Jornal Correio Braziliense

Cidades

Vizinhos de um lote na 712/912 Norte reclamam que a área está abandonada

Muita gente que circula pelas proximidades das quadras 712/912 Norte se encanta com a beleza e a imponência da única mesquita, templo da religião islâmica, construída em Brasília. Porém quem olhar para o outro lado da rua verá um cenário que incomoda os moradores dos prédios vizinhos e os frequentadores de escolas nas redondezas. O terreno localizado em frente ao templo está abandonado, o mato se espalha, há entulho e lixo orgânico no chão e, como as cercas foram danificadas, moradores de rua aproveitam o local como abrigo. Nesse espaço, além de uma mesquita antiga, foram construídas quatro casas. O terreno pertence ao Centro Islâmico de Brasília, também proprietário do terreno onde a foi erguida a mesquita que está em funcionamento.

A assistente social Sônia Zanelato, 49 anos, é uma das moradoras dos prédios próximos a se queixar das condições da área. Segundo ela, o local sempre passou por podas periódicas e seguranças se revezavam na vigilância. Há cerca de dois anos, os vigias não são mais vistos e os cuidados com o mato acabaram.

;Se o local não vai ser usado pelo Centro Islâmico, por que não alugar para uma escola ou creche?;, questiona. Ela afirma que, ao perceberem o problema, os síndicos dos cinco edifícios construídos em área próxima à mesquita, cada um com 660 unidades de quitinetes, se organizaram. Chegaram a procurar a administração da mesquita, mas o xeque, líder religioso do templo, não recebe mulheres. ;Nesse caso, nem aos homens ele dá satisfação. Estão brincando com a saúde e a segurança de mais de 2 mil moradores da região, pois o terreno abandonado vira um ponto de infestação de mosquitos, ratos e baratas;, reclama.

Porteiro de um dos condomínios, Delson Ferreira, 35 anos, diz que o incômodo com a situação é unanimidade entre quem vive no local. Segundo ele, galhos pesados caem das árvores, há tempos sem cortes, formando esconderijos para moradores de rua, bandidos e usuários de drogas. ;Sempre que estou vindo para o trabalho, vejo um casal dormindo na beira do terreno;, relata. Outro problema é a segurança nas proximidades da área. Ferreira relata que uma mulher já foi assaltada por um adolescente, em plena luz do dia, na calçada que margeia as grades do terreno.

Embaixada
Um funcionário do Centro Islâmico de Brasília, que não quis se identificar, afirmou que as queixas da comunidade são conhecidas pela administração do local. Ele acrescentou que já foram feitas inúmeras tentativas de retirar os invasores do local, mas eles sempre voltam. Além disso, disse que alunos de escolas próximas se escondem nos cômodos das construções abandonadas e que há sinais de vandalismo por toda parte. A responsabilidade pela manutenção do local, garantiu o empregado, é da Embaixada Real da Arábia Saudita. Um funcionário da embaixada que atendeu a reportagem do Correio ontem à tarde afirmou que o expediente no órgão se encerra às 15h e não seria possível acionar um representante.

A Diretoria de Vigilância Ambiental afirma jamais ter recebido qualquer reclamação sobre o terreno. ;A população precisa nos ajudar, repassando informações sobre os problemas que enfrentam;, pede o diretor do órgão, Laurício Monteiro Cruz. Para a população fazer denúncias sobre vetores de doenças, além de infestação de roedores, cães e pombos, a diretoria coloca à disposição o telefone 3341-1686. Monteiro Cruz garantiu que enviaria agentes de vigilância ambiental à área, para fazer um relatório e avaliar as providências necessárias. ;Hoje, temos um alvará(1) que permite que os agentes entrem em terrenos privados, mesmo sem a autorização do dono;, explica.

1 - Justiça
Em 9 de abril, a 7; Vara de Fazenda Pública do Distrito Federal expediu um alvará, válido para todo o ano, autorizando agentes de vigilância ambiental e funcionários que fazem controle de doenças nas residências a entrarem em terrenos fechados, abandonados ou naqueles cujo acesso foi negado pelos moradores. A permissão vale para a área externa, e não para o interior do imóvel. Se ainda assim houver recusa, o agente poderá chamar a polícia.


"A população precisa nos ajudar, repassando informações sobre os problemas que enfrentam"
Laurício Monteiro Cruz, diretor de Vigilância Ambiental