Pode-se dizer tudo de Joaquim Domingos Roriz, exceto que ele seja medroso. Sob intenso tiroteio do Ministério Público, de setores da Justiça e de adversários políticos que tentam afastá-lo da vida pública há pelo menos 15 anos, ele deposita total confiança nas chances de emplacar o quinto mandato no Governo do Distrito Federal. Mesmo diante da real possibilidade de a Justiça acolher os pedidos de impugnação e suspender o registro da candidatura, Roriz retira do passado a determinação para encarar o futuro. ;Na minha primeira eleição aqui, o Supremo decidiu que eu seria candidato quando faltavam 32 dias para o eleitor ir às urnas. Eu conheço esse filme profundamente. Estou preparadíssimo;, afirma.
Com 50 anos de carreira política, o goiano de Luziânia desconhece o sabor da derrota em todas as eleições que disputou. Provoca o concorrente direto Agnelo Queiroz. ;Ele acha que basta colocar um jaleco para resolver a questão da saúde.; E desafia aqueles que não acreditam na sua vitória. ;Se a eleição fosse hoje, ganharia no primeiro turno;, avisa, confiante no eleitorado que o ajudou a permanecer no poder durante 14 anos.
Nesta entrevista ao Correio, Roriz orgulha-se de ser populista aos 73 anos, não se arrepende de ter distribuído lotes e inchado Brasília, desdenha de quem acredita que esteja seriamente doente: ;Estou muito bem e posso disputar outras eleições;. Fala sobre os planos para governar o Distrito Federal e em ;pensar grandes coisas;, como a cidade da saúde, um novo aeroporto, uma cidade de estacionamentos subterrâneos.
Roriz só troca o entusiasmo pela mágoa quando se refere a ex-colaboradores próximos, cotados até para sucedê-lo em outras épocas. Apesar de cristão, diz não perdoar os traidores. Julga ter sido enganado por Tadeu Filippelli e José Roberto Arruda. Garante que não pode errar mais. E chama Durval Barbosa ; outro que se criou sob a sua sombra ; de corajoso por denunciar o esquema que envergonha brasilienses, alvo de chacota em todo o país. As palavras de Roriz são duras. Considera Arruda um malfeitor e manda um recado aos recém-enlaçados Agnelo-Filippelli: ;Aquele que me traiu vai trair outro.;
Por que governar Brasília pela quinta vez?
Sinto que sou da cidade, que sou brasiliense, que isso é a minha terra. Por aqui já cavalguei quando era garotinho. Meu pai soltava gado nas planícies daqui na época da seca, aqui era verde. Meu pai, os peões e eu vínhamos juntos. Aqui já dormi muitas noites em uma barraca com a palha de buriti e pau a pique. Eu conheço isso na intimidade há 60 anos. Então a gente cria uma intimidade com a região que nos deslumbra. Quando passo pela Esplanada e vejo aquela maravilhosa obra de Niemeyer, isso me traz uma alegria interior e um amor pela cidade redobrados a cada instante. Antes não havia nada, era um cerrado, uma campina coberta de buritis.
A renúncia no Senado não foi suficiente para encerrar a carreira política?
Vocês sabem as razões da minha renúncia. Por que renunciei ao Senado? Me preparo para a vida pública há 50 anos. Tudo está no meu Imposto de Renda e nas minhas origens. Acontece que tenho fazenda, tenho rebanho ; e com toda humildade, é considerado um dos melhores do Brasil. Então peço a um amigo comum, um empresário, se ele podia trocar um cheque porque precisava pagar um negócio de um animal. Esse amigo, vocês sabem quem é (Nenê Constantino), me responde: vou levar o negócio para você. Em vez de ele me trazer o dinheiro e eu dar aquele cheque trocado; isso eu faço a vida inteira! Já fui vendedor de areia nesta cidade, já fui empresário. Isso é um negócio comum. Mas acontece que alguém, que tinha interesses outros, pegou uma gravação minha ; é verdade a gravação, eu pedi a uma pessoa (Tarcísio Franklim, ex-presidente do BRB) para descontar o cheque e ele mandou dispor. Tirei o que precisava, assinei uma letra e mandei o restante para a pessoa que era dona do animal. Essa pessoa pega esses recursos dois ou três dias depois e deposita no banco, na conta dela no Banco do Brasil. Nós tiramos do BRB e depositamos o troco na conta dele no Banco do Brasil. Tenho todos os comprovantes. Quebraram meu sigilo bancário para ver se passei mesmo o dinheiro. Passei, está lá, na Universidade de Marília, de São Paulo. Comprei o animal do reitor. Mas saiu a notícia em todos os jornais. Então fiquei envergonhado. Você trabalhar a vida inteira na política e passar por esse vexame;
Ficou envergonhado com o que fez ou com a forma que a imprensa tratou?
