O cirurgião Agnelo Queiroz está convencido de que o Distrito Federal precisa passar por uma assepsia para extirpar o mal provocado pelos desmandos dos últimos governos. O diagnóstico feito pelo médico de 51 anos é grave: o tecido social brasiliense está contaminado pela corrupção. A enfermidade que atingiu níveis gravíssimos com a Operação Pandora decorre das práticas de um grupo político arraigado ao atraso.
Depois de enfrentar uma guerra de dossiês dentro do próprio partido e de vencer as prévias do PT contra Geraldo Magela, o ex-ministro do Esporte sai da mira dos correligionários refratários à sua escolha como candidato ao governo, mas continua na defensiva. A cidade ainda parece não entender a aliança com o PMDB, rival de duas décadas de luta política.
Em entrevista ao Correio, Agnelo explica o fim da polarização entre azul e vermelho na capital da República, defende o vice Tadeu Filippelli, cria de Joaquim Roriz, e diz estar seguro de que a população tem maturidade para entender suas escolhas. Na trincheira, há meses Agnelo não aceita a pecha de omisso por ter visto parte do arsenal de Durval Barbosa antes da divulgação do escândalo da Caixa de Pandora. Julga que àquela altura nada poderia ser feito. Caso levasse a público o teor das imagens devastadoras, Agnelo entende que a denúncia se perderia na batalha política. O esquema montado no governo Arruda ficaria mantido e Brasília ainda estaria deitada em um berço esplêndido de banditismo.
Dizendo-se preparado para enfrentar o fenômeno de votos Joaquim Roriz, Agnelo promete não indicar políticos para áreas técnicas como Segurança e Saúde. `Eu mesmo tocarei a saúde. Jamais colocarei político na segurança pública.` O ex-comunista baiano cita Deus algumas vezes, diz confiar no eleitor brasiliense e não teme eventuais baixarias na campanha: `Estou pronto pra tudo`.
Como desatrelar a participação de gente que está dentro da sua aliança e foi investigada na Caixa de Pandora?
O eleitor saberá distinguir uma coisa da outra?
Com certeza porque nossa proposta vem de pessoas e de partidos dispostos a romper com esse passado e a construir um novo caminho de cidadania para o DF. Todo momento de crise é também de oportunidade, e daqueles que participaram do governo não quer dizer que concordem com o que acontece ou que não tenham responsabilidade com a saída dessa prática. Pelo contrário, estamos vendo pessoas que têm a coragem, a determinação, a responsabilidade e o compromisso de resgatar o orgulho e a esperança da nossa cidade. Todos que concordarem com esse programa serão bem aceitos na nossa aliança.
O que sua candidatura trará de novo num cenário político ainda marcado pelo escândalo da Pandora?
Essa candidatura significa um grande pacto com a nossa sociedade. É uma aliança ampla, para ganhar a eleição e assumir a responsabilidade dentro desse momento da crise. Não é uma aliança ou uma candidatura para marcar posição, fazer um protesto. É uma aliança que, vendo a gravidade dessa crise no DF, tem obrigação de apontar soluções. É preciso construir um novo caminho do ponto de vista de uma gestão absolutamente transparente, participativa, democrática, que jamais repita os episódios desse passado recente; mas também do ponto de vista das propostas, das prioridades. Cuidar da nossa gente, dos serviços públicos, do desenvolvimento humano, da geração de emprego, do desenvolvimento econômico, pensando a nossa cidade como a capital do Brasil, que tem de estar à frente do nosso tempo como exemplo de civilidade, de respeito ao cidadão, de respeito ao meio ambiente e à qualidade de vida, ao desenvolvimento sustentável, à legalidade. Uma cidade que respeita as pessoas portadoras de deficiência e, sobretudo, que respeita profundamente as nossas crianças.
Seus adversários consideram uma incoerência a aliança entre o azul e o vermelho.
