Quem passou pela plataforma superior e pela entrada do metrô da Rodoviária do Plano Piloto na manhã de ontem teve a oportunidade de receber vários abraços e sorrisos, distribuídos por cerca de 300 idosos do Programa de Capoterapia de Brasília(1), em comemoração ao Dia Mundial do Abraço, celebrado em 22 de maio. É o terceiro ano que o grupo aproveita a data para tornar o dia dos passageiros mais feliz. O evento contou com o apoio dos projetos Arte nos Trilhos e Dança no Cinquentenário, que tem patrocínio da Petrobras.
A meta era que cada idoso repetisse o gesto 100 vezes, num total de 30 mil abraços. Segundo o coordenador nacional do Programa de Capoterapia, mestre Gilvan Alves de Andrade, a meta foi superada. ;Pela contagem individual, a gente conseguiu muito mais;, comemora. Só a pensionista Lucídia Marinho da Silva e Sousa, 64 anos, contabilizou 320 abraços até as 10h30. Ela conta que, depois que o marido morreu, há 10 anos, ficou oito anos sem sair de casa, só recebendo abraços dos filhos. Há três meses, ela resolveu se juntar a outros idosos para mudar de vida. ;Quando via gente, eu saía para me esconder. Hoje estou muito feliz, abracei homem, mulher, criança. É gostoso demais.;
Com cartazes motivadores com os dizeres ;abraços grátis; e ;você já abraçou seu filho hoje?;, o aposentado Antonio Passos, 73 anos, acredita que abraçou cerca de 200 vezes na manhã de ontem. ;Ninguém negou um abraço. O pessoal foi educado, nos recebeu com boa vontade, todo alegre, contente e animado. Com certeza, eles vão ter um dia melhor;, observou. A bem-humorada Maria Silvia de Sales, 65, aproveitou os abraços para tirar uma lasquinha. ;Ataquei muito coroa e jovens;, admitiu, aos risos.
Ainda com sono e a caminho do trabalho, o sommelier Leandro Alves de Oliveira, 25 anos, foi surpreendido pelo batalhão de idosos sorridentes, mas gostou de ganhar os abraços. ;Estava precisando de um ânimo para ir trabalhar no sábado;, comentou. Para a empregada doméstica Lucineide Jesus Santos, 42, a surpresa foi maravilhosa. ;Podia ter mais vezes, isso levanta o astral das pessoas;, disse ela, ao garantir que quando chegasse em casa abraçaria os sobrinhos, o namorado e os cunhados. A professora Ana Maria Neri Lopes, 38, também aprovou a atitude dos idosos. ;É sempre bom abraçar, mas no corre-corre do dia a dia a gente acaba sem tempo de dar um abraço nas pessoas que ama.; Para o autônomo José Reinaldo Alvez, 27, foi um prazer ser abraçado. ;Me senti privilegiado.;
1 - Capoeira e terapia
Criada pelo mestre Gilvan em Brasília no ano de 1998, a capoterapia é uma forma de terapia para idosos por meio da capoeira. Com movimentos leves e lúdicos, a prática visa tornar a atividade física mais prazerosa com todos cantando cantigas de roda ao som do berimbau. A ideia tornou-se programa nacional e atende mais de 20 mil idosos em 160 municípios. Na última semana de junho, haverá um curso de formação em capoterapia com 500 vagas para multiplicadores. Informações pelo telefone (61) 3475-2511 ou pelo site www.capoterapia.com.br.