Acho que pelo equívoco. Não culpo a imprensa, mas fiquei profundamente constrangido com as notícias. E o ambiente do Senado era muito ruim. Era o Renan Calheiros querendo negar que tinha filha fora da família, querendo negar mais isso e mais aquilo; O ambiente naquele momento era péssimo, muito desgastado. Aí eu falei: ;Eu vou ficar aqui, quando não tenho nenhuma vocação pela tribuna? Eu vou-me embora!” Aproveitei a onda e fui embora. Até hoje sinto o conforto de não ter ficado lá.
Fugiu ou fez a coisa certa?
No momento certo, na hora certa. Não pensei que iria disputar mais uma eleição. Na medida em que renunciei, não tem como não ser candidato a governador.
Até em função da renúncia, há uma pressão muito
grande sobre o senhor. Não teme a degola?
Na minha primeira eleição, o STF decidiu que eu seria candidato quando faltavam 32 dias para o eleitor ir às urnas. E naquela época as leis eram mais rigorosas, eu estava sub judice. Não pude aparecer em comício, não pude aparecer em televisão. Agora eu posso, estou na rua. Espero que a Justiça do meu país prevaleça. Mas não posso responder nada com relação à Justiça porque quem vai decidir são os ministros, os juízes. Tenho respeito por essas instituições, não posso dizer o que eu acho. Só posso dizer que sou candidato. Agora, se não deixarem, aí é outra questão. Esse filme eu conheço profundamente. Estou preparadíssimo.
Não tem nenhum receio das impugnações?
Nenhum receio. Há quantos anos eu conheço esse filme? Não tenho nenhuma preocupação com as ações dos meus adversários porque é o papel deles.
Qual a justificativa que o senhor dará para não
vincular seu nome a essas questões da Ficha Limpa?
Já vai fazer quatro anos que eu renunciei. Não estava pensando em eleição. Como é que podem provar que eu tinha intenção de disputar a eleição? Eu ainda tinha sete anos e meio de mandato. Renunciei ao mandato, ao foro privilegiado, renunciei a tudo e voltei exatamente de onde eu saí. Meu Deus, eu vou ter medo? Vou me preocupar com isso? Primeiro: acredito profundamente na Justiça do meu país. Segundo: como é que podem tirar minha candidatura quando a Constituição é clara ao dizer que não pode retroagir para prejudicar? E fere também a gramática. É ;os que renunciarem; e não ;os que renunciaram;. O adversário está rasgando a gramática. Não sei se a Justiça pensa assim. Os adversários vivem rasgando a Constituição, o que posso fazer? Isso para mim é ditadura, é revolução. Não acredito que isso possa acontecer.
Seu perfil político se aproxima ao de um coronel. O senhor se considera uma pessoa mais atrasada, mais reacionária, mais conservadora?
O que poderia dizer? Agradeço a Deus por estar envelhecendo. Se não envelhecer, vou morrer, tenho de morrer novo. Mas todos vão envelhecer também, não só eu. Minha cabeça está muito mais atenta e minha saúde muito mais rigorosa. Eles sempre pensaram que sou atrasado e não sei por quê. A vida inteira ajudei a minha gente, entretanto sempre fui combatido, os próprios companheiros querendo me destruir. Procurei limpar quem está comigo. Hoje não tem ninguém envolvido em nenhum ato que nos desvalorize. Como sempre, vou apurar quem estiver tirando proveito se eu for governador. A pior coisa na vida pública é ter pessoa traidora com você.
A figura do traidor, que abandona e ainda sai falando mal, tem acontecido com frequência na sua vida pública. Isso ocorreu com o candidato a vice da outra chapa, Tadeu Filippelli, e em muitos momentos com Arruda. Por que isso acontece?
