Jornal Correio Braziliense

Cidades

Aumentam focos de incêndio

Com a estação chegando ao ponto crítico, locais suscetíveis a propagação de fogo mobilizam equipes de bombeiros, que muitas vezes precisam de reforço para o trabalho. Autoridades fazem alerta

O período de estiagem já começou no DF, e uma de suas consequências mais indesejáveis começa a ganhar espaço nas áreas de cerrado de todo o território: as queimadas. O problema, que se agrava a cada ano, tende a ganhar contornos ainda mais dramáticos em 2010. Somente no mês de maio, foram registradas 240 ocorrências de fogo nas matas, contra apenas 24 no mesmo período do ano passado. Em junho de 2009, foram 249 ocorrências de incêndio na vegetação, mas, no mesmo período deste ano, registraram-se 483 episódios. ;No ano passado, as chuvas se estenderam e a fase crítica de seca chegou mais tarde. Este ano, com o fim antecipado das chuvas, a tendência é a situação ser ainda mais grave;, alertou o comandante do 4; Batalhão de Incêndio Florestal, tenente-coronel Odílio Domingos.

Esta semana, uma das áreas afetadas pelas chamas foi um setor de chácaras localizado nas proximidades do Condomínio RK, em Sobradinho, às margens da DF-440. O fogo começou por volta de 11h de quarta-feira e cinco homens do 4; Batalhão de Incêndio Florestal foram ao local para debelá-lo. ;Encontramos o fogo muito alto e o vento forte, trazendo as labaredas para perto das casas. Evitamos que ele se aproximasse da região habitada;, contou o sargento Adeílson Alves. Ele afirma que a maioria dos casos de incêndio é causada por pessoas que querem renovar o solo para o plantio, queimar o lixo ou por simples atos de vandalismo.

Enquanto os militares atacavam, com abafadores e bolsas costais cheias de água, o fogo que se aproximava das casas, os ventos espalhavam as chamas pelo cerrado. Menos de uma hora depois, os combatentes decidiram pedir reforço. Duas viaturas chegaram ao local, trazendo nove homens. Preocupados com a situação das propriedades, alguns moradores ajudavam. Enquanto trabalhava, um dos bombeiros queixava-se da vegetação, forrada por samambaias, que dificulta o controle da situação.

Chamas ao vento
Uma das chácaras ameaçadas pelo incêndio pertence à dona de casa Marinei Pereira da Silva, 34 anos. Ela se aproximou da varanda e viu o fogo avançando pela vegetação. ;Reuni minha família e saí correndo. Só tive tempo de juntar todo mundo e soltar as galinhas;, relatou. O plano de fuga da família era seguir em direção a uma pequena lagoa, nos fundos do terreno. Felizmente, os ventos e o trabalho dos bombeiros evitaram que as labaredas consumissem a casa. Pouco antes de 14h, o incêndio estava controlado.

Na quarta-feira, os homens que combatem o fogo não tiveram descanso. Por volta de 14h, um novo foco surgiu em uma área de cerrado da QI 19 do Lago Sul, próximo ao Conjunto 04. Os bombeiros afirmam que nenhuma casa foi danificada nem nenhum morador precisou ser removido, mas as chamas deram trabalho. ;O fogo pegou em um bambuzal e foi difícil apagar, porque é necessário usar muita água. Esgotamos a água armazenada em duas viaturas, cada uma com capacidade para seis mil litros;, explicou o sargento Joselito Azevedo Lopes, do 4; Batalhão de Incêndio Florestal do Corpo de Bombeiros.

Ontem, os bombeiros deram suporte a 26 ocorrências de fogo. Uma das mais preocupantes foi a queimada nas proximidades do Aeroporto Internacional de Brasília. O fogo começou no fim da manhã e destruiu cerca de 600 metros de mata. Por volta de 16h, o calor e a baixa umidade foram os responsáveis pelo ressurgimento das chamas no mesmo local. Cerca de 20 militares trabalharam para evitar o acúmulo de fumaça e garantir o fluxo normal de aviões no pátio.

