O resultado das buscas realizadas pela Polícia Federal durante a Operação Caixa de Pandora indica que na bolsa de deputada Eurides Brito não tem miséria. Anda sempre recheada. Alguns dos itens apreendidos pelos policiais em novembro do ano passado e em poder da PF para análise foram maços totalizando R$ 9,8 mil, guardados dentro da bolsa da parlamentar afastada. Imagens obtidas pelo Correio foram registradas pelos agentes, que também descobriram na época o lugar onde a política estocava dinheiro vivo.
O cantinho de Eurides é o maleiro do closet no quarto da deputada. No lugar, a PF encontrou uma caixa metálica cheia de dinheiro, notas de R$ 50 e R$ 100 e dólares. Ao todo, os delegados recolheram do esconderijo R$ 84 mil, além de US$ 9 mil. A bolsa de Eurides ; de outro modelo daquela em que a então candidata guardou os maços entregues por Durval Barbosa em 2006 ; também virou objeto de interesse dos investigadores. Nela, estavam guardados 98 cédulas de R$ 100, segundo o item n; 12 do auto de apreensão da PF.
Os valores foram encaminhados para o Instituto Nacional de Criminalística (INC) para perícia. O objetivo da polícia e do Ministério Público é conhecer a origem do dinheiro, comparando, por exemplo, se os valores coincidem com notas marcadas pela PF no contexto da Operação Caixa de Pandora. A relatora do processo por quebra de decoro parlamentar contra Eurides, Érika Kokay (PT), pediu acesso aos laudos do INC sobre o material encontrado na casa da deputada afastada. O resultado dessas análises, porém, não foi encaminhado à petista antes de ela recomendar a cassação da distrital do PMDB. O parecer ; que já passou pela Comissão de Ética ; está na Comissão de Justiça e Cidadania da Câmara Legislativa e deve seguir para votação em plenário.
Agenda
A Polícia Federal apreendeu na casa de Eurides um total de 18 itens. Um deles é uma agenda de 2007, ano em que José Roberto Arruda assumiu o GDF, onde há anotações de valores feitas à mão. O título do registro é retiradas. A coluna da esquerda está numerada de um a 13 e mostra, supostamente, compromissos financeiros. A coluna da direita indica os valores. Café da manhã e faixas ; R$ 10 mil; Dia das Mães ; R$ 10 mil; carro ; R$ 30 mil; pagamento de gasolina ; R$ 5 mil. O nome de Eurides aparece três vezes, em duas delas (com valores de R$ 15 mil) especificado que se trata da campanha. A última menção a Eurides vem apenas acompanhada do valor ; R$ 5 mil. Confira a reprodução da agenda ao lado.
Na análise dos dados retirados da casa de Eurides, a PF conclui que, na página da agenda referente a 17 de dezembro de 2007, estão relacionadas várias retiradas, inclusive destinadas ao senhor Odécio, a quem a Polícia acredita que ;provavelmente seja Odécio Rossafa Garcia, assessor técnico da Centcooop;, a Central de Cooperativas de Materiais Recicláveis do DF. Ao lado do item 12 dessas anotações, está escrita palavra dólares na coluna da esquerda e 10 mil na coluna da direita. Os valores descritos como retiradas, somados, chegam a R$ 133 mil.
Em outro documento, separado em saldo e dívidas, mas sem indicar a que os valores estão ligados, há a inscrição feita em máquina registradora de 93.665 e 1.272 na coluna de dívidas e onde se lê saldo de ;290.000 e 100.000;. Dos 18 itens apreendidos, em apenas quatro ;após a análise, não se encontrou relevância com o foco da investigação;, segundo a PF. Os demais foram considerados suspeitos no contexto da Caixa de Pandora, que apura suposto esquema de corrupção envolvendo a cúpula do governo passado, distritais e empresários.
O Correio tentou falar com Eurides Brito ontem, por meio de sua assessoria, mas não conseguiu fazer o contato.
Acima, fac-símile do auto de apreensão no qual a PF relaciona 18 itens apreendidos na casa de Eurides
Aciam, cópia de uma das páginas da agenda da deputada
O número
R$ 9,8 mil - Quantia que estava guardada em uma das bolsas de Eurides Brito e foi apreendida pela PF
Memória
Investigação virou rolo compressor
Em 27 de novembro de 2009, a Polícia Federal, em parceria com o Ministério Público, cumpriu 19 mandados de busca e apreensão em residências e escritórios de integrantes do governo e de deputados distritais. Além dos depoimentos prestados pelo ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa, o material recolhido foi a base para a construção do Inquérito n; 650 do Superior Tribunal de Justiça. Os investigadores recolheram documentos, computadores e dinheiro em poder de todos os alvos. O material considerado suspeito foi encaminhado para perícia e poderá ser usada como prova nos processos a que os acusados de envolvimento vão responder na Justiça. Como consequência da operação, a cúpula do GDF caiu, dois distritais renunciaram e uma deputada pode ser cassada.