Para mim a ficha caiu há pouco tempo. Anteriormente eu os analisava pelo currículo. Brasília é uma cidade nova, onde a política é nova, os políticos também. A gente não pode indagar: quem era pai de fulano, quem era avô de fulano. É diferente de onde eu fui habituado. Quando ia nomear um secretário, sabia quem era o pai, quem era o avô. Aqui não tinha essa oportunidade. Peguei gente que, num primeiro momento, confiava. Agora vou buscar diferente. Traidor é a pior situação de um homem público. Aquele que me traiu vai trair outro. Isso está na sua personalidade, na sua formação. Agora não tenho direito de errar. Pode ter certeza de que vou buscar o melhor em termo de assessoria. Esse negócio de ser velho, para mim, não importa. Importa é que seja capaz, competente e moderno.
Esperava um golpe desses de pessoas tão próximas?
Jamais. Pelo contrário, lutava porque os que você citou, dentre outros, poderiam ser até meu sucessor.
Foi traído também pelo PMDB?
Fui também. Não sei de que maneira foi. Não sou eu que estou dizendo, mas a cidade comenta que foi negócio. E em política negócio não existe. Entrou com negócio e negociata, eu não entro. Não faço. Vou com meu amigo até a cova, mas não desço com ele na sepultura, não. Essa é a minha formação, essa é a minha filosofia de vida.
Como enxerga esse PMDB que se aliou com o PT?
Esse PMDB não é autêntico?
Eles vão ter que se explicar um dia. Eu fui do PMDB. Sou do PSD de Juscelino, sou do PMDB de Ulysses Guimarães, sou do PMDB de Tancredo Neves. Eu não diria que esse PMDB não é autêntico. Diria que ele mudou completamente.
É um PMDB mais oportunista?
Eu diria incompreensível. Em partido político, o que prevalece é a honradez e a lealdade. Negócios, não. Negócios a gente faz com empresas, com a iniciativa privada. Na política, não cabem negócios. Não sei o que está acontecendo, não posso garantir absolutamente nada. Isso terá a oportunidade de ser explicado. Não sei quando, mas terá que ser explicado.
Aconteceu alguma coisa nebulosa, escusa, misteriosa?
Misteriosa porque o problema não é me trair, é não comparecer. Pedi uma intervenção no partido ou uma dissolução. Não apareceu nenhum que ia decidir a questão. Quer dizer então que esse partido não me cabia. Procurei o menor partido e achei o menorzinho, chamado nanico (PSC) ; e esse era nanico mesmo. Fui pra lá para recomeçar a vida. Hoje estou com as melhores alianças democráticas. Estou com o PSDB ; eu apoio Serra para presidente, mas quero que ele venha à minha casa pedir voto. Sou Serra por convicção. Não quero ver um país socialista, quero ver um país democrático. Sou contra Cuba, sou contra a Venezuela, estou fazendo uma aliança para mudar o regime nacional.
Brasília também está precisando recomeçar? Por quê?
Porque os brasilienses não têm culpa pela irresponsabilidade. Hoje você viaja de carro com a placa de Brasília e corre o risco de ter o carro depredado. Nas praias brasileiras, tratam-nos com deboche. Temos que recuperar a autoestima. É a capital de um país emergente, que tem perspectiva de ser o maior do planeta. Quando nós temos 1,6 bilhão de habitantes passando fome no mundo, estamos no lugar que pode acabar com isso. O Centro-Oeste possui a maior reserva agricultável do planeta, está aqui a solução para quem passa fome no mundo. Será possível que o ser humano é pobre porque quis nascer pobre? Ele não pediu para nascer pobre. Não tem moradia, não tem dinheiro para comprar comida. Ele tem que arrumar um lugar, o que ele pode fazer? Aí vem um trator e passa por cima do barraquinho desse miserável. Para nós, que temos fé, está certo deixar o ser humano na chuva, no sol, na tempestade? Vou ajudar o pobre sempre.
Isso é populismo, é clientelismo. Ser populista não o envergonha?
Não me incomodo. Populismo para mim é uma honra. Eu nem gosto de falar a palavra pobre. Não existe pobre, existem pessoas que não tiveram oportunidade. Se populista fosse defeito, não teria sido governador por quatro vezes.
O Lula seria um populista?
Não o acho populista. Ele teria o mesmo comportamento. Meu governo implantou a cesta básica no país, meu governo implantou pão e leite, meu governo implantou moradia e ainda continua. Achei maravilhoso.
