eu nunca conheci o menino. Acho que ele quase não ia lá. Não sei onde mora.;
Buscas
Ontem, o pai da estudante da 7; série do ensino fundamental morta pelo acusado em dezembro de 2009, Alexandre Rodrigues Macedo, 40 anos, voltou à mata onde a menina foi morta, mas nada encontrou. Ele também esteve ao Instituto Médico Legal (IML) de Luziânia (GO) para reconhecer os objetos encontrados junto ao corpo. Alexandre foi a uma clínica de odontologia, em Santa Maria, onde a filha fazia um tratamento dentário, para recolher algumas radiografias e laudos que podem ajudar na identificação do corpo. A ideia dos peritos é confrontar os exames com a arcada dela. A ossada da garota segue amanhã para o IML de Goiânia e ainda não há data para o enterro.
; Palavra de especialista
Garantia constitucional
;Quando ele foi preso, a lei de crimes hediondos (Lei n; 8.072) já estava em vigência e ele seria enquadrado nela. Para analisar se a concessão de liberdade obedeceu aos prazos da lei é preciso ter o período correto de prisão e as justificativas que o levaram até a liberdade. Mas de maneira geral, a progressão de pena é saudável e não se pode generalizar e considerá-la ruim em virtude de casos isolados. Não dá para condenar todo o sistema prisional; afinal, quantos casos são resolvidos e dão certo? Será que não seria muito pior se os presos fossem direto para a rua sem esse período de experiência? O Supremo Tribunal Federal sempre vai entender que é inconstitucional haver crime sem progressão do regime. Os presos precisam ter uma chance de ser inseridos na sociedade. Para isso, precisam de um contato progressivo com ela. Uma pessoa não pode ficar 30 anos presa e depois voltar para o cotidiano comum. Todos os países democráticos adotam esse sistema.;
Fernanda Tórtima, advogada criminalista