>>Luiz Calcagno
A Catedral Metropolitana de Brasília ficou pequena ontem. Cerca de 4 mil pessoas foram ao templo para a festa de Corpus Christi, que pela primeira vez desde 1961 não é celebrada no gramado da Esplanada dos Ministérios. Na igreja mais tradicional de Brasília, muita gente acompanhou a missa de pé. Outros preferiram fazer suas preces do lado de fora. O calor também incomodou um pouco, mas nada foi capaz de abalar a fé daqueles católicos que só deixaram o local quando o monsenhor Marcony Vinícius Ferreira deu a bênção final.
A aposentada Maria Oneide da Silva, 63 anos, acompanhou a missa da porta da Catedral. Com 1,55 metro de altura, ela não conseguiu testemunhar o momento que acha o mais especial da noite: a hora em que o monsenhor Marcony deixa o altar, atravessa o tapete confeccionado pelos jovens e dá início à procissão. ;Eu sempre tiro foto, mas este ano não deu para acompanhar de perto devido à quantidade de pessoas. Mas isso é um problema muito pequeno perto da grandeza deste momento. O mais importante é estar aqui, me curvar a Deus e agradecer por todas as coisas boas que ele me tem dado;, disse.
Lágrimas
Aliás, a procissão foi um dos pontos altos da festa. Muitos não conseguiram segurar a emoção e foram às lágrimas. Outros mostraram gratidão a Deus com o sacrifício. Foi o caso da servidora pública Joana Silvestre, 60 anos, que encerrou o percurso de joelhos. Para ela, não há nada mais sublime do que poder exercitar a fé num ambiente carregado de boas energias. ;Não estou aqui pagando promessa, apenas agradecendo pelo ar que eu respiro, pelo alimento que eu tenho à mesa todos os dias, pela água que eu bebo. Aos olhos do homem, essas são pequenas coisas, mas para quem tem fé, são muito importantes;, declarou.
A festa de Corpus Christi é uma das grandes manifestações de fé da igreja Católica no Brasil. De acordo com os fiéis, significa a invocação de Cristo no Santíssimo Sacramento da Eucaristica, conforme ensinou Jesus aos cear com os seus apóstolos. Com a oficialização, a festa passou a ser celebrada todos os anos na primeira quinta-feira após o domingo da Santíssima Trindade. A celebração costuma reunir centenas de milhares de pessoas na Esplanada dos Ministérios, mas este ano, excepcionalmente, foi realizada na Catedral e nas paróquias do DF. Segundo o monsenhor Marconi, da Arquidiocese de Brasília, não foi possível desmontar a estrutura do 16; Congresso Eucarístico, no período de 14 a 16 de maio. ;Não tivemos tempo hábil para desmontar uma estrutura tão grande e montar outra. Mas, no ano que vem a festa volta a ser na Esplanada. O mais importante é que as pessoas venham proclamar a fé pública, independentemente do lugar onde a cerimônia é realizada;, destacou o religioso.
Com esse espírito, a aeroviária Ana Paula Ramos, 35 anos, e a filha Isabela Jubé Fortes, 8, foram à Catedral. ;Não importa se é na Esplanada, se é na Catedral, ou numa paróquia numa cidade pobre. O importante é abrir o coração e deixar Deus entrar. Eu já venho há muitos anos à festa de Corpus Christi e estou criando esse hábito na minha filha também;, contou.
Os ambulantes aproveitaram a grande movimentação para lucrar. Na entrada do templo, a oferta de velas, terços, pipoca, salgados, sucos e refrigerantes era grande. Nelson Dias de Oliveira, 55 anos, em menos de duas horas embolsou mais de R$ 100 com a venda de pipocas. ;A gente vem para rezar e aproveita para tirar um trocado a mais;.
