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A babuína-sagrada mais famosa do país nunca esteve grávida, ela simulou uma gestação psicológica

Ela deu um baile em todos. Tratadores, veterinários e uma gente curiosa que foi lá para ver sua história. E só podia ser ela. A barriga cresceu, as mamas se dilataram, o andar ficou mais vagaroso. O comportamento mudou. E o povo apostou. Delirou. Está prenha. Como? Na idade de loba? Sim, ela é uma jovem senhora de 40 anos, três filhos paridos, viúva do marido e do amante. Do marido Otelo e do amante Eliseu? Sim, de ambos, em momentos distintos. Chorou pelo amante em 1998. E, pelo marido, quatro anos depois. Mas, como fênix, se reergueu. Ela consegue tudo.

Em novembro passado, tratadores a viram copulando com o garanhão do pedaço. Veterinários também. E viram a cena mais de uma vez. Pronto. Era a prova de que precisavam. Tempos depois, a barriga se estufou. E a danada começou a ficar enjoada. Nada de brincadeira com ela. Nem as duas filhas podiam fazer gracinhas. Nem o jovem por quem se engraçou. Aí, a barriga continuou empinando. Não havia mais dúvida. Ela estava prenha.

O Correio acompanhou a saga da tresloucada. E perguntou, em reportagem exclusiva publicada em 7 de janeiro deste ano, se ela, na idade da loba, estaria realmente grávida (ver fac-símile). O lugar onde a família vive lotou de visitantes. Todos queriam ver de perto. Fotografar. Bisbilhotar, mexericar. Afinal, ela é celebridade. Conhecida de ponta a ponta do país. Pois bem, depois de cinco meses de especulação, eis a verdade, admitida por veterinários e tratadores, embasbacados: ela nunca esteve grávida. Pelo menos não fisicamente.

Era gravidez psicológica. O quê? Isso mesmo. Ela nunca emprenhou, embora os sintomas clínicos estivessem evidentes. Assim, ela se sentiu, assim quis estar e assim enganou a todos. Quem é ela? Só poderia ser Capitu, a macaca mais famosa do Brasil, a babuína-sagrada que revolucionou e pirou o mundo animal. E fez toda uma gente acreditar no que ela quis. Capitu é quase gente, minha gente. Só falta falar.

Clareana Sousa Gelinski, 29 anos, curadora de mamíferos do Zoo de Brasília, explica: ;Houve cópula, portanto havia a possibilidade de prenhez do animal. Além disso, os sintomas físicos nos permitiram acreditar que ela poderia estar grávida;. E admite: ;Capitu simulou a gestação psicológica;. Em outras palavras, ela tirou onda com a cara de todo mundo. Pintou e bordou. Televisões correram atrás da história, depois de contada no Correio; jornais fizeram o mesmo. A fama da danada só aumentou. E o tal macaquinho nunca nasceu.

A direção do Zoo chegou a especular uma data para o nascimento do rebento de Capitu com o jovem saliente que foi morar na casa dela. Seria na primeira quinzena de maio. Nada. ;A barriga dilatada, provavelmente, tem a ver também com o peso característico da idade nos babuínos;, diz Clareana. Raul Gonzales, 54 anos, diretor do Zoo, deu a mão à palmatória: ;Há relatos, na literatura animal, de gravidez psicológica em primatas;.

Avó duas vezes
Ok, Capitu inventou a gravidez, mas por quê? A essa altura da vida, já tão famosa, por que precisava de mais notoriedade? Enquanto se especulava a prenhez dela, as duas filhinhas, virgens imaculadas, pariram. Uma atrás da outra. Fernanda, a caçula, de 18 anos (dobra-se a idade animal para chegar à humana), deu à luz em março.

Hamuta, 20 anos, misteriosamente, sem apresentar barriga ; como filha virgem que esconde bucho de pai brabo ; pariu em abril. O Correio contou, também com exclusividade, ambas as histórias. Capitu virou vovozinha. Em dose dupla. E passou, como sempre, a mandar na casa, nas filhas e no pai de ambos os netos, o mesmo Luís Pires, um ainda adolescente cheio de energia. É o mesmo com quem a macaca andou se chamegando. ;Ela descobriu que as filhas estavam grávidas e simulou a gravidez dela também. Ela não quis ficar atrás;, deduz a curadora de mamíferos. Vixe!

Pois bem, a história é a seguinte: esse distinto Luís Pires, um babuíno-sagrado que veio de um Zoo de Bauru, em São Paulo, tinha uma missão: teria que perpetuar a espécie. Para isso, precisava copular com as duas filhas de Capitu. A dona da casa o recebeu com ares de mãe. Quando ele chegou, há três anos, era um menininho. Precisava de cuidados maternos.