A nossa aliança é feita com partidos que compõem a nossa base nacional. O PMDB está ajudando o presidente Lula a mudar o Brasil, é um ato incontestável. É um partido com tradição na luta pela redemocratização. Não é porque havia um militante, um membro, um filiado que foi governador por várias vezes com uma prática absolutamente atrasada que esse partido tem que ser condenado pelo resto da vida. Estamos trabalhando é com os membros do PMDB que toparam romper com essa liderança e querem outro caminho para o DF. Isso tem de ser elogiado porque é uma atitude correta, corajosa, de quem quer avançar e se preocupa com a cidade. Por isso o PMDB é muito bem-vindo nessa aliança. O primeiro a enfrentar o Roriz foi o Filippelli, que o derrotou internamente.
A chapa tem uma cabeça do PC do B, que é o senhor, tem o PMDB, tem o PDT e tem o PSB. Não falta PT nessa aliança?
Sou do PT com muito orgulho, sou pela minha opção. É um partido com o qual me identifico e com quem sempre trabalhei junto durante toda a militância quando estava no PC do B. Estou muito à vontade e tenho todas as condiçoes de representar as ideias do PT nessa aliança. Essa representação do PT na aliança é justamente a cabeça de chapa, a identidade com a mudança na nossa cidade.
Qual é a diferença da sua candidatura para a do ex-governador Roriz?
A diferença de água e óleo. São candidaturas, divisões e concepções opostas. É evidente que o eleitor conhece muito bem o Roriz, ele já foi governador aqui por quatro vezes. Sua forma de fazer política, sua forma de administrar, de tratar a coisa pública, todo mundo já sabe. O que vou apresentar ; porque nunca fui candidato a governador ; é que nossa aliança será uma gestão ética, absolutamente transparente, com o que tiver de mais avançado. No nosso governo adotaremos medidas do ponto de vista da transparência, do controle social, da participação da sociedade, da publicidade.
Qual medida vai mostrar que o seu governo será diferente?
Já no primeiro dia teremos um cuidado absoluto com a coisa pública. A primeira coisa é dar publicidade a tudo, absolutamente em tempo real. Em muitos lugares do Brasil isso já ocorre, inclusive no governo federal, e nunca conseguimos implantar aqui no DF mesmo com ações judiciais. Desde a época em que eu era distrital nós entramos várias vezes na Justiça para fazer com que o GDF desse publicidade em tempo real, de forma acessível, não de enganação, com sistemas complexos que ninguém pode ter acesso. Há vinte anos estamos tentando isso. Vamos parar com licitações emergenciais que passam dois, três anos. Teremos respeito à legalidade, à participação dos órgãos de fiscalização. No nosso governo, todos os contratos terão uma cláusula com um telefone 0800 e absoluta privacidade. Qualquer contratante que se sentir achacado com qualquer tipo de abordagem indevida terá a quem recorrer. Se alguém adotar qualquer atitude que não seja correta, ele terá certeza de que será descoberto e punido.
Haverá alguma semelhança com o governo Cristovam?
Sim. Vamos adotar, por exemplo, o Orçamento Participativo. É uma medida democrática permitir que a sociedade defina o que é prioritário e o que não é em parte do orçamento. Há outros programas de relevância da época. Sem dúvida vamos aproveitar e aperfeiçoar aqueles programas com nossa experiência nacional.
O que mais o assustou no escândalo da Pandora? Qual o momento mais dramático?
Evidentemente trata-se de um episódio que deixa todo cidadão envergonhado. Mas o mais chocante sempre será o envolvimento da autoridade maior, que é o governador. Arruda ser preso é uma parte muito triste dessa crise para toda a cidade, independentemente de ser oposição ou governo. Aqui tem brasileiros de todos os lugares do país, que vieram para construir uma cidade que em 50 anos tornou-se patrimônio da humanidade. Essa é a nossa marca. Não se pode confundir a marca do povo do DF com as atitudes erradas que aconteceram e infelizmente tiveram grande publicidade, tanto nacional quanto internacional. O povo daqui serviu de motivo de chacota.