Arruda baseou a campanha dele na legalidade tentando fazer um contraponto com o seu governo. Não foi o que se viu. Mas essa questão da legalidade neste seu quinto governo será levada a ferro e a fogo ?
Minhas coisas não estavam ilegais. Legalidade não é filosofia, é obrigação.E eu vou fazer uma coisa rigorosamente legal. Agora não me venha sugerir para massacrar os humildes ainda mais. Isso eu não faço, não dou conta de fazer. Não me venha pedir para demitir funcionários humildes porque eu não dou conta. Não me venha pedir para demitir funcionários. Isso eu não faço. Jamais eu extinguiria o transporte alternativo. Estava ruim? Então como conserta? Por que vou tirar mil vans e mandar o empresário comprar mil ônibus? Se isso for justo; Não estou dizendo que elas funcionam direitinho. Mas o que valeu é a ideia, a filosofia, a vontade de dividir riquezas.
A maioria dos seus votos vem dos eleitores de baixa renda. Esse seu dircurso não será rechaçado pela população do Plano Piloto? O senhor não se incomoda com isso?
Incomodar, a gente se incomoda com tudo. Dentro da possibilidade, buscamos soluções. Estou aprendendo muito, não sou o dono da verdade. Só que a mesma atenção que dou para o humilde, o paupérrimo, eu dou para o rico. Estou em busca de mais informação, mais solução. Até para ter, se eleito, um comportamento mais moderno, mais evoluído.
Voltando à questão da Pandora, o senhor tinha conhecimento desses atos?
Eu tinha conhecimento. Nunca vi, mas era público e notório na cidade. Quantos partidos estavam comigo e depois avisaram que não podiam rejeitar a proposta do outro lado? Não foi um só não. Foram vários, mas não quero citar o nome deles.
Durval Barbosa trabalhou no seu governo.
Mas Arruda também trabalhou no meu governo, todos da Pandora trabalharam no meu governo. Eu não conhecia a personalidade e o comportamento de ninguém.
Arruda disse que jamais vai perdoá-lo porque acha
que o senhor está por trás dessa história da Pandora.
Não vi nada. Durval Barbosa nunca falou comigo. Nem sei onde o Durval morava. Sabia que ele era um presidente de empresa, nomeado por mim, e eu confiava nele. Eu só me lembro dele quando ele era delegado do Cruzeiro. Fui à delegacia durante campanha e ele era delegado. Recebeu-me, por sinal, muito bem. Posteriormente vieram os deputados eleitos e pediram para prestigiá-lo. Eu perguntei: ;O que vocês querem?; A resposta: que nomeie ele. Falei então: pode convidá-lo. Do meu ponto de vista, ele um dia vai ser reconhecido como um homem corajoso. Consertou não só em Brasília, mas grande parte do país.
Durval é um homem corajoso?
Profundamente corajoso pelas atitudes dele. Você acha que ele não está correndo risco de vida? Claro que está. É o que eu penso dele. É claro que muita gente pode pensar diferente, mas sei respeitar o pensamento das pessoas.
Acredita na versão dos acusados de que aquilo se tratava de dinheiro de campanha?
Não estou dizendo nada disso. Na minha não foi. Na dos outros, eu não sei.
Mas a ex-deputada Eurides Brito chegou a dizer isso.
O que eu posso falar, gente?
Eu não tenho o que responder. Eurides Brito falou isso, a minha filha Jaqueline disse ;você é uma cara de pau;. Então não sei quem está com razão ou sem razão. Dinheiro meu, não foi. Cabe à sociedade julgar e analisar.
Em função das denúncias, como vai ser o nível da campanha?
Estou preparado para dois níveis: forte ou frágil. Vou dançar igual à música. Se eles quiserem ir forte, eu serei forte .
O senhor vai para o pau?
Em qualquer circunstância.
Na última eleição que o senhor concorreu, muita gente votou no senhor e no Lula. Não é vermelho e azul?
Lula é uma coisa diferente. É um homem blindado. Nem coisa errada do filho pega nele. Nada pega nele.
Pode-se dizer o mesmo do senhor. Nada toca no Roriz.
Graças a Deus. Você pode olhar lá na minha porta. Tem uma imagem de Nossa Senhora.
