Existem no Distrito Federal 1.279.817 pessoas habilitadas para dirigir. A grande maioria, mais exatamente 958.433 motoristas ; ou 74,1% do total ;, não cometeu uma infração sequer no último ano. Isso quer dizer que de cada quatro condutores circulando pelas ruas três tiveram uma conduta irrepreensível ao volante ; ou, se cometeram algum deslize, não foram flagrados pela fiscalização. Além dos 2,6% que somam mais de 20 pontos em seu prontuário, 22,5% dos condutores acumulam até 20 pontos.
A estudante Juliana Monteiro, 23 anos, tirou carteira há cinco anos e orgulha-se de nunca ter sido multada. ;Eu procuro prestar atenção à velocidade das vias e aos radares. Isso acaba me fazendo ter mais atenção na hora de dirigir;, ensina. Moradora da 402 Sul, ela reclama dos frequentadores das comerciais que param nas quadras residenciais, deixando os moradores sem opção de estacionar. ;Com a quadra lotada, fica difícil achar uma vaga. Boa parte dos meus vizinhos se prejudicou com isso. Minha mãe acabou multada por ter parado em local proibido.;
Os dados sobre a situação dos condutores são considerados animadores pelo diretor-geral do Departamento de Trânsito (Detran), Geraldo Nugoli. ;Um quarto dos nossos motoristas são infratores. Isso demonstra que as campanhas educativas, a fiscalização e o trabalho da mídia estão dando resultado;, avalia. A análise do perfil do condutor revela que, de modo geral, quanto mais velho o motorista, mais infrações ele comete. Para cada grupo de mil habilitados, há 36,5 motoristas com idade entre 50 e 59 anos que têm mais de 20 pontos na carteira. O menor índice é registrado no grupo dos recém-habilitados. Na faixa etária dos 18 aos 24 anos, o índice é de 9,5. ;Não sei explicar por que isso ocorre. Teríamos que fazer uma pesquisa;, diz Nugoli.
Análise
Os resultados surpreenderam Hartmut Günther, professor da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em psicologia do trânsito. Ele diz que, intuitivamente, apostaria no contrário: quanto mais jovem, mais multas. Segundo ele, isso ocorreria porque, nessa fase da vida, eles tendem a tomar decisões de autoafirmação. Para Günther, podem haver várias explicações. ;O jovem que depende do carro dos pais toma mais cuidado para não perder o benefício. Pode ser também por medo de perder a habilitação no primeiro ano. Ou ainda o fato de estarem com as lições do trânsito frescas na cabeça;, ressalva.
No que diz respeito aos motoristas mais velhos, Günther cita a autoconfiança e questões relacionadas à vaidade. ;A pessoa pensa: eu já dirijo há muito tempo, sou um ótimo motorista. Quando pensa assim, se arrisca mais. Outro fator pode ser a vaidade. Muitos se recusam a usar óculos. Se a visão está comprometida, aumenta o risco de ele não perceber as situações do trânsito;, diz.
O supervisor técnico Fernando Camargo, 36 anos, tem habilitação há 15 anos e diz nunca ter acumulado 20 pontos. Houve um tempo em que teve quatro carros, e nem assim ficou na berlinda. ;Nunca cheguei perto de exceder o limite de pontos. É lógico que, com tanto tempo de habilitação, já levei algumas multas por excesso de velocidade e estacionamento em local proibido. Mas, de um modo geral, procuro respeitar as leis de trânsito.;
Um quarto dos nossos motoristas são infratores. Isso demonstra que as campanhas educativas, a fiscalização e o trabalho da mídia estão dando resultado;
Geraldo Nugoli, diretor-geral do Detran-DF