Jornal Correio Braziliense

Cidades

Milhares de pessoas acompanharam as missas em homenagem a Santo Antônio

Também houve a tradicional distribuição de pães benzidos

Há quem diga que ele é o santo mais popular da Igreja Católica. Para outros cristãos, o título pertence a Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Controvérsias à parte, uma coisa é certa: em matéria de coração, os fiéis não têm dúvida sobre a quem recorrer: Santo Antônio. As bênçãos do santo casamenteiro também alcançam os mais humildes, que pedem por fartura. Movidas por essas crenças, cerca de 8 mil pessoas lotaram a Paróquia de Santo Antônio, na 911 Sul, durante as oito missas celebradas durante o dia em homenagem ao santo. Somando com os que vão em busca das 28 barraquinhas de comidas típicas e das apresentações de quadrilha, o público estimado no local sobe para 30 mil, durante os cinco dias de festa, encerrados ontem.

A igreja comporta 700 pessoas sentadas. ;Mas no dia do santo as missas ficam abarrotadas de gente;, conta o pároco Ednilson Vaz. Durante a manhã de ontem, as portas laterais, o acesso principal e o pátio frontal ficaram lotados. Quem quis acompanhar a celebração precisou driblar a imensa fila para as bênçãos individuais. Frades franciscanos se revezaram diante da paróquia, abençoando a multidão aglomerada. ;Poderíamos passar o dia inteiro dando benção, sem parar sequer para tomar café, almoçar e jantar;, ressalta o pároco. Segundo ele, o fato de a data ter caído em um domingo, dia em que fiéis tradicionalmente vão à igreja, é sinônimo de aumento na procura.

Dentro da igreja, a primeira da Arquidiocese de Brasília e antiga Cúria Metropolitana, palavras, cânticos e orações enalteciam as realizações de Santo Antônio, enquanto imagens dele eram exibidas em dois telões instalados no altar. A todo momento, freis lançavam gotas de água benta em direção aos fiéis. Após a celebração, já do lado de fora, o tradicional Pão de Santo Antônio foi distribuído. É que o santo, além de ídolo dos apaixonados, dedicou a vida aos mais humildes (leia Para saber mais). Uma vez, um pobre faminto foi pedir ajuda no convento onde ele morava. De comida, só havia pão. O santo não pensou duas vezes e deu todo o alimento ao mendigo, o que causou irritação no guardião da casa religiosa, que foi tirar satisfação com o homem caridoso. Santo Antônio respondeu que a cesta estaria repleta de pães. O chefe do convento voltou e conferiu a informação. Santo Antônio realizara um de seus milagres.


Solidariedade e tradição
O milagre dos pães fez com que as igrejas distribuíssem o alimento benzido no dia do casamenteiro. Ontem, várias frequentadoras da igreja trabalhavam duro recebendo as doações, dividindo os pães em pedaços e distribuindo o alimento, abençoado pelos padres, em sacolas. A expectativa era distribuir mais de 80 mil unidades, todas provenientes de doações da comunidade. ;Às vezes, algumas pessoas chegam a doar até 5 mil pães;, relata a servidora pública Sônia Almeida, coordenadora, há 10 anos, da recepção e da entrega do Pão de Santo Antônio.

A tradição congestiona os acessos à igreja, já que a maioria que chega ou sai das missas retira sua porção, que será guardada dentro de potes de mantimentos, como arroz e açúcar. ;A gente enrola ele no papel alumínio e deixa no pote. É para ter fartura durante o ano inteiro;, ensina a dona de casa Marinês Santos de Oliveira, 74 anos. A tradição na família dela perdura desde o tempo dos avós.

Romance
Mas entre os devotos e admiradores do santo, a maioria está em busca de graças amorosas. Diz a tradição que Santo Antônio conquistou a fama de casamenteiro depois que uma jovem solteira, cansada de tanto esperar por um marido abençoado por ele, atirou a imagem do santo pela janela. ;Adivinha a cabeça de quem o objeto acertou? Do homem com quem ela casaria;, diz o frei Ednilson Vaz. Outra versão conta que ele ajudou uma mulher a encontrar o homem amado. Santo Antônio aconselhou-a a ter fé e milagrosamente surgiram moedas de ouro, que ela apresentou ao futuro marido como dote.

A professora Uiara Costa Matos, 27 anos, está solteira há dois anos. Já pediu ao santo desde namorado a ajuda para passar em um concurso, esse último atendido no fim de 2008. ;Eu acredito na devoção. Continuo precisando de um namorado, quem sabe aparece;, aposta a moça, que vai toda terça-feira à missa de Santo Antônio no Santuário São Francisco de Assis, na 915 Norte.

No campo afetivo, há quem ainda procure o parceiro ideal e há quem queira agradecer o fato de já tê-lo encontrado. O advogado Sálvio Medeiros, 78 anos, e a dona de casa Maria Célia Costa, 72, comemoram 50 anos de união daqui a um mês. ;Viemos agradecer e pedir mais 50;, brinca ele. A relação da família com o casamenteiro é profunda. Maria Célia foi criada por uma mãe devota, que tocava órgão nas igrejas. Há sete anos, uma das filhas do casal subiu no altar um dia após a celebração do santo, em 14 de junho, apenas porque a igreja não estava mais disponível na véspera.


PARA SABER MAIS

Nascido em Portugal

Seu nome de batismo era Fernando Bulhões. Nascido em Lisboa, Portugal, em 13 de setembro de 1191, o filho de Martinho de Bulhões e Teresa Taveira dedicou a infância à igreja. Aos 15 anos, entrou no convento da Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho. Ficou ali dois anos, quando foi transferido para o Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra. Depois de testemunhar a coragem dos jovens frades, Fernando decidiu entrar para a Ordem Franciscana e adotar o nome de Antônio, em homenagem a Santo Antão. Em uma missão por Marrocos, passou por grandes provações e começaram os milagres. Tem a fama de casamenteiro por ter sido contra uma ordem baixada em Pádua de que pobre só se casaria com pobre e rico, com rico. Em 13 de junho de 1231, ele morreu. Em 30 de maio de 1232, foi canonizado. Trinta e dois anos depois da morte, exumaram-lhe o corpo em cinzas. A língua estava intacta. Para a igreja, essa foi a maior prova de que ele nasceu para ser santo.