Inicialmente, o bando seria indiciado por lesão corporal. O crime é grave quando incapacita a pessoa por mais de 30 dias. A expectativa na 1; DP era de que, no caso de Anísio, a lesão fosse leve. A pena então iria variar de três meses a um ano de reclusão. Mas para o delegado, agora está claro que os autores ;assumiram o risco de causar o evento morte;. ;Os autores agrediram a vítima, perseguiram, derrubaram o militar no meio do Eixinho L Sul, continuaram com as agressões no gramado em frente ao Bloco K e seguiram com a violência no prédio. Um deles, que era lutador de jiu-jitsu, sufocou a vítima. Eles só pararam quando a mulher do agredido chegou;, explicou Warmling.
As buscas por outros três autores das agressões continuam. Respondem em liberdade pelos crimes, por enquanto, Daniel Benquerer Costa, 23 anos, gerente do estabelecimento e filho da proprietária do posto, e Edécio Borges, 22. O delegado Warmling pediu ainda que a população auxilie a polícia por meio de denúncia anônima. O telefone é 197.
Alvarás cassados
O espancamento de Anísio motivou a cassação de cerca de 11 mil alvarás de funcionamento temporários. A maioria das lojas de conveniência de postos do DF ; como a do estabelecimento da 214 Sul ; está incluída nessa lista. A Administração de Brasília informou, por meio da assessoria de imprensa, que o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) determinou que o governo revogasse os documentos precários.
A administração vai elaborar uma lista a ser entregue à Agência de Fiscalização do DF (Agefis) para garantir que comércios irregulares sejam fechados. A Agefis se manifestou por meio de nota. Segundo o assessor Cláudio Caixeta, assim que o lojista for notificado, terá 30 dias para regularizar sua situação. Quem desobedecer terá o comércio interditado e levará multa entre R$ 500 e R$ 5 mil.
A população também resolveu agir. Há um forte movimento propondo o boicote ao posto de gasolina da 214 Sul. A ação se popularizou pela internet. Foi criado um blog (http://posto214sul.blogspot. com) que sugere aos motoristas não abastecerem no estabelecimento, além de comunidades no site de relacionamentos Orkut e correntes de e-mail. Na manhã de ontem, um grupo de 20 moradores do Bloco K protestou em frente ao posto.
A mulher do militar agredido, Rosimeri Alves Lemos, 45, e o filho dele, Matheus Alves Lemos, 22, estiveram na manifestação. De acordo com Matheus, os pais estão recebendo apoio psicológico. A família aguarda o resultado de exames feitos no Hospital das Forças Armadas (HFA). ;A vista do meu pai está comprometida e ele sente dores no ombro e no pescoço. Toda a família está emocionalmente abalada;, comentou.
Palavra de especialista
Barulho e estresse
;A questão da poluição sonora pode ser vista sob diversos ângulos. O problema da poluição em si, do ponto de vista da psicologia ambiental, é que o barulho é um dos maiores causadores de estresse humano. Não falo apenas do vizinho ou do problema com o posto de gasolina. Expor-se ao barulho constante de carros e ônibus é irritante. O bem-estar individual, a capacidade de produzir e de se concentrar fica prejudicada e até o relacionamento com o próximo é comprometido. Isso gera uma série de transtornos. No caso do militar, temos um fenômeno que não se restringe a barulhos, também temos um acúmulo de irritações. Existe um estudo de percepção de barulho em Brasília, que fala sobre o desamparo. É uma situação em que a pessoa sente que não adianta agir. Acontece que quando o problema é controlável, a pessoa reage de maneira diferente de quando tem a sensação de desamparo apreendido. O posto de gasolina, por exemplo, tinha como controlar o problema. Havia pessoas responsáveis pela poluição. Existem várias situações, algumas sem fim trágico, em que o vizinho reclama na casa ao lado. Ao que parece, o militar chegou a um ponto de estresse tamanho que ele resolveu ir lá pedir silêncio. Infelizmente, deu no que deu.;
Hartmut Günther, professor de psicologia social e ambiental da Universidade de Brasília (UnB)
Hartmut Günther, professor de psicologia social e ambiental da Universidade de Brasília (UnB)
Depoimento
Desabafo contra a impunidade