No começo da tarde, outro foco de fogo surgiu, nas proximidades do Batalhão de Emergência Médica do Guará, e avançou para as casas mais próximas, na Quadra 01 do Park Way. O publicitário Eduardo Silva de Oliveira, 34 anos, teve metade de seu terreno, de 20 mil metros quadrados, destruído. ; Prejuízo mesmo é para o meio ambiente e para os bombeiros, que têm mais trabalho;, avalia. Segundo o Batalhão de Incêndio Florestal, cerca de 50 mil metros quadrados de cerrado foram queimados, e as chamas foram combatidas por cerca 10 militares, que trabalharam no local até pouco antes de 18h.

;Nossa região está dentro de uma Área de Proteção Ambiental (APA) e há muitas áreas verdes por aqui;, atenta a chefe de gabinete da Administração do park Way, Regina Russo. Depois de divulgar os cuidados básicos no site e convocar a comunidade para participar de reuniões, a Administração decidiu elaborar uma carta e um fôlder com dicas aos moradores, para que evitem focos de incêndio. ;Queremos que as pessoas parem de queimar restos de poda e lixo. Em vez disso, devem colocar esse material do lado de fora, para ser coletado;, recomendou.

Contra a natureza
Ela reforça que queimar lixo é crime ambiental, previsto na Lei Distrital n; 4.329(1), e moradores do Park Way que quiserem denunciar essas ações podem recorrer aos telefones de dois funcionários que fazem a patrulha local, espécie de conciliadores da população da cidade. Queimadas de maiores e menores proporções também podem ser comunicadas (veja serviço).

A temporada de risco vai de maio a agosto, com episódios eventuais antes e depois deste período. Agosto é considerado o mês mais crítico, com 731 ocorrências de fogo na mata registradas no ano passado. Um mês depois, quando os efeitos da seca se abrandaram, o balanço de ocorrências caiu para 649. No ano inteiro, foram registradas 1.887 ocorrências de queimadas.

O comandante do 4; Batalhão de Incêndio Florestal lembra que, além de danos em geral, a emissão de fumaça e fuligem na atmosfera piora a qualidade do ar. Destruída, a vegetação não cumpre sua função de proteger as nascentes, prejudicando a qualidade e até escasseando o volume de água potável. Os nutrientes também são extintos e não contribuem mais para a fertilidade do solo. ;Para a saúde, os danos mais frequentes são as doenças respiratórias;, concluiu.

De acordo com o Instituto de Meteorologia, a situação tende a piorar. A temperatura começa a subir gradualmente e a vegetação já está ressecada devido à falta de chuvas. ;Nesta fase, até cacos de vidro no cerrado servem como lente e refletem o sol. Com o aumento do calor, a mata pega fogo;, explica o meteorologista Manoel Rangel. A umidade relativa do ar, atualmente, fica em torno de 25 a 30%, mas deve atingir níveis críticos em agosto, quando pode chegar a 10%. Em 15 de junho, esse índice chegou a 9,4%, o mais baixo já registrada.

Diariamente, três aeronaves do Corpo de Bombeiros vistoriam o DF para detectar focos de incêndio. Em um trajeto que dura cerca de 1h10, o aparelho deixa o Aeroporto Internacional de Brasília e sobrevoa São Sebastião, Paranoá, Planaltina, Brazlândia e Gama. ;Este trabalho é importante para dimensionar a área afetada, ter uma visão global do problema e orientar a equipe que avança por terra;, explica o tenente-coronel Odílio Domingos. Os homens que seguem pelo solo se orientam e avaliam o tamanho da área pelo sistema GPS. Quando o acesso por terra é complicado, eles recorrem a um helicóptero. A corporação ainda conta com 11 viaturas e 150 militares que se dedicam a combater o fogo.

1 - A legislação
A Lei n; 4.329, sancionada pelo governador afastado José Roberto Arruda em junho de 2009, proíbe a queima de restos vegetais e lixo no DF. A proibição, no entanto, não inclui fornos e incineradores regularizados. A lei também define que a utilização de fogo como prática agrícola nas áreas rurais fica condicionada à recomendação técnica e aos termos da lei. O texto sugere ainda que os restos vegetais devem ser processados e transformados em adubo orgânico.

O número
35

Média diária de focos de incêndio florestal em julho



Emergencial
Para denunciar queimadas no Park Way: telefones 8604-0345 e 8411-2678.