Ela assim o fez. Afinal, estava cansada de guerra. No passado, a macaca destemida enfrentou de peito aberto a fúria do marido sisudo e aprendeu a nadar ; macacos não nadam ; para viver um tórrido romance com o amante, que morava em outra ilha. Foi então, em 1998, que a doida virou celebridade no mundo. A história dela atravessou continentes.

Mas aí (toda boa história tem um ;mas aí;), Luisinho começou a crescer, ficou gente grande, ;falou; grosso, quis se exibir (sabe menino que começa a ganhar músculos em academia?) e se meteu a conquistador. Todo mundo sabe ; até Deus ; que Capitu nem pensava mais naquilo. Havia se convertido em uma dona de casa e mãe em tempo integral.

Marcelinho
Luisinho, metido a macaco grande, provocou, começou a fazer brincadeiras insinuantes. Ela? Endoideceu. Baixou a Capitu de sempre. E ensinou os caminhos da perdição para o ninfeto exibido. O macaquinho pirou. Nunca mais foi o mesmo. Capitu viu estrelas de prazer. Ele, dono de si, se engraçou pelas filhinhas da dona da casa. Às escondidas, claro, da matriarca. Conseguiu.

[FOTO4]Ele dava um jeito e atentava uma, depois a outra. Pimba geral. ;Teve um dia em que ele copulou com Capitu pela manhã, no começo da tarde com Fernanda e no fim do dia com Hamuta;, atesta o tratador Ésio Garcês, 49 anos. A casa de Capitu virou de ponta-cabeça. Ainda assim, a última palavra era a dela. Quando ele a procurava e a danada não estava a fim, botava-o pra correr léguas.

Em 7 de março, nasceu o filhote de Fernanda; em 15 de abril, o de Hamuta. Luís Pires se achou o tal. Queria porque queria brincar com os rebentos (leia-se arrastá-los pelas pernas ilha adentro). As mães, temerosas, não deixavam. E quando o caldo engrossava Capitu se metia e colocava todos para correr. Até as mães. E foi assim que ela ensinou as suas ;meninas; a amamentarem. Cobrava-lhes atenção aos netos. ;A Fernanda é mais largada, deixa o filho toda hora. Hamuta é mais dedicada, mais cuidadosa;, comenta Clareana.

Assim que nasceram, os bebês não podiam ter o sexo revelado em função do estresse que isso poderia causar às mães e aos próprios bebês. O Zoo decidiu que descobriria à medida que fossem crescendo. Nesta semana, o de Fernanda, o macaquinho mais velho, foi descoberto. ;É macho e o nome é Marcelinho;, diz a veterinária. O de Hamuta, que ainda não tem dois meses, está prestes a ser descoberto.

Banana e chamego
E assim, com gravidez psicológica, Capitu rendeu mais capítulos para a sua saga. É uma família que adora um barraco, mas depois se entende. A matriarca passa o dia todo ralhando com as filhas e com o garanhão exibido. Bota marrecos e capivaras para correr da sua ilha. Protege os bebês e os coloca para mamar nas tetas das mães.

No fim da tarde, todos se reúnem no telhado e viram um bolo só. É um tal de um catar piolho no outro que só vendo. ;Eles se amam;, derrete-se a curadora de mamíferos. Marcelinho, mirradinho e peralta, além de mamar na mãe com vontade, começou a comer banana. ;A mãe (Fernanda) dá comida na boquinha dele;, conta Clareana.

E o futuro? Aí, minha gente, a coisa pode complicar. Clareana explica: ;O ideal é que os dois netos de Capitu (machos ou um casal), depois que atingirem a maturidade ; em torno dos 2 anos ; sejam levados para zoológicos de outros lugares. Se forem dois machos, haverá o risco da disputa dos filhos, com o pai, pelo domínio do território. Isso é muito comum entre os babuínos-sagrados. Se for um casal, além da briga com o filho macho, Luís Pires ainda poderá tentar copular com a própria filha, o que não será recomendável para a espécie;.

Portanto, caros leitores, mais confusão à vista. Nessa família, tudo pode. De uma coisa, porém, se tem certeza: a ilha e a vida de Capitu nunca mais foram as mesmas depois da chegada de Luís Pires. Ela, pra variar, roubou a cena. E nem poderia ser diferente. Afinal, quem aprendeu a nadar para viver com o amante o romance mais fantástico e enlouquecido do Zoo de Brasília não poderia sair de cena, mesmo na maturidade. Se essa maluca não existisse, o mundo animal, certamente, estaria mais chocho.

Viva, sempre, Capitu!