O senhor chegou a temer a intervenção no DF? A decisão do STF foi acertada?
Temer a intervenção, não. Mas em determinado momento percebemos que, diante de tamanha gravidade, não poderia continuar o que estava acontecendo. O STF acertou porque estamos a três meses de uma eleição. O povo vai escolher democraticamente, de forma soberana, o representante que terá toda a legitimidade para tomar as medidas necessárias de saneamento absoluto disso que aconteceu. Mas uma intervenção desorganizaria muito o DF. Se fosse alguns meses antes, seria muito difícil não haver intervenção.
O que Durval lhe mostrou antes da divulgação do escândalo? O que aconteceu de fato no encontro de vocês?
O que aconteceu é muito simples. Fui chamado pelo jornalista Edson Sombra para ver uma denúncia de corrupção no GDF. E, lógico, sou um político da cidade, preocupado com a cidade. Foi aí que ele me apresentou ao Durval, que era secretário de governo. Sombra me levou à secretaria de Durval, no anexo do Buriti. Não tem nada de escondido, fui lá falar com o secretário, e ele me mostrou umas três fitas VHS. Disse que ia apresentar aquilo à polícia. Vendo a fita, não tinha como saber se aquilo estava editado, se era verdade, se era uma armadilha. Não tinha como saber nada disso, ele falou que entregaria isso para a polícia, e foi exatamente isso que aconteceu. Quando apareceu o escândalo e vieram à tona as fitas, comprovei que de fato o que vi lá era editado. Nas fitas que vi lá com o Durval, ele nunca aparecia na fita. Ele mostrou a fita, segundo ele, a umas dez pessoas na época, personalidades com credibilidade na cidade porque tinha, inclusive, receio de ser assassinado. Vendo a fita, não sabia do teor de uma coisa grave dessa. É evidente que o caminho da investigação tinha de ser por órgãos de fiscalização. Então não me manifestei com relação a isso porque, caso o fizesse, transformaria aquilo numa luta política de oposição ao governo e botaria tudo a perder. Seguramente hoje esse esquema estaria funcionando direitinho porque seria uma luta do PT para derrubar o governo sem apresentar uma prova, sem nenhum documento em mão. Ele não deixou nada comigo.
Não seria mais correto denunciar tudo? Procurar a polícia, o Ministério Público? Não foi omissão sua?
Eu não seria irresponsável de dizer que tinha um negócio e não ter uma prova pra mostrar. Tenho uma história nessa cidade, todo mundo me conhece. Fui deputado distrital, três vezes deputado federal, todos meus mandatos foram de fiscalização, destacados no Congresso, sobretudo por esse aspecto. Fiscalizava mesmo e nunca fiz denúncia vazia ou irresponsável. Estou absolutamente convencido de que agi corretamente. Se eu tivesse transformado essa denúncia, que é uma questão absolutamente policial e dos órgãos de fiscalização, em uma luta política entre oposição ao governo, seguramente estaria prestando um grande desserviço à população por vaidade, por querer dizer que sabia de coisa, por querer dizer que vi fita do adversário. Isso teria comprometido a investigação. Graças a Deus fui eu que vi a fita e não um aventureiro. Por não ter politizado uma questão como essa é que foi possível aos órgãos fazer uma investigação no mérito. Na hora que botassem à frente uma denúncia de um opositor do governo local isso seguramente teria um outro desfecho. Fiz o melhor para a nossa cidade. Tanto é que esse esquema todo está desmontado.
Tem receio de alguma denúncia, do passado ou de agora? O senhor passou por um momento crítico na vida, que é um atropelamento.
