Os alucinados por fuscas sabem que cada carro leva muito mais que passageiros. Leva uma história, tendo identidade própria. Durante a manhã ensolarada de domingo (27/6), cerca de cem apaixonados pelo veículo produzido entre as décadas de 1940 e 1990 se reuniram para exibir seus valiosos troféus para os brasilienses. Uma carreata saiu do Setor Militar Urbano, passou pela Esplanada, pela Ponte JK, pelo Pontão do Lago Sul e chegou ao Terraço Shopping. O passeio homenageou o Dia Mundial do Fusca, comemorado na última terça-feira, e contou com a participação de colecionadores de outros veículos antigos, como Puma, Maverick, Rugby e Kombi.
Sonho de adolescente de Rodrigo Monteiro, 40 anos, na década de 1970, o fusca azul royal modelo 1968 com placa preta (garantia do Departamento de Trânsito de que o carro tem pelo menos 80% de peças originais) é motivo de estima. Antenado, o economista comprou o carro pela internet em 2008 para realizar o antigo desejo. Depois disso, foram muitos investimentos. O veículo ganhou vários aparatos originais. Até um mug ; penduricalho muito utilizado em 1967 nos retrovisores dos veículos da época ;, que o economista comprou só para enfeitar o possante.
;A paixão vem desde criança. Sempre tive um fusca na família, faz parte da minha vida, da minha infância;, contou Rodrigo, que carrega no peito um fusca em miniatura banhado a ouro, além de ter uma tatuagem do veículo nas costas. ;Essa paixão é passada de pai para filha;, pontua ele sobre o amor que a pequena Raquel Monteiro, 7, já sente pelo carro.
Dedicação parecida tem o comerciante Nelson Roberto Ornezzano, 57 anos, proprietário de dois fuscas. Enlouquecido pelas ;baratas;, denominação carinhosa dada aos veículos, o morador da Asa Sul investiu R$ 22 mil para transformar seus carros em modelos conversíveis. ;O fusca é mais que uma paixão. É um carro carismático que contagiou toda minha família;, disse o morador da Asa Sul. Ele disse a verdade. De tanto dividir a atenção do marido com as baratas, a mulher de Nelson, Sandra Tomotani, resolveu comprar uma. O carro, porém, é o novo modelo produzido pela fabricante, o Beetle, mais moderno e diferente dos antigos das décadas passadas.
Outros amores
Que brasileiro é apaixonado por carro todo mundo já sabe. O inusitado é quando o sentimento invade a vida e até o guarda-roupa dos proprietários de antiguidades. Para reviver a década de 1920, os amigos Dib Franciss, 43 anos, e Alexandre Moreno, 22, resolveram investir em trajes de época. Chapéus, óculos, coletes, bermudas e meias lembraram os modelitos usados em 1927, quando o Rugby, grande paixão dos dois, foi lançado. ;É interessante vir a caráter. Parece que estamos vivendo naquela época;, considerou Moreno. ;É um charme a mais;, completou o dono do carro, o pesquisador da Universidade de Brasília Dib Franciss. O Rugby dele é um dos poucos existentes ainda no Brasil. ;A fábrica só funcionou durante 11 anos. É provável que tenha apenas uns cinco desses carros em todo o país;, calculou.
O encontro com os loucos por carros ainda serviu para ajudar famílias carentes do Distrito Federal. Durante a inscrição para participar da carreata, os organizadores recolheram alimentos, agasalhos e brinquedos que serão destinados a instituições carentes. ;Foi pedido um quilo de alimento não perecível ou agasalhos, mas algumas pessoas sempre doam mais. Ainda não sabemos o quanto poderemos ajudar algumas pessoas;, afirmou o presidente do VW Boxer Clube e organizador do evento, Miguel Pinheiro.
Eu acho...
;Se meu fusca falasse, certamente ele contaria várias histórias. Foi o meu primeiro carro, comprado em 1974, na Bahia. Nele, eu vim até Brasília com outras quatro pessoas: um cunhado e os três filhos, além de dois cachorros e dois cágados. Naquela época, não tínhamos estradas como temos hoje. Eram de terra, cheias de curvas e buracos. Demoramos dois dias, mas chegamos sem o carro furar nem um pneu.;
Marisa Matos, 53 anos, artista plástica, moradora do Cruzeiro