O senhor se surpreendeu com a profusão de
acusados na Pandora? Era nome para todo canto;
Fiquei surpreso. Sabia que havia alguns excessos com os quais não concordava. Tanto que rompi com eles no primeiro momento. O mesmo aconteceu com minha filha, que era do PSDB. Sugeri à Jaqueline que saísse da base do governo. E ela saiu do governo e do PSDB. Estava completamente decepcionado com a atitude dele. Não vou revelar os partidos, mas citaria três que me disseram não poder ficar comigo porque eu não tinha condição financeira de cumprir as propostas.
O senhor não se arrepende de ter distribuído lote? Pelo contrário, acho que dei pouco lote. Para onde é que esse povo ia? Para as favelas? Matar? Mandar embora, quando o direito de ir e vir é constitucional? Fechar a cidade?
Mas reconhece que isso resultou nesse
cinturão de miséria que ajudou a inviabilizar
Brasília na saúde, na educação, na segurança?
Eu tenho consciência disso. Mas, como resolver? Todos não vieram em busca de melhoria de vida? Por que só aqui não? Não são brasileiros como nós? É preciso aumentar o quadrilátero do DF, ele ficou pequeno. Brasília foi construída para ter 500 mil habitantes; hoje tem quatro milhões considerando o Entorno. Quatro milhões! Oito vezes maior do que a previsão. E o DF, que era para ser de 15,8 mil quilômetros quadrados, foi reduzido para 4,5 mil, um terço de redução do território. Por isso é que o Entorno está superlotado, pressionando os hospitais, as escolas, a segurança, tudo. Pressiona porque não há mais espaço. O congestionamento daqui está estressando a população.
E como resolver isso tudo?
Ampliando o DF. Brasília tem que lutar dentro do Congresso, botar uma barraca no Congresso para mudar a Constituição, para ampliar o território. O problema das cidades-satélites, das cidades do Entorno é um problema nosso. É um excedente daqui que foi para lá, são brasileiros, é gente nossa. Aumentando-se o quadrilátero, o que é fundar mais uma cidade?
No passado o senhor costumava dizer que, a depender do candidato, nem precisaria sair de casa. Como vai ser agora?
É verdade. Em determinado momento eu achava que...Não diria fácil, porque na minha vida não achei nada fácil. Mas até hoje não conheço o sabor da derrota. Porém dizia isso porque entendia que era um desígnio de Deus ser governador numa cidade altamente politizada, com um povo de respeito e nível superior aos meus conhecimentos gramaticais ou intelectuais. Achei que já havia cumprido esse desígnio. Não tinha razão nenhuma de voltar a ser candidato. Mas quando vi a traição, quando vi radicalismo e estou vendo que a cidade precisa recuperar a autoestima, me propus a ser candidato novamente.
Vai vingar-se deles nas urnas? Roriz é incansável?
Sim. Se você me falar de negócio aqui, me dá sono. Se você me falar de política, fico a noite inteira.
Gosta mais de eleição ou de gado?
Um embaixador foi me visitar na fazenda. Botei o meu veterinário chefe para acompanhá-lo. Lá é um aglomerado de pequenas fazendas que forma um todo. Chamamos lá, na nossa origem, de retiros. Cada retiro tem uma qualidade de gado: o pardo suíço, o holandês, o gir, o nelore e o nessano. Ele ficou quase o dia inteiro vendo tudo. Chegou em casa à 1 hora para almoçar e perguntou ao meu veterinário qual gado eu gostava mais: se era do gado holandês, gado gir ou gado nelore. E meu veterinário erradamente respondeu: acho que ele gosta mais é de política.
Quando põe as filhas na política, está querendo fazer um sucessor dentro de casa?
Não. Aí vira ;familiocracia;. O que digo para justificar a presença delas é muito simples. Na casa do meu pai o assunto era política. Só se falava política. Política tomando café, política almoçando, política jantando. Vivo política o tempo todo desde garoto. Fui eleito com 22 anos e nunca mais parei. Tentei impedi-las de seguir a política, mas não consegui. Não vou pedir votos para elas não. Elas terão que se fazer por si só.
Não acredita na transferência de voto para suas filhas?
As filhas, acho que sim, porque usam o meu nome. Não uso os delas nem estimulo. Mas elas, usando o meu, acho que conseguem transferir votos porque, com toda a humildade e não quero nem falar perto delas, elas defendem o mesmo que eu. Não é porque sou melhor, não sou o melhor. A única coisa que posso garantir é que eu tenho muita saúde, muito vigor e disposição.
