Jornal Correio Braziliense

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Ipês-roxos começam a florescer com a seca e amenizam o visual acinzentado da cidade

Nem só o concreto armado ornamenta a paisagem de Brasília. Além dos monumentos construídos pela genialidade humana, a cidade dá lugar a espetáculos da natureza. Com o início da temporada da seca, brotam dos galhos dos ipês-roxos flores de encher os olhos. Espalhadas por todo o Plano Piloto, as árvores típicas do cerrado (veja Para saber mais) começaram a ser plantadas pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) no início de 1960. Décadas depois, o órgão se empenhou em disseminar a espécie pelas ruas.

Ao contrário do que muitos pensam, os ipês-roxos não florescem em decorrência da baixa umidade relativa do ar. O autor do livro 100 árvores do cerrado, Manoel Cláudio da Silva Júnior, explica que os dias mais curtos característicos do inverno despertam na espécie a percepção da necessidade de deixar as flores desabrocharem. ;A polinização ocorre por meio das abelhas. Como a disponibilidade de alimentos diminui nesta época do ano, elas são atraídas pelo néctar presente nos ipês. É uma vantagem para a árvore;, explica o especialista em dendrologia da Universidade de Brasília (UnB).

Em Brasília, são dois os tipos mais comuns de ipês-roxos. Um deles apresenta um buquê que, de longe, parecem bolas em tom púrpura. O outro tem flores esparsas, com pétalas mais escuras, que brotam em árvores de menor porte. Manoel Cláudio explica que novas descobertas resultaram em alterações no nome científico das plantas. ;A mudança ainda não foi totalmente aceita;, explica. Apesar disso, Manoel Cláudio enfatiza que não há diferenças nas características externas das plantas.

As árvores continuarão a embelezar a capital e encantar moradores e visitantes como o catarinense Ronei Schultze, 29 anos. O gestor esportivo veio a trabalho de Blumenau e se hospedou em um hotel na área central da cidade. Da varanda do quarto, assistiu, boquiaberto, ao show dos ipês-roxos nos fins de tarde. ;A luz do por do sol faz a cor das flores mudar. Dá para ver o brilho das pétalas com mais intensidade;, descreve. A seca que deixa a árvore com cores diferentes todos os anos é um alento para os olhos de Ronei. ;Lá em Blumenau, tem vezes que não dá nem para ver o sol;, explica.

Plantio
Desde o fim de 2009 até março deste ano, a Novacap plantou 34 mil ipês-roxos, amarelos e brancos. O chefe do Departamento de Parques e Jardins (DPJ) do órgão, Rômulo Ervilha, conta que as mudas têm, em média, três metros de altura. A maior parte delas ornamentará, dentro de aproximadamente cinco anos, a Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), quadras do Plano Piloto, ruas de Samambaia e de outras regiões do Distrito Federal. ;Por enquanto, elas estão sem folhas e as pessoas não reparam que são ipês;, explica Rômulo.

Enquanto isso, a gaúcha Lívia Zanchet, 25 anos, compara as árvores adultas de Brasília com as de Porto Alegre. Segundo ela, os ipês da cidade natal são bonitos, mas não se igualam aos da capital da República. ;As flores de lá ficam mais espalhadas. Aqui, ficam todas agrupadas. São lindas;, revela. A psicóloga desembarcou na cidade para participar de uma conferência de saúde mental. No caminho do hotel para o local do encontro, Lívia passa pelos ipês-roxos das proximidades da Torre de TV. ;O passeio se torna mais agradável.;

A professora de arborização e paisagismo Carmen Regina Correia, da UnB, ressalta que, além do cerrado, os ipês embelezam outras regiões do país. ;Há espécies na Mata Atlântica e no Pantanal;, exemplifica. De acordo com ela, todos florescem na mesma época, não importa o local em que se encontram. ;Se visitarmos hoje qualquer um desses biomas, encontraremos as árvores floridas. É uma questão genética;, explica.

Os exercícios de Eder da Fonseca Melo, 38 anos, se tornam mais agradáveis com a beleza dos ipês. O fotógrafo faz corridas regulares no Parque da Cidade e não deixa de reparar nas árvores do local. ;Adoro o cerrado. Aqui é a nossa praia;, diz. Eder zela pelas áreas verdes da capital como se fosse a sua casa. ;Não posso ver alguém jogar lixo no chão ou agredir a natureza. Todos têm que se conscientizar e fazer a sua parte;, opina.



Para saber mais
Por todo o país

Ainda que a maioria dos exemplares tenha sido plantada pela Novacap, o ipê-roxo é nativo do Distrito Federal. Além disso, ocorre desde o Piauí e Ceará até São Paulo. A árvore tem porte de médio a grande. Normalmente, alcança três metros de altura nos primeiros dois anos de vida. O crescimento máximo chega a 20m. O nome científico da espécie mais comum é Tabebuia impetiginosa. A denominação, no entanto, passa por mudanças. ;São mais de 100 tipos de ipês. Com base em novas avaliações genéticas, alguns deles passarão a ser chamados de Handroanthus;, explica Manoel Cláudio, da UnB.


Onde admirar

Às margens do Eixo Rodoviário Sul.

No canteiro central da Avenida das Nações.

Nas quadras 114 Sul e 216 Norte.

Ao longo da Esplanada dos Ministérios.

Nas imediações do antigo pedalinho do Parque da Cidade.

Próximo à Feira do Guará, no Guará II