As restrições impostas à propaganda eleitoral e as incertezas quanto às candidaturas impugnadas deixam em banho-maria a indústria gráfica e o mercado de confecção do Distrito Federal. Mesmo com o início oficial da campanha, há 10 dias, a produção de santinhos, panfletos, faixas, cartazes, camisetas e bonés segue em ritmo lento. Empresários dos dois setores estão preocupados. Muitos investiram pesado para atender a demanda que, por enquanto, tem decepcionado.
O parque gráfico(1) do DF, composto por cerca de 500 empresas, se destaca no cenário nacional pelo potencial tecnológico e pela capacidade de produção. Em época de campanha eleitoral, os pedidos costumam chegar de todas as regiões do país. Nas gráficas de grande porte, o faturamento, em três meses de trabalho, aumenta entre 30% e 60%. Com a legislação eleitoral mais rigorosa (veja quadro) e, desta vez, as indefinições em torno de candidaturas-chave, o entusiasmo deu lugar à apreensão.
Candidatos com inscrições impugnadas aguardam o aval da Justiça para começar a gastar. No caso de governadores nessa situação, o entrave se estende a todos os postulantes aliados. ;Enquanto não forem decididas essas questões, ninguém vai mandar fazer santinho;, diz Carlos Roberto Garcia, dono de gráfica há 30 anos. Para ele, o período pré-eleitoral deste ano tem sido o mais fraco desde quando entrou no ramo. ;Em pleitos anteriores, o movimento estaria bombando. Até agora, só temos promessas;, comenta.
Em fevereiro, Carlos investiu R$ 450 mil em uma nova máquina de impressão. A expectativa era quitar a dívida com o desempenho da loja durante a campanha. Mas, por ora, os candidatos não apareceram. ;Nunca vi uma eleição assim. Não sei o que houve. E as prestações estão vencendo;, desabafa. Não bastasse a baixa procura, os clientes que batem à porta das gráficas têm encomendado uma quantidade de material menor na comparação com eleições anteriores, o que obriga os empresários a estipularem um mínimo para fechar negócio.
Otimismo
O presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas do DF (Sindigraf-DF), Antônio Eustáquio de Oliveira, credita o movimento tímido às mudanças na lei eleitoral. ;Sem poder afixar cartazes nos postes, por exemplo, é claro que a demanda iria cair. O candidato está praticamente limitado ao santinho;, diz. Em 2006, Eustáquio rodou 400 toneladas de papel(2) para candidatos. Teve de terceirizar parte do serviço. Este ano, calcula que não serão necessárias mais do que 250 toneladas.
Lourival Novaes Dantas, dono de uma gráfica com 42 anos no mercado, acredita que a partir da próxima semana os pedidos passem a ser feitos com mais frequência. ;As restrições são muitas, mas, com a proibição dos brindes, é a vez do santinho. A eleição ainda é muito voltada para o papel;, sustenta. ;Quando começarem, os pedidos não vão parar mais. Vamos ter que trabalhar dia e noite;, completa Marcelo Bergamini, da área de produção de uma outra gráfica.
Nas lojas de confecção ; são quase 800 no DF ;, a demanda também está abaixo do esperado. Candidatos não podem distribuir camisetas, bonés ou qualquer outro tipo de brinde com foto ou número. Porém, é permitida a confecção de artigos em alusão aos partidos. ;As grandes demandas ainda não começaram, mas acreditamos que as malharias vão se dar bem;, aposta o presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário do DF (Sindiveste-DF), Márcio Franca.
1 - Crescimento
O setor movimenta mais de R$ 300 milhões por ano, levando em conta faturamento e investimentos em máquinas e equipamentos, de acordo com o Anuário do DF 2010. Para este ano, os empresários estimam um crescimento médio de 8% nos negócios. O segmento editorial gráfico corresponde a quase 20% do Produto Interno Bruto (PIB) da indústria de transformação do DF, o que representa quase 2,5% de todo o PIB.
2 - Preços
Empresários contam que o preço do papel tem aumentado desde o início deste mês, o que deixou os serviços um pouco mais caros. Duzentos e cinquenta mil santinhos custam, em média, cerca de R$ 2,2 mil. Cinco mil cartazes saem por cerca de R$ 1,6 mil. Vinte mil panfletos, por R$ 1,2 mil.