Não tenho medo nenhum de dossiê algum. Tenho uma trajetória inteira dedicada à vida pública. Fui deputado distrital constituinte, deputado federal por três mandatos, sempre avaliado como um dos parlamentares mais influentes do Congresso Nacional; fui ministro de Estado no governo Lula, diretor da Anvisa, tenho uma militância política de muitos anos em todos os momentos da vida. Não tenho em absoluto nenhum tipo de receio dessas tentativas de intimidação que, na minha leitura, são sinais de desespero. É uma estratégia de quem não tem proposta ou tem uma vida suja e prefere tentar trazer todo mundo para a lama para igualar o jogo. Com relação ao atropelamento...
Se isso for para o horário eleitoral, não teme uma reação negativa dos eleitores?
Prestei socorro, levei a pessoa ao hospital, a pessoa foi operada, foi assistida, mas veio a falecer no dia seguinte; prestei,obviamente, toda a assistência posterior também. Tudo isso foi julgado em todos os trâmites legais e se provou que eu não tinha culpa de absolutamente nada. Estou absolutamente tranquilo. Querer explorar esse episódio do ponto de vista eleitoral mostra a falta de escrúpulo absoluta, da falta de qualquer senso, isso beira a raia da irresponsabilidade. Infelizmente é a realidade da política aqui no DF. Tentaram fazer isso uma vez em um jornaleco do Entorno há alguns anos atrás em uma determinada eleição. O povo é que dá a melhor resposta para essa gente.
Como o senhor pretende enfrentar o baixo nível da campanha? Vai rebater?
Posso falar por mim. Farei uma campanha limpa, como sempre foi em toda a minha vida, propositiva. Discutiremos propostas e soluções para a nossa cidade, a cidade foi enxovalhada por escândalos. Mas sei qual é o método do meu adversário de fazer campanha. Estamos preparados para tudo, vamos conscientizar nossa militância e a população sobre qualquer tipo de atitude baixa, desclassificada para fazer a luta política. Acho que essa será a última campanha com um cenário de disputa com essas características, fruto do atraso absoluto, comparado a práticas políticas que existem nas áreas mais atrasadas. O país vive um momento maravilhoso. Infelizmente estamos em um grau de atraso de gestão, de comportamento, do trato da coisa pública, da utilização do Estado para a luta política, para o clientelismo. O grau de atraso que é incompatível com a capital do Brasil. Uma mudança institucional precisa ser feita em todo o organismo do DF, que está contaminado por essa prática antiga e atrasada.
A Operação Shao Lin, que apontou irregularidades na sua gestão no ministério dos Esportes, e a compra da sua casa também são temas indigestos?
Esses temas não me prejudicam, são tentativas de me desgastar. Fiz um projeto social de alta relevância: um milhão de crianças atendidas pelo maior programa socioesportivo do mundo. O parceiro que não cumpriu os objetivos do contrato foi acionado tanto pelo ministério quanto pela CGU, pelo TCU e pelo MP. Não admito ilações para tentar me vincular com qualquer entidade que porventura não cumpriu seus objetivos. As inverdades sobre a compra da minha casa também já foram absolutamente desmoralizadas. Apresentei as provas, mostrei imposto de renda, quebrei meu próprio sigilo, tudo foi absolutamente comprovado. Na própria Receita, um órgão rigorosíssimo, não tenho nenhuma pendência. Isso aconteceu uma semana antes da prévia do PT. Foi nitidamente uma tentativa de me atingir politicamente.
O senhor foi ministro e, se eleito, terá a responsabilidade de preparar Brasília para a Copa
de 2014. Está preocupado com relação às obras?
Estou muito preocupado, porque identifico uma oportunidade ímpar para o DF. Ser sede da Copa é uma grande oportunidade para o desenvolvimento e para as nossas pretensões futuras, essa cidade tem uma vocação forte para o turismo, ser sede da Copa significa mostrar para o mundo a beleza da nossa cidade, a nossa arquitetura limpa. A Copa vai ser o grande momento de redenção e saída dessa crise atual.
Mas a cidade está preparada?