Comenta-se na cidade que sua saúde não anda bem. O que tem de verdade nisso? Que cuidados o senhor toma?
Acordo rigorosamente às 6h, às vezes um pouquinho antes. Leio os jornais até as 8h e depois faço fisioterapia por uma hora. A fisioterapia para mim é absolutamente necessária porque tenho um problema de coluna, uma pequena contração que comprime o nervo ciático. Preciso fazer esse tratamento para não agravar. Se agravar, tenho que fazer cirurgia. Meu problema não é a cirurgia em si; é ficar de repouso 30 dias. Não aguentaria. Mas, em resumo, estou muito bem de saúde, graças a Deus.
Agnelo Queiroz diz estar pronto para
ganhar do senhor. Ele consegue?
Não sei. As pesquisas mostram o contrário. Eu não tenho outra informação a não ser a informação científica. Não posso avançar em nada. Deixa ele achar.
O senhor vê à sua frente um candidato vinte e tantos anos mais jovem. Não era tempo de se aposentar?
Não. Não tenho nenhum receio, nenhuma espécie de medo. Eu até espero que ele viva bastante.
No passado, o senhor foi acusado de grilagem
e foi alvo de outras denúncias. Hoje seus adversários falam até em vaca de ouro, referindo-se ao valor da compra da vaca que provocou sua renúncia. Como reage às críticas mais contundentes?
Não reajo, eu penso assim: meu Deus, como é que falta tanta informação, quando há uma realidade bem diferente? O que eu posso fazer? Mostrar meu Imposto de Renda, mostrar minhas contas, mostrar tudo o que tenho? Podem vir ver. Querem ir à fazenda contar minhas vacas? Agora estão falando que não declarei o Imposto de Renda de forma correta. Estou em dia com tudo. É só ver.
O senhor já era rico antes da política ou a política lhe deu mais dinheiro, além de poder e status?
Acho que meu patrimônio diminuiu fazendo política. Diminuiu, mas não quero dizer quanto. Eu não tive nenhum interesse, nunca tive nenhum interesse em obter facilidades com a política. Interesse zero. E ai daquele que fizer proposta para ter vantagem de governo.
Qual o momento mais dramático da sua vida pública?
O que mais me preocupou ao longo da minha vida pública foi na minha primeira eleição no DF, quando todos os meus adversários estavam fazendo campanha na televisão, comício na rua e eu, sub judice, não podia sair. Isso me trazia uma angústia, um desespero imenso. As coisas só melhoraram nos últimos dias de campanha.
Se eleito, o que não fará no quinto mandato?
Foi um erro construir o metrô de superfície? Foi erro construir nove cidades? Samambaia e outras cidades não existiriam hoje. Foi um erro construir o Centro de Convenções? A Biblioteca Nacional? Foi erro erradicar as 64 favelas que havia na cidade? Foi erro construir o hospital de Santa Maria? Foi erro construir a Terceira Ponte? Acho que o meu pressuposto é de que precisava gerar emprego, desenvolver a cidade. Você nunca me viu ajudar rico, eu não ajudo rico. Não ajudo e não vou ajudar. Não vou prejudicá-los, mas ajudá-los jamais. Agora os humildes eu vou ajudar porque é missão para mim.
Seus críticos mais ferozes batem muito na questão do vocabulário, afirmam que o senhor tropeça na gramática de forma oportunista. Faz isso por querer?
Faço porque eu sou analfabeto mesmo (risos).
O PT mudou?
Mudou de cor, de companhias. Tem até um azul hoje no PT. Mudou completamente. Misturou tudo. Não dá para acreditar nisso, não é? PT desfigurado esse aqui.
Quando vê esse PT do lado de um partido que o
senhor esteve durante tantos anos, imagina o quê?
Imagino que eles vão disputar quem ganha mais no futuro, por interesses pessoais.
Como se ganha uma eleição?
Olhando no olho do eleitor e falando o que você pensa, o que é verdade. Não é com traição nem com coisas subjetivas. A pessoa tem que acreditar no que você fala. Como é que me põe ; você já falou o nome, mas eu não gostaria de falar ; Tadeu misturado com Agnelo pedindo voto em Samambaia? Pedindo voto no Paranoá, será que eles conseguem encaminhar? Eu não sei. Podem até ter sucesso. Eu não entendo.
