Jornal Correio Braziliense

Cidades

Com a chegada do genérico do viagra ao mercado, vendas aumentaram 30% no DF

Autoridades advertem para o risco do consumo indevido do produto

A chegada do genérico do Viagra ao mercado brasileiro no início deste mês fez o preço do medicamento cair pela metade, o que provocou, de imediato, uma corrida às farmácias em todo o país. Em Brasília, as vendas da pílula azul cresceram cerca de 30%, segundo empresários do setor. A procura pelo genérico, com preços ainda mais em conta, também é grande. Até junho, um comprimido do remédio para tratamento de disfunção erétil e impotência sexual não custava menos do que R$ 30, em média. Com a reviravolta após a quebra da patente (1), ele pode ser encontrado até por R$ 7 em algumas redes presentes na capital federal.

O primeiro laboratório a obter licença da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para produzir o genérico do Viagra foi o nacional EMS, situado em Hortolândia, no interior de São Paulo. Desde o último dia 1;, a empresa distribuiu para todo o Brasil cerca de 1,5 milhão de comprimidos. No Distrito Federal, a previsão é que todas as farmácias tenham o produto nas prateleiras até o fim desta semana. Onde o medicamento de mesmo princípio ativo já chegou, a venda surpreende. Na tradicional Rua das Farmácias, nas quadras 102 e 302 Sul, vendedores contam que tanto o Viagra quanto o genérico dele têm sido muito demandados pelos clientes. A maioria decide levar, pelo menos, uma caixa de cada.

Na primeira semana com preço reduzido, o Viagra vendeu, no país, metade do total comercializado no ano passado, de acordo com o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (PróGenéricos), Odnir Finotti. ;Foram mais de 3 milhões de comprimidos. É um desempenho extraordinário, impressionante. Não me lembro da chegada de um genérico ter causado tanto impacto no mercado como neste caso;, comenta. Ele acrescenta que os remédios para disfunção erétil e impotência sexual eram considerados caros pela maioria da população. ;A quebra da patente do Viagra ampliou o acesso a esses medicamentos;, diz Odnir.

Marcas
Apesar de terem composições químicas diferentes, os remédios Cialis, Levitra e Helleva cumprem funções semelhantes às do Viagra. O preço dessas marcas não deve demorar a cair. ;A chegada dos genéricos vai forçar uma queda no preço. É a lei do mercado: ou os outros medicamentos acompanham pelo menos o novo valor do Viagra ou vão deixar de vender;, acredita o presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) no DF, Francisco Diogo Rios Mendes. Ele faz questão de enfatizar que o número de prescrições para esses medicamentos não aumentará só porque eles estão mais baratos. ;A diferença é que o paciente agora terá um acesso facilitado à medicação que precisa;, afirma.

Segundo a literatura médica, cerca de 15% dos homens acima de 40 anos precisam de remédios para ajudar na ereção. Quando a faixa etária sobe para os maiores de 70 anos, o percentual salta para 60%. A demanda por medicamentos como o Viagra sempre foi grande no Brasil. Como os preços não eram tão acessíveis para grande parte da população, o mercado informal desses produtos se espalhava por feiras, inclusive no DF. Para o presidente da SBU, a nova tabela de preços do remédio e a chegada dos genéricos ajudarão a inibir a venda ilegal. ;A população e os laboratórios ganham. E o governo também, já que a arrecadação com impostos aumenta;, enumera.

Novo cenário
No DF, a venda de medicamentos para disfunção erétil e impotência sexual estava estagnada nos últimos anos. A procura, reforça o vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos (Sincofarma) do DF, Álvaro Silveira Júnior, sempre foi grande, mas os números não cresciam. ;A quebra da patente do Viagra teve o poder de mudar esse cenário;, comenta Júnior, que também é diretor-executivo do Grupo Rosário Distrital. Ele conta que a redução do preço do Viagra fez o genérico abaixar o valor inicial previsto, antes mesmo de entrar no mercado. A PróGenéricos espera que o consumo desse tipo de remédios dobre no próximo ano.

O genérico ainda não chegou à farmácia onde Gabriela Carvalho trabalha. Mas o Viagra 50% mais barato foi suficiente para aumentar o movimento na loja desde o início do mês. Segundo ela, a maioria dos clientes em busca do medicamento tem mais de 35 anos. ;O Viagra sempre vendeu bem, mas depois que o preço caiu, nossa;;, comenta. ;Estamos torcendo para o genérico chegar logo e a gente vender ainda mais;, completa Gabriela. Além do laboratório EMS, que diz ter investido R$ 20 milhões em pesquisas para produzir o primeiro genérico do mercado, a farmacêutica Sandoz, com sede na Suíça, já conseguiu aprovação para lançar sua versão no Brasil, que pode chegar às farmácias ainda este mês.

1 - Brasil na frente
O Viagra, produzido pelo laboratório Pfizer, foi lançado no Brasil em 1998. Em 28 de abril deste ano, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que a patente do medicamento venceria em junho. A legislação brasileira prevê a proteção da propriedade industrial de remédios por 20 anos após o primeiro registro. O Brasil é o primeiro dos 120 países em que o Viagra é comercializado a dar a patente como vencida.

Uso sem indicação médica é perigoso

O Viagra mais barato coloca autoridades de saúde em alerta para o uso desnecessário e perigoso do medicamento. Por possuir tarja vermelha, os remédios para disfunção erétil deveriam ser vendidos apenas com prescrição médica. Mas os comprimidos podem ser facilmente adquiridos nas farmácias do Distrito Federal, sem a necessidade de o cliente apresentar receita alguma. Vendedores ouvidos pelo Correio na tradicional Rua das Farmácias contaram que desde que o preço caiu pela metade, aumentou ainda mais a procura da pílula azul por jovens na faixa dos 20 anos.

Alguns se aproximam timidamente do balcão e dizem que estão comprando os comprimidos para amigos. Outros assumem que usarão o medicamento em festas. ;Eles falam que não têm medo porque é só de vez em quando. Mas alguns deles aparecem aqui toda semana;, disse um vendedor, que não quis se identificar. ;Usei uma vez só para impressionar uma menina;, contou um jovem de 26 anos, que também pediu para não ter o nome divulgado. Ele acrescentou que conhece muitos colegas que compram Viagra ;com medo de brochar;.

O cardiologista Alexandre Brick, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília, explica que o uso de medicamentos para ereção sem a orientação médica pode até levar a morte. ;Se misturado com álcool ou drogas, o risco de enfartes é ainda maior;, alerta. Para o urologista Francisco Diogo Rios Mendes, da SBU no DF, o jovem recorre ao medicamento porque se sente inseguro. ;O problema é que, além dos riscos físicos, ele acaba se tornando dependente psicologicamente do remédio. Aí não consegue fazer sexo se não tomar o comprimido;, diz.