Jornal Correio Braziliense

Cidades

Partidos aliados nas disputas majoritárias são adversários em outros cargos

Partidos coligados na disputa pelas vagas majoritárias - por exemplo, o PT com o PMDB e o PSDB com o PSC - seguem caminhos separados na briga pelos cargos de deputado distrital ou federal. Algumas siglas consideram que, se estivessem juntas, seriam prejudicadas

Juntos no palanque presidencial e na corrida ao governo local, PT e PMDB são adversários na disputa às vagas de deputado federal e distrital na capital do país. Apesar do histórico embate entre as siglas, o que pesou mesmo na formação das alianças proporcionais foi outro tipo de pragmatismo, a matemática eleitoral. Nenhuma legenda aliada ao petista Agnelo Queiroz aceitou fazer coligação com o PT nas candidaturas para a Câmara Legislativa. Também houve uma decisão do PMDB de evitar uma união formal com os petistas na briga por uma das vagas de deputado federal.

Na disputa às vagas de deputado federal, a coligação Novo caminho se subdividiu em duas grandes frentes formadas pelos partidos PDT-PT-PPS-PSB e PRB-PTB-PMDB-PRP-PCdoB. No primeiro grupo, há nomes com possibilidade de ultrapassar a marca dos 50 mil votos, como os petistas Geraldo Magela, Paulo Tadeu e Érika Kokay, além de José Antônio Reguffe (PDT). Todos foram testados e bem avaliados nas urnas. O PSB trabalha por Gastão Ramos, que em 2006 integrou a chapa de Arlete Sampaio (PT) no páreo pelo Palácio do Buriti. Na segunda formação de partidos aliados a Agnelo, há pelo menos duas grandes apostas: Luiz Carlos Pietschmann (PMDB), que busca ser o herdeiro político dos votos do hoje deputado federal Tadeu Filippelli, candidato a vice, e o Pastor Ricardo Quirino (PRB), atual suplente.

No PTB, o senador Gim Argello, presidente regional, investe em nomes como Georgios Tzemos, o ex-administrador de Brasília no governo Cristovam Buarque (1995-1998), Valter Nei Valente, e a empresária Lourdinha Araújo, mãe do deputado distrital Cristiano Araújo, também do PTB. A avaliação é de que todos esses terão dificuldades para ultrapassar a marca de votos dos petistas que já passaram por outras eleições. De acordo com pesquisas, Reguffe também está em em boa situação. Por isso, a estratégia de Filippelli e Gim foi evitar uma coligação que apenas ajudaria a eleger esses candidatos.

Na análise de petistas, como Paulo Tadeu, a divisão em dois grandes blocos é prejudicial ao grupo de Agnelo. ;Avalio que se todas as legendas estivessem juntas conseguiríamos até, possivelmente, fazer cinco deputados.;

Para definir as alianças, os partidos levam em consideração uma contabilidade complicada. Pela legislação eleitoral, a coligação ou legenda em campanha solo precisa obter um número mínimo de votos para emplacar um deputado federal ou distrital, o coeficiente eleitoral. Esse número é calculado com base na soma de votos válidos dividida pelo número de vagas em cada cargo. Considerando-se o número de eleitores do DF (cerca de 1,8 milhão), as alianças ou partidos terão de conquistar pelo menos 225 mil votos para eleger um deputado federal e 75 mil para fazer um distrital.

Dependência
Dessa forma, numa coligação, cada candidato depende do desempenho do outro para ampliar a soma dos votos. São companheiros num objetivo, mas também adversários diretos porque consegue se eleger quem tiver mais eleitores no montante geral de votos. Por isso, as legendas evitaram se coligar com os petistas, em geral mais conhecidos. É o caso dos atuais deputados que disputam a reeleição Cabo Patrício e Chico Leite, além de ex-distritais que tentam voltar à Casa, como Arlete Sampaio e Chico Vigilante.

Em 2006, o PT conseguiu votos suficientes para fazer quatro distritais ; Patrício, Chico Leite, Paulo Tadeu e Érika Kokay. O quinto mais votado, Chico Vigilante, só não entrou por causa da conta do coeficiente eleitoral. Vigilante foi o 15; entre todos os candidatos à Câmara Legislativa, com 15.625 votos, mas ficou na primeira suplência. Candidato do PSB na coligação encabeçada pelo PT ao governo em 2006, Rogério Ulysses acabou ganhando uma vaga com 14.932 votos. ;Em 2006, não impomos ao PSB uma coligação para distrital e saímos perdendo. Tive mais votos que o Rogério Ulysses, mas não me elegi. Por outro lado, fomos com o partido na corrida à Câmara dos Deputados e elegemos o Rodrigo Rollemberg (PSB);, lembra Vigilante. Se o PSB estivesse sozinho não teria emplacado ninguém.

Na base rorizista, DEM e PSDB também não conseguiram parceiros na disputa por uma vaga na Câmara Legislativa. A avaliação é de que os candidatos desses dois partidos, Milton Barbosa (PSDB), Eliana Pedrosa (DEM), Raad Massouh (DEM) e Geraldo Naves (DEM), também saem na frente em relação aos concorrentes que não têm mandato. Já na corrida a uma vaga de deputado federal, a coligação se repetiu à que dá sustentação à eleição de Roriz.

A regra do coeficiente eleitoral já provocou situações inusitadas. A mais pitoresca foi a de Enéas Carneiro, autor do bordão ;Meu nome é Enéas;. Em 2002, ele conquistou sozinho 1,5 milhão de votos, capazes de eleger cinco deputados federais por São Paulo. Levou junto aliados que não alcançaram mil votos.