; Naira Trindade
; Mariana Sacramento
; Luiz Calcagno
A cirurgia plástica fez mais uma vítima no Distrito Federal. A tesoureira Marinalda Araújo Neves Ribeiro, 46 anos, morreu às 12h de ontem, na Clínica Magna, localizada no Edifício das Clínicas, na Asa Norte, durante um procedimento cirúrgico. Segundo o gerente comercial Sélio Ribeiro, 47, marido da vítima, ela faria uma lipoaspiração nos culotes e no abdômen, além da retirada de excesso de pele nos seios e de uma reparação nas pálpebras. Durante a cirurgia, ela sofreu uma redução dos batimentos cardíacos. De acordo com o titular da 5; Delegacia de Polícia, Laércio Rossetto, os médicos ainda tentaram reanimá-la. ;A polícia trabalha, inicialmente, com a hipótese de negligência e imprudência. Se caracterizar falta de cuidado, podemos indiciar a equipe por homicídio culposo;, afirma o delegado.
Marinalda deu entrada na clínica às 8h30. A paciente realizou todos os exames pré-operatórios e de risco cirúrgico. Por volta das 9h, o procedimento foi iniciado. Uma equipe composta por um cirurgião plástico, dois anestesistas e um instrumentista cirúrgico conduziu a intervenção. Às 10h10, os equipamentos registraram uma redução nas batidas do coração. ;O proprietário da clínica não estava no estabelecimento na hora do fato, mas ele veio à delegacia comunicar o ocorrido;, explica Laércio Rossetto.
A certidão de óbito de Marinalda não esclarece a causa do óbito. Sélio decidiu doar as córneas da mulher. Moradora do Park Way, a tesoureira deixou três filhos. A filha mais velha, a dentista Fabiane, 23 anos, estava com a mãe no momento da parada cardíaca. O irmão da vítima, o comerciante Ageudo Araújo Neves, 48, contou que ela adiou a cirurgia por cinco anos. A família evita responsabilizar alguém pela morte. ;Ela não precisava da cirurgia, mas ninguém quer fazer julgamento. Foi uma fatalidade. Esperamos pelo laudo do IML.;
De acordo com Rossetto, agentes da delegacia se dirigiram à clinica para constatar o óbito e interditaram a sala cirúrgica para a realização de perícia. O Instituto de Criminalística da Polícia Civil (IC) foi acionado e o diretor do Instituto Médico Legal (IML), Malthus Galvão, auxiliou os trabalhos no local. Foi constatado que a clínica não contava com uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas tinha os equipamentos básicos para monitorar a paciente e prestar socorro em caso de emergência. A polícia chegou a testar os aparatos e todos funcionaram de acordo com o esperado. ;Além disso, identificamos os médicos. Vamos ouvir todos durante a próxima semana;, afirma o delegado.
Rossetto alega ter entrado em contato com o titular da Promotoria de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde, Diaulas Ribeiro, que acompanhará o caso. A reportagem tentou, sem sucesso, contato com o promotor. ;O local e o corpo já foram periciados. Faremos um trabalho minucioso para saber se houve a perfuração de algum órgão que possa ter desenvolvido o quadro clínico de parada cardíaca.; A 5; DP instaurou inquérito policial para apurar as circunstâncias. O laudo da perícia sai entre 10 e 15 dias.
O Correio falou ontem à noite, por telefone, com o anestesiologista Geraldo Guttemberg Junior, um dos proprietários da Clínica Magna. Ele não confirmou se a morte de Marinalda foi provocada por uma parada cardíaca. O médico disse estar muito consternado com a situação e preferiu não prolongar o assunto. ;Amanhã (hoje ) teremos um posicionamento, por enquanto, prefiro não falar.; O enterro de Marinalda está marcado para às 10h30 de hoje no Cemitério Campo da Esperança.
Colaborou Saulo Araújo
Vaidade mortal
Dezembro de 2008
A brasiliense Jussara Maria Ferreira, 45 anos, perdeu a vida em 1; de setembro após receber uma anestesia durante um procedimento cirúrgico. O médico que a operou, o pastor Contreras Zambrana, 54, acabou preso pela polícia de Palmeiras de Goiás. Ele é suspeito de matar pelo menos duas pacientes e deformar outras cinco durante cirurgias de lipoaspiração.
Janeiro de 2010
A jornalista Lanusse Martins Barbosa, 27 anos, morreu durante lipoaspiração realizada em 25 de janeiro na sala de cirurgia de um hospital da 715/915 Sul. Investigação policial concluiu que houve erro médico. Autópsia revelou que houve a perfuração da veia renal direita de Lanusse durante a lipo. Com isso, ela teve hemorragia interna e diversas paradas cardiorrespiratórias. O cirurgião plástico Haeckel Cabral Moraes acabou indiciado pela morte de Lanusse.
Abril de 2010
Kelma Macedo Ferreira Gomes, 33 anos, que era assessora do ministro das Cidades, Márcio Fortes, morreu sete dias após passar por uma lipoescultura no Hospital Goiânia Leste, no Setor Universitário da capital goiana. Ela estava internada no Hospital São Francisco, em Ceilândia. O promotor de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde (Pró-Vida), Diaulas Ribeiro, encaminhou o corpo de Kelma ao Instituto de Medicina Legal (IML) para necrópsia. Tanto o MP quanto a Polícia Civil abriram investigação sobre o caso.
Perfil
A dona da festa
A paraibana Marinalda Araújo Neves Ribeiro, 46 anos, é descrita por amigos e familiares como a matriarca da família. No casamento de 26 anos com o gerente comercial Sélio Ribeiro, 47 anos, teve três filhos: a dentista Fabiane, 23 anos, e os universitários Selinho e Leonardo, 21 e 20 anos, respectivamente. Além da prole, a tesoureira Marinalda tinha força para ajudar a cuidar dos três irmão mais novos, filhos do segundo casamento do pai, já falecido. Era ela quem reunia a todos. Era uma pessoa alegre e extrovertida. A dona da festa, descreveu Ageudo Araújo Neves, 49 anos, um dos sete irmãos da vítima. A casa da família, no Park Way, estava sempre cheia. ;Ela era um tipo de pessoa que, onde chegava, roubava a cena. Ela não precisava ter feito a cirurgia, era uma mulher muito bonita;, relata Márcio Duarte, amigo da família. Mais do que a mãe de seus três filhos, o marido lamenta a perda de uma grande companheira. Na página do site de relacionamento Orkut que a tesoureira mantinha, Marinalda deixa pública a paixão que tinha pelo marido e pelos filhos. Na página, amigos já deixaram recados de solidariedade à família.