Não, em absoluto. É uma oportunidade de ouro, mas nós estamos realmente atrasados. Não é preciso muita infraestrutura, felizmente, pela característica de nossa cidade. Mas é preciso fazer um grande investimento humano, preparar a população e os órgãos públicos para fazer da Copa uma grande chance de promover o desenvolvimento econômico, de projetar uma imagem positiva da cidade no Brasil e no mundo, de gerar emprego e renda, de firmar uma tendência forte do desenvolvimento a partir do turismo. Mas preparar a cidade para a Copa em si seria um erro. Só tem razão fazer Copa se houver dentro de um plano de desenvolvimento econômico que aproveite todos os investimentos ou que faça do investimento que tem data marcada o tensionamento necessário para dar um grande salto posterior.
A Pandora abalou a reputação da cidade até em organismos internacionais, que já falam em cortes. Haverá uma campanha para melhorar a imagem do brasiliense, vítima até de chacotas?
A crise é muito mais profunda do que a gente imagina e coloca em risco a credibilidade da capital do Brasil Não há desenvolvimento de uma grande indústria como o turismo sem imagem. Precisamos, antes até de assumir ; porque temos que trabalhar já na transição com o governo local em função do tempo delimitado de grandes projetos ; anunciar o compromisso do governo eleito legítimo da cidade com os organismos internacionais. Decerto isso será feito com gestos concretos. Não chega a ser uma campanha, mas gestos concretos que mostrem ter havido uma mudança radical no DF e que dêem todas as garantias do cumprimento das responsabilidades que estamos assumindo.
Como agirá em relação aos contratos entre o GDF e as empresas?
Qualquer contrato suspeito tem de passar por auditoria imediatamente. Se houver irregularidade, suspenda-se e tomem-se as providências cabíveis. Não teremos solidariedade com nenhuma indignidade. Dinheiro público é coisa séria. A situação é dramática: faltam medicamentos nos hospitais, as pessoas que estão com câncer não podem ser operadas porque não tem sala cirúrgica, porque não tem atadura. Isso vai mudar.
Não se resolve isso num passe de mágica.
Como reverter esse quadro desolador?
Assumirei a responsabilidade sobre a área de saúde. Não vou delegar a alguém a área de saúde. Não cobre do meu secretário, não. Cobre de mim porque serei o secretário de saúde até a saúde estar nos eixos, recuperada, estável, de pé. Hoje há penúria absoluta, humilhação das pessoas que estão sendo atendidas e de quem as atende naquelas condições. Vocês têm anunciado inclusive agressões aos profissionais de saúde. Vou assumir essa responsabilidade porque é a vida das pessoas. Tem que mudar o modelo de assistência à saúde porque ele é errado, uma estupidez.
Como chegou a esse ponto? Não tinha verba?
O modelo está baseado em uma política errada, em tudo que não podia ser feito na área de saúde. Juntou a gestão desastrosa, a utilização dos recursos de forma equivocada e a expectativa de privatização do sistema. Então é evidente que isso tudo provocou a tragédia. E quem paga isso é o povo pobre, o paciente que só tem a alternativa do sistema público.
Existem outras áreas em situação crítica?
A questão segurança pública é gravíssima. A despeito de termos excelentes recursos humanos, não existe uma política consequente. Tem que ter uma política ostensiva, comunitária, forte, ligada à população, com grandes auxílios da tecnologia. Tem que ter capacidade de investigar. Os graus de investigação dos nossos crimes são lamentáveis porque há uma grande carência de trabalhadores na área da polícia civil. Tem que aparelhar com o que tiver de mais avançado no mundo. Isso é barato! Devemos oferecer instrumentos para que a polícia técnica seja excelente, para nunca mais a gente ouvir falar que tortura é método de investigação. Infelizmente, na capital do Brasil, ainda se cometem as maiores barbaridades. O bandido tem de saber que, se cometer um crime será pego com certeza. Teremos uma cidade segura. Seremos implacáveis no combate ao tráfico, ao crack. Implacáveis na proteção das escolas em relação às drogas.