;A gente está passando da raiva à indignação. O que aconteceu não pode passar impune. Pedimos ajuda à polícia. Eu mesmo fui à 1; Delegacia (Asa Sul), registrar ocorrência. Eu temia pela vida do meu filho, que já teve a mesma atitude do pai, de ir lá, pedir para baixarem o volume do som. Eles me ignoraram. A indignação que sinto é contra as pessoas, contra o Estado e contra a polícia. Nós somos inteligentes o suficiente para evitar o que aconteceu. Se meu marido está bem? Imagine um homem de 45 anos, pai de família, agredido por delinquentes. A moral vai lá embaixo. Eu não estou trabalhando, não estou dormindo à noite. Estou muito nervosa. A mãe não tem que dar um posto de gasolina para um filho, tem que dar um livro. Quero acreditar que a moral e a dignidade do meu marido serão resgatadas. Ele está com um dos olhos comprometidos. Quero acreditar na polícia. Quero acreditar que, agora, vai acontecer alguma coisa.;
Rosimeri Alves Lemos, mulher do militar agredido
Rosimeri Alves Lemos, mulher do militar agredido
Opinião do internauta
Leitores do Correio publicaram no site do jornal diversos comentários sobre o caso do militar que foi espancado por pedir silêncio no posto da 214 Sul. Confira:
José Moura
;Por que postos vendem bebida alcoólica? O boicote a um posto não resolve. Temos que boicotar todos os que funcionam como boates. Aliás, há automóveis que parecem trios elétricos, tamanha a balbúrdia. É carência. Só dessa forma os motoristas esperam chamar a atenção. São vítimas, coitados.;
Diego Aguiar
;Nunca mais apareço neste posto, pelo resto da minha vida. Por mim, pode fechar.;
José Ramos
;É importante mostrarmos apoio para a família humilhada, pois esses festeiros não conhecem mais os limites. Imaginam que podem tudo. Precisam pagar pela imprudência.;
Fabrício Marques
;Fico aqui preocupado apenas com os empregos dos frentistas que trabalham no estabelecimento que nada têm a ver com a agressão. Por ora, não se comprovou isso. Algum dono de posto os contrataria? Espero que sim.;
Joracyario Rodrigues
;Isso só aconteceu ; e acontece ; porque nossa PM e os órgãos de fiscalização só fazem algo quando fatos como esse ocorrem. A PM diz que nada faz porque é com a Agefis. Esta, por sua vez, diz que não funciona à noite. E nós é que entramos pelo cano.;
Rafael Araújo
;Sou a favor do boicote e acho importante a manifestação. Pena que não dura. Logo, logo, o povo esquece e todos voltam a frequentar o posto como se nada tivesse acontecido. A polícia deveria fiscalizar com rigor os carros com som alto e motos sem silenciador que atormentam a todos madrugada adentro.;
Antonia Leandro
;Tem que haver punição, ou seja, cadeia para esses covardes que atacam uma única pessoa e já de idade. É a impunidade que os faz agir assim e serve de incentivo a outros bandidos;
Daniel Nascimento
;Eu morava na 312 Sul e, em frente à igreja, tem um carro de cachorro-quente. Registrei umas quatro ocorrências e nunca vi um carro da PM passando perto.;
Eu acho...
"Foi covardia o espancamento. Tudo o que o senhor fez foi exigir os direitos dele. Pessoas ignorantes não aceitaram e partiram para a agressão. Não tem nem o que discutir. Eles deveriam ser presos."
Júnior Botelho, 26 anos, vendedor
Júnior Botelho, 26 anos, vendedor
"O posto de combustível da 214 Sul tinha que ser fechado, e os agressores, punidos de forma exemplar. É isso o que a população espera. Eu considero um absurdo essa história."
Alcides Costa Ferreira, 47 anos, taxista
Alcides Costa Ferreira, 47 anos, taxista
Problema em toda a capital
O desrespeito ao sossego da população é recorrente no DF. Em todas as regiões administrativas, há casos de postos e bares que abusam do horário. A deputada Érika Kokay (PT-DF), presidenta da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) da Câmara Legislativa do DF (CLDF), pretende, no próximo dia 27, propor audiência pública para discutir a questão. Segundo ela, já existe uma regulamentação, mas é preciso pôr a lei em prática.
A deputada pretende convocar para ir à Câmara o presidente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Gustavo Souto Maior; e o diretor da Agência de Fiscalização do DF (Agefis), Georgiano Trigueiro. ;Temos um nível de poluição sonora muito grande. E, hoje, é como se os moradores estivessem incomodando. Também podemos levar o assunto à Comissão de Meio Ambiente;, disse a parlamentar.
Marta Lima, do Conselho Comunitário de Segurança (CCS) de Taguatinga, afirmou que o conselho já tentou organizar operações de combate aos excessos cometidos por postos e bares, mas foi barrado pelo próprio GDF. Já a presidenta do CCS de Samambaia, Maria da Guia, comentou que a cidade não sofre com venda irregular de bebidas, mas, em alguns locais, carros de som em postos atrapalham o sono da população.
Para o presidente do CCS de Brasília, Saulo Santiago, a solução é limitar o horário de funcionamento das lojas de conveniência e proibir a venda de bebidas alcoólicas: ;Quem vai para o posto são usuários que já se acostumaram com a bagunça. Uma lei seca para os postos acaba com isso;. (LC)