Durante o estudo de mestrado, 11 córregos foram visitados ; uma amostra dos 26 pontos de captação no Distrito Federal. Cinco tinham Índice de Sustentabilidade de Bacias Hidrográficas (ISBH) abaixo do recomendável. Esse indicador leva em consideração vários aspectos, como a qualidade da água, a situação socioeconômica da região onde está o manancial e as políticas públicas para a manutenção da bacia. Cada um desses fatores recebe nota de 0 a 1 e, ao fim, é calculado o índice.
A poluição não inviabiliza a captação de água para consumo humano, mas torna o tratamento muito caro. Em casos extremos, o uso do recurso hídrico para abastecimento pode até ser descartado. Isso ocorreu com o Córrego Currais, em Taguatinga ; um dos analisados na pesquisa da UnB. Ele era uma fonte de captação, mas, por conta da degradação, deixou de ser utilizado recentemente.
O Córrego Currais recebeu a pior avaliação. Na última análise, feita em 2006, o índice de sustentabilidade ficou em 0,3 ; valor duas vezes menor que o apurado no levantamento anterior (realizado em 1995). Para ser classificado como um manancial em boas condições, é preciso apresentar índice de pelo menos 0,6. Os córregos Cachoeirinha, próximo ao Itapoã, Mestre d;Armas e Quinze, em Planaltina, e Barrocão, ao norte de Brazlândia, também apresentaram resultado abaixo do satisfatório (veja mapa).
Autor do estudo, o pesquisador e especialista em desenvolvimento sustentável Fábio Bakker explica que a maior causa da degradação de mananciais no DF é o crescimento urbano desordenado. ;Ao contrário do que acontece em outras cidades, onde a atividade industrial é a principal poluidora, aqui, todos os problemas estão ligados à expansão urbana sem planejamento. O lixo e os dejetos vão parar nas microbacias, o que compromete a captação de água.;
O surgimento dos condomínios irregulares está na raiz da destruição das nascentes e córregos. Além da poluição que é despejada nos mananciais, montes de terra proveniente da erosão do solo causam o assoreamento dos córregos. A redução do volume também prejudica o uso do curso d;água para abastecimento.
Um dos exemplos do impacto negativo é o Córrego Cachoeirinha, que fica ao lado do Itapoã. Antes do surgimento da cidade, a água era pura e a Caesb não precisava investir muito para usá-la para o abastecimento. Hoje, a empresa cogita até descartar esse manancial e isso pode ser feito assim que a companhia construir novos locais para captação de água. ;No Cachoeirinha, fica claro o impacto do crescimento urbano. De uma década para cá, o índice de sustentabilidade do córrego despencou. E esse período coincide com a explosão demográfica na região;, diz Fábio Bakker.
Controle
Segundo o gerente de Proteção de Mananciais da Caesb, Márcio Niemeyer, a empresa faz controle mensal de todos os pontos de captação de água do DF. Sempre que encontra irregularidades, a Caesb pede providências ao Instituto Brasília Ambiental (Ibram) ou à Agência de Fiscalização (Agefis) ; que têm poder para multar empreendimentos ou embargar obras. ;A situação em Brasília é melhor do que em outros estados porque, aqui, temos um controle rígido. Fazemos um monitoramento do uso do solo para evitar o impacto nos recursos hídricos;, afirma Márcio Niemeyer. ;Além disso, participamos de projetos de educação ambiental e de recuperação do meio ambiente.;
No DF, cerca de 70% da água para consumo humano é captada no Lago do Descoberto, em Brazlândia, enquanto 20% vêm da bacia de Santa Maria e 10% têm como origem os pequenos mananciais ; as chamadas microbacias. Apesar de a participação dos córregos ser pequena na captação total, eles são essenciais porque Brasília enfrenta problemas de abastecimento. Além disso, captar água nessas microbacias fica mais barato do que conduzi-la por longas distâncias.
Além dessas fontes atuais, a Caesb já trabalha para captar água do Lago Paranoá. As obras estão em fase de licenciamento ambiental e a expectativa é o novo empreendimento abastecer cerca de 600 mil pessoas. Assim que o sistema do lago entrar em funcionamento ; provavelmente dentro de dois anos ;, a Caesb deve desativar alguns pontos de captação onde o custo de despoluição é alto.
COOPERAÇÃO, LIXO E RECICLAGEM
O Governo do Distrito Federal (GDF), o Governo do Estado do Goiás e o governo federal assinaram ontem Protocolo de Intenções do Consórcio Público de Manejos dos Resíduos Sólidos e das Águas Pluviais da Região Integrada de Desenvolvimento (Ride) do DF e Entorno. A solenidade ocorreu no auditório da Agência Nacional de Águas (ANA). O acordo foi assinado pelo governador do DF, Rogério Rosso, pelo secretário das Cidades do Goiás, Paulo Gonçalves de Castro, e pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. A intenção é iniciar uma cooperação entre o DF e 20 municípios do Entorno, para a criação de aterros sanitários, a distribuição e o tratamento do lixo e a criação de cooperativas de reciclagem, dentre outras questões. Mas a Câmara Legislativa e as 20 Câmaras Municipais das cidades goianas devem transformar o acordo em lei. Somente após isso é que os governos poderão fazer os estudos dos projetos. Existe a possibilidade de as ações para a destinação correta do lixo receberem verbas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
"Ao contrário do que acontece em outras cidades, onde a atividade industrial é a principal poluidora, aqui, todos os problemas estão ligados à expansão urbana sem planejamento"
Fábio Bakker, autor da pesquisa
Fábio Bakker, autor da pesquisa