O delegado titular da 9; Delegacia de Polícia, Silvério Oliveira, responsável pela investigação do naufrágio de uma lancha na madrugada do último sábado que acabou com a morte de duas jovens, espera os resultados da perícia na lancha Front Roll para dar prosseguimento ao inquérito. Com essas informações em mãos, o delegado ouvirá novamente, desta vez na condição de acusado, o condutor da embarcação, o técnico em informática José da Costa Júnior, 33 anos. Na terça-feira, depois que os corpos de Juliana Queiroz de Lira, 21 anos, e Liliane Queiroz de Lira, 18, foram encontrados pelos bombeiros, ele foi indiciado por homicídio culposo (sem intenção de matar). A polícia também precisa ouvir a irmã das vítimas, Rita de Cássia Queiroz de Lira, 26 anos, que também estava na embarcação, e ainda não prestou depoimento devido ao frágil estado emocional. O depoimento está marcado para as 16 horas de hoje.
José da Costa é considerado responsável pelo acidente e, se condenado, pode pegar de um a três anos de prisão. De acordo com o delegado, nos depoimentos, ficou claro que o técnico em informática não teve a intenção de matar ninguém, mas foi imprudente ao aceitar transportar 11 pessoas em uma embarcação que comporta no máximo seis. A tese é reforçada ainda pelo fato de ele ter ingerido bebida alcoólica antes do passeio e não ter disponibilizado coletes salva-vidas para os passageiros. Para Silvério de Andrade, no entanto, a chance de que o jovem venha a ser preso é remota e o mais provável é que ele cumpra uma pena alternativa. ;Mas isso, só se for condenado pela Justiça;, ponderou.
Dos nove sobreviventes do naufrágio, Rita é a única que ainda não prestou esclarecimentos à polícia. Ela passou mal durante o enterro das irmãs, na última quarta-feira, e por isso foi liberada do depoimento, marcado inicialmente para a tarde de ontem. A expectativa é que a jovem seja ouvida hoje. No entanto, o delegado explicou que pode ouvi-la até a data limite da conclusão do inquérito, 11 de junho. ;Precisamos que ela venha tranquila, que esteja bem, para prestar um depoimento o mais próximo possível do que aconteceu;, explicou.
É possível que Rita apresente um relato divergente do já prestado pelas outras oito testemunhas. Inicialmente, a sobrevivente disse à imprensa que estava dormindo na hora do acidente, mas que, antes do naufrágio, o condutor da lancha teria executado algumas manobras. De acordo com Silvério, no entanto, os outros sobreviventes alegaram que a lancha partiu da residência em linha reta e retornou ao local da mesma forma até afundar a cerca de 1km do Hotel Alvorada Brasília. ;A informação que ela deu aos jornalistas não vale para nós. Depois que a ouvirmos, vamos comparar os depoimentos. Vamos apurar se as manobras realmente foram feitas antes do acidente. Todos confirmaram que ela estava dormindo no momento, mas isso não repercute em nada na investigação;, garantiu.
O delegado afirma que as investigações seguem dentro do prazo. No entanto, a data para a conclusão do inquérito pode ser prorrogada caso haja necessidade, por exemplo, de complementações no laudo da perícia. ;O trabalho é minucioso. Estamos usando equipamentos de alta tecnologia. Teremos uma reprodução simulada(1) de todo acidente. Isso demora, mas não quer dizer que vá extrapolar. O que mais nos interessa é o resultado do laudo. Do ponto de vista da investigação, o caso é simples.;
Defesa[SAIBAMAIS]
A reportagem tentou contato com José da Costa por telefone, mas ele não atendeu as ligações. O Correio telefonou também para o sócio de José e proprietário da residência da QL 15 do Lago Norte, de onde partiu o barco, Matheus Tafuri Frois de Carvalho, 22 anos. A pessoa que atendeu a ligação limitou-se a dizer que o rapaz está viajando. O advogado do condutor da lancha, Emerson Érico da Silva, reforçou que tudo não passou de uma fatalidade. ;Os fatos serão elucidados com o resultado da perícia. Tem barcos semelhantes que trafegam no lago com mais passageiros e nunca tiveram problema. Ainda acreditamos que houve uma falha mecânica. Além disso, o número de pessoas no barco é relativo em função da capacidade de peso;, falou.
1 - Simulação virtual
A Polícia Civil escaneou a lancha que naufragou no último sábado. A tecnologia permite a reprodução de um modelo virtual da embarcação, equivalente a uma foto em três dimensões. Por meio do processo, a polícia consegue realizar simulações de aceleração e frenagem e reconstituir o naufrágio. Dados e imagens recolhidos na perícia também serão utilizados na simulação.