Falta investimento tecnológico, mas há muito aparelhamento político. As polícias ficaram muito carimbadas?
Segurança pública é uma área de grande desenvolvimento tecnológico, que precisa ser acompanhado. Hoje há um scanner utilizado em países desenvolvidos que verifica escaneamento de todas as posições em uma área de crime, de forma tridimensional. Isso é fundamental para o esclarecimento de um crime. Custa um milhão. É caro? Claro que não é. Vou despolitizar a polícia. Jamais no meu governo entregarei a polícia a um deputado. Polícia é para defender a sociedade. É de responsabilidade do governo. Como é que posso entregar a polícia a um deputado para ele investigar o que interessa, ir atrás dos adversários, proteger bandido aliado? Isso é deteriorar a polícia. Temos uma excelente Polícia Civil, bem paga, bem formada. Temos que preservar, toda a sociedade e os políciais sérios sabem disso. Politizar uma instituição dessa é destruí-la. Jamais entregarei de porteira fechada a saúde na mão de um parlamentar. No nosso modelo, os partidos vão participar, dar sugestões. Mas a responsabilidade é do governador, porque são áreas indelegáveis.
Nao é improvável montar um governo técnico com o PMDB tão forte? Quem vai mandar nesse governo?
Evidente que quem vai mandar é o governador e sua equipe, claro. É natural que toda a coligação participe do governo. Todos os partidos têm bons quadros. Você tem que ter critérios para indicação. Se é uma área que exige capacidade técnica com capacidade política, então você tem que respeitar isso. Não pode romper de maneira nenhuma essas características, e os partidos podem oferecer nomes e alternativas. Agora a responsabilidade é do governador.
Em relação ao transporte público, é possível desatar esse nó?
É possível e indispensável ; investindo no transporte público. Não temos saída: ou se resolve essa questão do transporte ou a cidade está inviabilizada em 10 anos. Temos um milhão e 100 mil carros, emplacamos 100 mil carros por ano. Em nove anos teremos 2 milhões de carros. A cidade não anda. Temos que fazer urgentemente um plano diretor de transporte que possa ser cumprido paulatinamente. Faremos um investimento para atrair desenvolvimento econômico nas cidades e gerar empregos.
A cidade se acostumou a vê-lo nos carros de som dedicado à questão sindical. O sindicalista
do passado será diferente como governador?
A postura será a mesma, com certeza. Muita gente diz que o cara muda quando se elege. Digo sempre o contrário: ele muda antes. Você só conhece de fato o cidadão quando dá poder a ele. Faremos um governo muito firme, propositivo, que é meu estilo. Sou cirurgião. Eu não posso nunca começar uma cirurgia, encontrar uma dificuldade e deixá-la pela metade. O meu estilo é entrar e resolver.
O Distrito Federal precisa de uma cirurgia?
Precisa. E às vezes tem que extirpar o tecido podre para não contaminar o organismo por completo, como hoje infelizmente ocorre em vários segmentos. Várias áreas estão bastante contaminadas por uma prática atrasada, superada e deletéria para o nosso povo. O meu estilo será de muito trabalho, todos sabem. No Ministério trabalhava 15 ou 17 horas por dia. Vamos de fato botar para funcionar os órgãos. Ter metas e objetivos, mas sempre no diálogo. Será um governo amoroso, extremamente respeitoso com a sociedade.
Como vai tratar a questão dos cargos de confiança no GDF? Vai cortar, diminuir, reavaliar, o que pretende fazer?