Em outras cidades
SÃO SEBASTIÃO
Os símbolos sagrados enfeitaram o chão. O tapete com mais de 66 metros de cumprimento, produzido pelos fiéis, estava na porta da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, Setor Central de São Sebastião, onde Corpus Christi foi celebrado por mais de 4 mil católicos. A descentralização da festa foi aprovada. ;Esse público talvez não tivesse condições de se deslocar até a Esplanada dos Ministérios e ficaria sem articipar da procissão;, disse Cleber dos Santos Gomes, 31 anos, organizador da festa.
CEILÂNDIA
A procissão de Corpus Christi foi acompanhada por cerca de 100 paroquianos da Igreja Nossa Senhora da Assunção, no Setor P Sul, em Ceilândia Sul. O padre Moacir Gondim orava com entusiasmo e atraiu a atenção dos moradores que deixaram suas casas para participar da celebração. ;Esta é a primeira vez que fazemos a procissão na quinta-feira. Até então, comemorávamos na paróquia apenas no sábado da ressurreição;, disse padre, que destacou a receptividade dos fiéis à novidade.
TAGUATINGA
Na Igreja Perpétuo Socorro, em Taguatinga Centro, a procissão começou às 19h30, após a missa. Um tapete de serragem com símbolos da eucaristia decorou o caminho e a entrada do templo. De acordo com o padre Jair Donizete, cerca de 500 pessoas marcaram presença na celebração. ;O evento é maravilhoso e reúne a fé católica. É o único dia em que a igreja permite sairmos para a rua com o Santíssimo Sacramento;.
VILA PLANALTO
Na Igreja Nossa Senhora do Rosário Pompéa, na Vila Planalto, a missa de Corpus Christi teve que ser celebrada na praça em frente ao templo. Cerca de 500 pessoas se reuniram na praça em frente à paróquia. A cerimônia conduzida pelo padre Rodrigo da Larosa, também teve o tradicional tapete, confecionado em homenagem a Jesus.
Para agradar a Deus
;É um serviço para Deus;. Foi assim, com uma frase simples e direta, que a arquiteta e urbanista Patrícia Machado, 26 anos, definiu o que sentia ao emprestar seus conhecimentos na confecção do tapete de Corpus Christi, na Catedral Metropolitana de Brasília. Ela e mais 150 jovens católicos de todas as cidades do Distrito Federal tiraram a manhã de ontem para transformar serragem, cola quente, palha de arroz, tinta, areia e condimento em um imponente tapete, de 32 metros. Foram sete horas de trabalho ; das 7h às 14h ; com joelho no chão, para não deixar passar nenhum detalhe. Seguindo a tradição, o monsenhor Marcony Vinicius Ferreira, da Arquidiocese de Brasília, atravessa sobre o tapete e, em seguida, segue com os fiéis para a procissão do Santíssimo Sacramento, em volta da Catedral.
A obra foi dividida em oito quadros, cada um medindo 4 metros, e possuem significados. Duas das figuras eram a de um pelicano e um cordeiro, que representam Jesus. A pomba branca, referência ao Espírito Santo, era outra imagem destacada no tapete, que também serviu para divulgar os eventos da Igreja Católica no Brasil e no mundo. Num dos quadrantes, os jovens desenharam a logomarca da Jornada Mundial da Juventude, que será realizada em 2011, em Madri, na Espanha. Ao lado, uma lembrança do último Congresso Eucarístico, realizado na Esplanada dos Ministérios, além do símbolo do Ano Sacerdotal, que termina no próximo dia 11, em Cerimônia no Vaticano.
Mudança
Esta é primeira vez que o tapete não é montado na Esplanada. A mudança nos planos foi necessária porque não houve tempo para desmontar a estrutura do 16; Congresso Eucarístico Nacional. Para um dos coordenadores do evento, Aloísio Parreiras, isso não tirou o brilho da festa. ;A Catedral é um lugar lindo e a cerimônia, igualmente bela;, disse.
A cerimônia do tapete faz referência à entrada de Jesus em Jerusalém, quando os habitantes da terra sagrada enfeitaram o caminho por onde ele passou. A festa de Corpus Christi também foi comemorada nas outras 122 paróquias espalhadas pelo Distrito Federal. Algumas decidiram se unir para fazer um evento maior. (SA)