Da forma como estão organizadas as coligações no Distrito Federal, nem Dilma Rousseff (PT) nem José Serra (PSDB) terão palanque na capital da República. A interpretação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a uma consulta de como devem proceder as chapas regionais em dissonância com as coligações para a Presidência da República teve o efeito de uma bomba jogada em cima do tabuleiro eleitoral do DF. Ontem, último dia autorizado para as composições partidárias, quando eram aguardadas algumas movimentações pontuais dos partidos, todas as alianças ficaram ameaçadas.
A principal conquista de Roriz na pré-campanha ; a composição com o PSDB de Maria de Lourdes Abadia ; pode ser atingida em cheio pela interpretação do TSE. Toda a negociação para atrair os tucanos no DF teve como pilar o argumento de montar um palanque para o presidenciável José Serra. Pelo entendimento da Justiça Eleitoral, Roriz não poderia mais vincular o nome do candidato tucano à Presidência da República a nenhum material de campanha, nem sequer citá-lo em seu programa de televisão e rádio. A proibição levou Abadia ao desespero.
Como foi o elo entre a direção do PSDB e o grupo de Roriz, a ex-governadora se sente responsável pelas consequências de um revés num acordo que beneficiaria Serra em Brasília. ;É natural que ela fique apreensiva, todos nós ficamos. Mas, agora, não é hora de mudar as coisas. Preferimos manter tudo como está e deixar que a Justiça Eleitoral explique melhor os termos desta verticalização criada de última hora;, considerou Márcio Machado, que preside o PSDB no Distrito Federal. Assim, o partido permanece na composição encabeçada pelo ex-governador, mas aguarda os desdobramentos da consulta ao TSE.
Mesma postura terá o DEM. O partido decidiu embarcar na coligação de Roriz na tarde de ontem (leia mais na página 36). Mal o DEM entrou, ficou na insegurança se poderia permanecer na coligação do ex-governador. Roriz pertence ao PSC, que ontem oficializou sua deserção da campanha de José Serra, a quem havia prometido apoio, e bandeou para o lado de Dilma. A mudança deu um nó nos planos de Roriz e Abadia. Apesar de a direção nacional do PSC ter deixado a legenda à vontade para definir a situação no DF, a interpretação da Justiça Eleitoral impôs limites para as campanhas em que as coligações de candidaturas para a Presidência não se reproduzem nas esferas estaduais.
PT
Se a turma de Roriz ficou atordoada com a possibilidade de baixas na coligação ; o que repercute por exemplo no tempo de televisão dos candidatos ao governo ;, integrantes dos partidos em torno de Agnelo Queiroz (PT) também ficaram em estado de choque. PPS e PTB já eram contados como aliados. O PPS no DF passou por longo processo de desgaste com a direção nacional da legenda para se posicionar ao lado do PT, já que em âmbito nacional o partido está com o tucano José Serra. Segundo o TSE, nesse caso, Dilma não poderia aparecer numa coligação que inclui representantes de seu adversário tucano.
No início da noite, o impedimento estava sendo trabalhado como questão fatal para a união do PPS do deputado Augusto Carvalho ao PT de Agnelo. O partido chegou a pensar em anunciar a saída da chapa. A mesma dúvida acabou com o impacto programado para o embarque do PTB na coligação petista. A convenção do partido foi ontem à noite e Agnelo estaria lá para sacramentar a aliança. O concorrente petista foi aconselhado a não ir. E o PTB acabou a convenção sem anunciar formalmente a união com o Partido dos Trabalhadores (leia texto abaixo).
Diante da avaliação de que uma desistência poderia ser pior do que aguardar os acontecimentos, PPS e PTB optaram pela segunda hipótese. Caso seja mantido o entendimento da consulta ao TSE, as duas legendas podem sair sim do grupo petista. Nesse caso, teriam de mudar na marra o conteúdo das atas de convenção até segunda-feira, data para o registro das candidaturas.