Desde 1990, quando a votação direta para o GDF foi instituída, três pessoas chegaram ao Palácio do Buriti com o voto popular: Joaquim Roriz, Cristovam Buarque e José Roberto Arruda. Nesse período, houve cinco eleições
Permissões e vetos
Confira alguns dos tópicos da cartilha da propaganda eleitoral 2010:
# É proibido fazer propaganda que prometa ou peça dinheiro, dádiva, rifa ou sorteio; que perturbe o sossego público ou que suje áreas públicas
# O partido político do candidato tem que ser citado na propaganda
# O candidato é proibido de dar dinheiro, prêmios ou qualquer tipo de brinde (camiseta, boné, cesta básica, chaveiro, caneta) a pessoas físicas e jurídicas entre o registro da chapa e as eleições; tampouco pode receber, direta e indiretamente, doações de origem pública ou privada
# É proibido fazer propaganda eleitoral em outdoors, cartazes luminosos ou não e painéis com imagens
# Carreatas, comícios e distribuição de santinhos serão permitidos, mas showmícios, com apresentações artísticas, são vetados
# É proibida a fixação de propaganda (pichação, placas, estandartes, faixas etc.) em bens públicos (postes, orelhões, viadutos, escolas, estádios, entre outros). Em áreas particulares, a propaganda é permitida, desde que gratuita
# Bonecos e cartazes não fixos só são permitidos em locais autorizados pela polícia e pelo Detran
# A distribuição de santinhos e a realização de caminhada, carreata, passeata ou a circulação de carro de som ficam vetadas desde as 22h do dia que antecede a eleição. No dia da votação, a divulgação de qualquer espécie de propaganda de partidos políticos ou de candidatos é proibida
Período de insegurança
Mesmo com o ganho financeiro que as campanhas políticas podem garantir às gráficas, muitas preferem não lidar com os candidatos. ;É o período que mais levamos cano. Político é ruim para pagar;, diz o presidente do Sindigraf-DF, Antônio Eustáquio de Oliveira. Em toda eleição, a ladainha se repete: eles chegam de mansinho, pedem ajuda e prometem pagar depois de eleitos. ;Sempre foi assim, com mais gente pedindo serviço de graça do que fechando contrato;, conta Isidro Gadelha, dono de gráfica.
A indústria gráfica do DF tem como principais clientes os governos federal e local. Cerca de 70% do faturamento do setor provêm dos cofres públicos. O restante corresponde a pedidos de empresas do varejo e do mercado imobiliário. Para evitar problemas, Gadelha prefere nem contar com a campanha política. ;São pedidos grandes, que precisam ficar prontos em um espaço de tempo muito curto. Muitas vezes, isso atrapalha mais a produção do que ajuda;, pondera.
Na gráfica de Pedro Henrique Verado, a demanda provocada pela corrida eleitoral também não é o foco. ;O político só aparece de quatro em quatro anos, é completamente sazonal. Não concentramos nossas vendas nesse tipo de cliente;, comenta. Na loja onde Emérson Dayahn atua na área comercial, a ordem é fechar contrato com candidatos apenas se o pagamento for à vista. ;Nossas experiências anteriores não foram boas. Apareceram por aqui pilantras mesmo;, diz.(DA)
Trabalhadores exigem 14% de reajuste
Os trabalhadores da indústria gráfica do DF ; cerca de 3 mil ; reivindicam reajuste de 14%, aumento do tíquete-alimentação de R$ 7 para R$ 10 e redução da jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas semanais. ;Os patrões racham de ganhar dinheiro, mas na hora de negociar fazem a mesma choradeira de sempre;, diz o presidente do sindicato da categoria, Francisco Carlos Lopes de Oliveira. Ele conta que, em véspera de eleição, os trabalhadores costumam ultrapassar em até quatro horas diárias a jornada estabelecida. ;O setor está crescendo. Prova disso é que nosso banco de empregos está zerado. Mas temos tido poucos benefícios;, completa. Os empregados do setor ocupam diversas funções. Os salários variam de R$ 765 (apoio e serviços gerais) a R$ 5 mil (impressores). A data-base da categoria é 1; de agosto.