Faremos um levantamento completo sobre a situação dos cargos de confiança. Existem áreas onde isso tem uma importância grande, mas em outras, não. Na saúde, por exemplo, é uma irresponsabilidade botar gente que não entende nada do assunto para dirigir. É comum hoje, infelizmente, uma pessoa administrar uma farmácia de hospital e não ser profissional da área, ser um cabo eleitoral. Isso é uma tragédia absoluta para o serviço público. Os cargos de confiança, evidente e prioritariamente, serão ocupados por servidores de carreira, sobretudo os que têm conteúdo técnico. Nas áreas onde há carência, pode ter gente de fora.
Acredita no fim do rorizismo e do arrudismo?
Deveríamos estar na frente. Na eleição nacional, há um nível de disputa em outro patamar, independentemente das preferências. Não se pode dizer que a disputa da Dilma é com um coronel. Serra tem ideias diferentes, posições diferentes, mas é outro nível de político. Os grupos mais atrasados não têm sequer condições de se apresentar numa eleição presidencial. A direita mais atrasada, mais populista, do coronel, está sendo extirpada no Brasil. Isso vai acontecer aqui inevitavelmente, acho que essa é a última eleição.
A relação com o Legislativo vai mudar?
Será radicalmente diferente. Fui parlamentar durante 16 anos tanto aqui quanto na Câmara dos Deputados. É muito importante essa experiência legislativa para introduzirmos uma relação diferente, republicana, com os parlamentares. Da minha parte, o parlamentar terá a porta aberta. Será prestigiado. Vamos valorizar suas iniciativas, debater os temas principais da cidade,discutir previamente. Acabar com essa outra distorção: só lembrar dos partidos na época de eleição. Uma coisa é certa: nossa base não será cultivada com pagamento em cada votação. Jamais isso ocorrerá no nosso governo. Esse método foi um dos mecanismos da tragédia que se abateu sobre a nossa cidade.
Até no âmbito nacional, o PMDB é um partido que tem interesse por cargos, se coloca muito na máquina do governo.
Todo partido que disputa o poder político é legítimo. Às vezes, por conta de um mau exemplo, a gente generaliza. Mas os partidos vão participar. Se ganhamos uma eleição, é legítimo que o partido aliado participe do GDF, tenha responsabilidade e façam com que o governo acerte. A questão é a forma de fazer isso ; aí é que está a diferença. Cobrarei pessoalmente, terei controle semanal de todas as áreas prioritárias. Se o secretário não estiver cumprindo as metas, evidentemente que o partido será levado a substituí-lo.
Mas a cultura de cargos está muito arraigada . Esse discurso não bate com as práticas peemedebistas?
Esse governo vai ser um rompimento com a prática anterior. Por isso o nome da nossa coligação é Um novo caminho. Ou rompemos com essa prática ou estamos prejudicando a cidade e desestimulando uma função nobre de ser político. Queremos que ser político volte a ser alguém importante, que nos orgulhe. Não porque todos estamos evoluindo o tempo inteiro. Estamos mudando? A crise, como bem dizem os chineses, também significa uma oportunidade. Vamos sair muito mais fortalecidos. A capital do Brasil nunca mais será a mesma depois dessa crise.
O senhor teme um candidato bom de voto como o Roriz? O PT nunca ganhou do Roriz aqui.
Não temo. Prefiro que seja um bom candidato. Reconheço que ele é um candidato forte, ninguém dessa cidade pode negar isso. Foi governador durante 16 anos. O que posso dizer é que estamos absolutamente preparados para ganhar dele com uma campanha limpa, séria, propositiva. Tenho certeza e confiança no povo do DF, um povo muito politizado.
Toninho do Psol disse que o senhor, o PT e o PMDB são iguais. Ele foi cruel?
Toninho é um bom militante, uma pessoa preparada da nossa cidade. É evidente que ele não acredita nisso que está falando e nem precisa utilizar esse tipo de retórica num nível de debate como esse. Quem melhor responderá será o povo, que vai mostrar que existem grandes diferenças de visão, concepção, maneira de gestão. Em todos os aspectos a diferença é muito grande. Essa afirmação é um desrespeito à inteligência da população.