Jornal Correio Braziliense

Cidades

Pesquisa no DF mostra que meninas estão se envolvendo cada vez mais com gangues de adolescentes

Meninas que participam de gangues buscam uma visibilidade social que não encontram na escola ou em áreas públicas da cidade. É o que constata um estudo da Central Única das Favelas (Cufa) e da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), com apoio da Subsecretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da Secretaria de Direitos Humanos, com 13 das principais gangues de Brasília (DF). O estudo virou livro - Gangues, Gênero e Juventude: Donas de Rocha e Sujeitos Cabulosos - lançado hoje (14).

Segundo a subsecretária de Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da Secretaria de Direitos Humanos, Carmem Oliveira, grande parte das meninas que entram em gangues o faz para poder se apoderar de atributos masculinos, ;como circular pela cidade de foma mais livre, além do desejo de superar alguns atributos femininos como não ser boazinha - ela tem que ser ;marrenta;, não chorar, tem que mostrar que é forte, não pode ser fofoqueira;, afirmou.

Ela disse que as meninas são mais vulneráveis à violência do que os meninos porque elas ocultam das famílias as atividades dentro das gangues. ;Elas [as meninas] mentem, dizem que vão para a casa da avó quando vão fazer uma pichação de madrugada. Por isso elas estão mais vulneráveis, porque ninguém sabe onde elas estão;, explicou.

A subsecretária informou que está crescendo o número de meninas atendidas pelo programa de Proteção a Jovens e Adolescentes. Passou de 4% em 2003 para 24% em 2010.

A pesquisadora da Ritla Miriam Abramavay disse, com base no estudo, que grande parte das meninas que integram gangues está na faixa etária de 13 a 22 anos e vem de famílias de classe média baixa. Muitas estudam, algumas trabalham. Para a pesquisadora, o papel das meninas nas gangues é o mesmo dos meninos. Elas picham, roubam, brigam. ;A diferença é que os meninos têm mais poder do que as meninas. Os meninos têm uma liderança geral e tem a ;liderança F [feminina];. É uma liderança entre as meninas, mas a liderança geral é masculina;, explicou.

O coordenador geral da Cufa no Distrito Federal, Max Maciel, disse que a organização vê com preocupação a maior participação de meninas nas gangues. ;Está avançando porque faltam espaços para que essas meninas possam se sentir reconhecidas e a atração pela gangue é para ter status, posição e também para se sentirem pertencentes a algum contexto, no caso, a gangue;, comentou.

Segundo Maciel, a pesquisa identificou que há uma falta de espaços para que tanto meninas quanto meninos tenham visibilidade. ;Eles querem ser reconhecidos como artistas, como atletas nas suas escolas, na sua comunidade;.