Depois de um trote realizado por alguns alunos do Instituto de Química na manhã da última quinta-feira, a Universidade de Brasília (UnB) decidiu discutir formalmente a legalidade do ritual dentro da instituição. A confusão rendeu um protesto formal feito pela professora Luciana de Ávila Rodrigues, do departamento de matemática, e estará na pauta de debate do Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (Cepe). Para o reitor José Geraldo de Sousa Júnior, o caminho para diminuir esse tipo de problema é o fortalecimento das regras existentes sem a necessidade de punir os alunos. ;Não adianta proibir sem antes educar, pois esse é nosso objetivo principal. Precisamos achar uma maneira de cumprir as regras sem perder o espírito universitário. Não vivemos em um seminário.;
Segundo o relato feito pela professora Luciana, alguns alunos do curso de química entraram, aos gritos, na sala em que ela dava aula com um carrinho de supermercado e um megafone. Momentos depois, um estouro foi ouvido do lado de fora da sala. A baderna assustou os calouros, fez uma aluna chorar e ser amparada pela professora. A reclamação causou estranheza ao diretor do departamento, professor Jurandir Rodrigues de Souza. ;Quando li o relato, fiquei estarrecido. Nunca soube de algo semelhante a isso em nossos cursos.; Nos corredores da faculdade de química, o relato da professora é visto como uma versão distorcida do que realmente aconteceu, apesar de não negarem nenhum dos fatos descritos na carta. Logo após o acontecido, a diretoria da faculdade se reuniu com os alunos para esclarecer a situação, na tentativa de conscientizá-los do mal-estar causado. ;Isso é coisa da idade das cavernas. Os novatos deveriam se sentir bem ao chegar aqui e não ter medo;, declara o vice-diretor, Marcos Juliano Praucnher.
Proposta educativa
Para o debate que será promovido no Cepe, serão chamados representantes de todos os centros acadêmicos da universidade. A polêmica foi incluída na pauta a pedido dos conselheiros, após a leitura da carta com as queixas da professora. Para o reitor José Geraldo, a solução passa por uma campanha de sensibilização. ;Precisamos mobilizar toda a comunidade universitária para uma discussão sobre essa recepção e construir uma proposta educativa para mudar esse comportamento;, diz. O coordenador do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Raul Cardoso, vê a necessidade de uma integração maior entre os alunos e a universidade. ;Apesar de ser um ato promovido pelos alunos, esse é um problema de todos. A direção da UnB precisa estar mais presente nessas discussões. Debater sobre a importância da entrada no mundo universitário é um fator preponderante para podermos começar a imprimir uma nova cultura de recepção;, opina.
O problema com os trotes, em especial os de caráter violento, está presente em todo o país. Na tentativa de combater os excessos, a Universidade de São Paulo (USP) criou, em 2000, o Disque-Trote. O serviço tem o objetivo de proteger aqueles que se sentirem atingidos por algum tipo de brincadeira abusiva. Por outro lado, muitos universitários deixam as agressões de lado para apostar na promoção de trotes sociais. Em Belém (PA), a sustentabilidade ecológica é o foco dos alunos. Depois de assistirem à uma aula magna, os calouros são convidados a plantar mudas de árvores em extinção e a conhecer um pouco a história de cada espécie. Na UnB, o Trote Solidário provou ser um sucesso, e, na terceira edição, reuniu cerca de 600 alunos. A cada evento, estudantes de todos os cursos se reúnem, fazem doações e visitam orfanatos, asilos e instituições de caridade. ;Não nos limitamos a levar roupas e alimentos. Organizamos oficinas de vários cursos para apresentar a escola como um todo;, garante Raul Cardoso, do DCE.