O senhor incluiu na chapa gente que lhe atacava. Refiro-me ao Fraga. O senhor esquece fácil?
Você tem que ter bom senso. Primeiro porque o Fraga não tem condenação por colegiado. Segundo: essa coisa de ter pertencido a determinada agremiação não quer dizer que esteja envolvido. Houve agressões das duas partes ; eu também combati ;, mas hoje percebo que escolhi bem. Fraga é corajoso, destemido e está disposto a ir à luta, ele é um candidato do meu agrado. Não era, mas hoje é. A mesma coisa é a Abadia. Não adianta achar que Abadia é isso, é aquilo, quando ela passou por todos os cargos com sucesso. Pena que ela não chegou ao segundo turno (em 2006, contra Arruda). Eu sinto uma relativa culpa.
Por ter sido ingrato com ela?
Porque o candidato a governador, esse que foi cassado, ia para os comícios, para as televisões e dizia que o candidato dele a senador era Roriz. Então conseguiu iludir, me inibir na campanha. Saí com a Abadia três vezes, quando ela fez 18 comícios. Podia ter ido a todos! Mas não tenho o poder divinatório, infelizmente. Fui ingênuo em acreditar no malfeitor, em acreditar na pessoa.
Se a Justiça confirma a impugnação contra o senhor,
está preparado para colocar Maria de Lourdes ou
Frejat no seu lugar? O que tem a dizer sobre isso?
Não tenho absolutamente nada a dizer. Se entrarem, será outra besteira que eles vão fazer porque deverei voltar mais forte, como vítima.
E quanto à denúncia a respeito de Maurílio Silva,
que se apresenta como seu coordenador de
campanha e negociou contratos em seu nome?
Ele nunca foi coordenador na minha campanha. Estive na casa dele em um almoço com vários evangélicos, mas nunca mais tive contato. A informação que eu tenho é que ele resolveria os problemas comigo, mas resolveria também com Agnelo, resolveria também com Magela. Está aqui uma degravação da fita (Roriz mostra o trecho no qual Maurílio Silva cita os outros candidatos).
A imprensa o persegue, é muito rigorosa com o senhor?
Rigorosíssima. Até hoje não me atrapalhou não, mas de agora para frente eu não sei.
Como bom cristão, vai perdoar os traidores?
Não. Perdoar como cristão sim, mas como companheiro eu não tenho interesse. A cidade não aceita. É a mesma coisa que eu querer fazer uma aliança com o PT. Nesta cidade, o povo não aceita, meus amigos não aceitam.
Na aliança PT-PMDB para o Senado, Cristovam
Buarque e Rodrigo Rollemberg são tidos
como imbatíveis para as duas vagas.
Estou muito animado para eleger Abadia e Fraga. A maioria da sociedade está dizendo que vai eleger os dois para mim. Cristovam, a despeito de ser um senador que tem demonstrado muita competência e muita visibilidade, ainda não viu o que o povão dessa maioria está pensando. Acho que para ter essa garantia de vitória, eles precisavam ir para a rua. Conhecer o povo.
O que o senhor fala para os críticos que dizem que
Brasília precisaria se renovar e não deveria
escolher um político que já teve quatro mandatos?
É um risco pensar assim. É a mesma coisa que você pular de cabeça numa piscina. Você não sabe qual é a distância que tem, você pode bater a cabeça. É muito melhor você ter segurança, não ter riscos. O meu governo não terá riscos. Não é botando uma roupa branca e indo para o hospital que se resolve o problema da saúde.
Se a eleição fosse hoje, o senhor ganharia no primeiro turno?
Sim, com base em informações científicas, que é a pesquisa. Mas a eleição não é hoje e eu não sei o que pode acontecer. Vou crescer. Estou muito confiante com as últimas informações de que crescemos das convenções para cá. Então eu faço um desafio: mande fazer uma pesquisa com um instituto local ou com um instituto de fora de Brasília. Se tiver um que seja correto e eu estiver abaixo, eu deixo de ser homem público, deixo de ser político. Vai dar para levar no primeiro turno, com certeza.
Não bastam quatro mandatos?
Não me sinto realizado. Ainda falta muita coisa. É muito pouco. Quatro mandatos é muito pouco para você fazer o que gostaria e ver o povo feliz. Até o dia que estiver vivo. É assim que eu penso. Se fosse pensar em descansar, eu já teria parado.