Jornal Correio Braziliense

Cidades

Apenas 1.150 dos 8 mil guardadores de carros que atuam no DF estão cadastrados no governo

Secretaria de Ordem Pública quer que eles sejam parceiros da polícia no combate à venda de drogas

A falta de vagas para estacionar está longe de ser o único problema de motoristas que circulam pelo centro de Brasília. É preciso tomar cuidado com quem, teoricamente, deveria vigiar os veículos. Afinal, apenas uma minoria dos flanelinhas passou pelo treinamento oferecido pela Secretaria de Desenvolvimento Social e Trasnferência de Renda (Sedest) e está cadastrada no órgão. Segundo o sindicato dos Guardadores e Lavadores Autônomos de Veículos Automotivos (Sindiglav), das cerca de 8 mil pessoas que atuam no ramo, apenas 1.150 trabalham com o aval do governo. Nesse mercado tomado pelo improviso, é difícil manter o controle do serviço e garantir a boa índole do trabalhador. Ontem, menos de um dia após bater um veículo que vigiava, o guardador Domingo Francisco dos Reis continuava a ;olhar; carros no Setor Comercial Sul.

Na última segunda-feira, ele ficou com as chaves do veículo da fonoaudióloga Fernanda Elói Pereira, 27 anos, já que não havia vaga onde a jovem pudesse estacionar o veículo. Quando tirou o carro do lugar, Domingo dos Reis teria executado manobras arriscadas, acertando outros dois carros parados em fila dupla. Fernanda terá de pagar pelos estragos nos três automóveis e ainda foi notificada pela polícia por entregar o carro a um condutor que não possuía licença para dirigir.

O flanelinha admite o erro, mas afirma que, de tanto empurrar os dois carros estacionados em fila dupla, eles teriam ficado mais próximos um do outro. Reis então passou com um terceiro veículo entre os dois carros e não havia espaço suficiente. Ele disse que nunca mais iria guiar carros de clientes, mas a reportagem o flagrou ao volante de um Audi vermelho. ;Com ou sem cadastro, fico aqui. Nunca roubei e nunca matei;, comenta o flanelinha não cadastrado, que chegou a ser levado para a delegacia e assinou um termo de responsabilidade garantindo que não exerceria ilegalmente a atividade.

Fiscalização
Segundo o guardador legalizado Roberto Jorge dos Santos, 42 anos, em todos os estacionamentos do DF há guardadores que não respeitam o código de conduta, usando o carro de forma irresponsável. ;Eles cometem os erros e, como não existem para o governo, os cadastrados é que acabam levando a culpa;, acusa. ;Já vi briga entre flanelinha, roubo dentro de veículos e flanelinhas que usam o carro do cliente para comprar droga;, conta Marcelo Ferreira, 36 anos, também guardador regular. Segundo ele, os que se mantêm invisíveis ao sistema podem cometer pequenos delitos sem punição. Para conter a criminalidade e as infrações, os próprios flanelinhas defendem uma fiscalização mais severa por parte da Secretaria de Ordem Pública e Social e de Controle Interno do DF (Seops).

Desde o começo de abril, a Seops realizou cinco edições da Operação Choque de Ordem, para retirar ambulantes e flanelinhas de pontos da cidade. Mas oficializar o trabalho não é a única proposta. ;Pretendemos treiná-los para vigiarem a área e serem parceiros da polícia no combate às drogas nos estacionamentos;, adianta o secretário da Seops, coronel Djalma Lins.

Ele aconselha os motoristas a não deixarem o veículo e as chaves nas mãos de estranhos. ;As pessoas que fazem isso estão comprometendo a segurança do seu patrimônio;, alerta. Alheio à orientação, o conciliador João Bosco Portela, 67 anos, sempre conta com a ajuda do guardador Marcelo Ferreira quando não encontra lugar para estacionar. ;Deixo a chave com ele sem nenhum problema. Ele é honesto e me faz um grande favor.;

Eu acho...
"Não deixo a chave do meu carro com guardadores porque não confio. Nas ruas, não há uma relação oficial, como no estacionamento de um shopping, onde tudo é gravado. Se acontecer algo errado, vou reclamar com quem?"

Bruno Porfírio, 32 anos, professor de educação física, morador de Águas Claras

Para saber mais
Atividade regulamentada

A profissão de lavador e guardador de carro, o popular flanelinha, foi regulamentada em julho do ano passado, por meio de um decreto publicado no Diário Oficial do DF. Desde então, quem quiser vigiar e lavar carros deve se cadastrar na Superintendência Regional do Trabalho e Emprego, antiga Delegacia Regional do Trabalho e não pode ter antecedentes criminais. Os documentos exigidos são Carteira de Trabalho, Carteira de Identidade, Cadastro de Pessoa Física (CPF), Título de Eleitor, comprovante de residência, além de certidões negativas criminais e cíveis. O próximo passo é participar de um curso, com duração de um dia, com noções de cidadania, ecologia, relações humanas no trabalho, obrigações profissionais, direitos dos proprietários dos veículos, além de responsabilidade civil e social. Depois da aula, todos passam por prova com caráter eliminatório. Quem for aprovado, assina um Termo de Compromisso e recebe um crachá, com foto recente, e um colete verde, com número de identificação. Quem se sentir lesado, for coagido ou flagrar o guardador de carro em situação ilegal, deve ligar para o número 156 e denunciar.