Brasileiro que se preza não dispensa um cafezinho, seja pela manhã, depois do almoço, ou durante a tarde, para aliviar a tensão do dia de trabalho. Mas o produto, originalmente popular, hoje atinge gradações de preço que têm relação, sim, com o maior ou menor luxo do estabelecimento onde é vendido, mas, segundo especialistas, devem-se principalmente à qualidade do café ofertado. Em Brasília, o café preto coado sai a preços que vão de R$ 0,50 a R$ 1 nos estabelecimentos mais simples da cidade. Em lojas especializadas ou de shopping centers, a xícara pequena do expresso, variedade mais concentrada do pretinho e por isso um pouco mais cara, custa entre R$ 2,50 e R$ 3,50. E, nos restaurantes de conceituada rede da cidade, atinge o valor de R$ 6.
Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) na área de cafés Antônio Guerra explica porque o café preto comum, seja expresso ou coado pode ter níveis de qualidade tão diferentes. O segredo está no processo de colheita e na seleção das unidades que serão torrefadas. As marcas, empresas distribuidoras e baristas que privilegiam uma produção mais cuidadosa podem cobrar mais pelo seu produto."O café que chega no preço mais alto é uma bebida melhor, mais suave. E isso vai ser definido principalmente pelo tamanho e pelo tipo do grão", esclarece.
O tamanho do grão de café tem como unidade de medida as dimensões das peneiras usadas para selecioná-los, que vão dos tamanhos 15 a 18. Guerra explica que, em geral, os grãos maiores atingem um preço melhor de mercado. No entanto, mais importante do que obter grãos grandes, é conseguir unidades de tamanho mais ou menos uniforme. "Se na hora de torrar o café houver um grão maior do que o outro, isso vai prejudicar o sabor", afirma.
O pesquisador da Embrapa destaca que o quesito pureza também é importante. "Não pode ter casca ou outros ingredientes no momento da torrefação", diz. O perfeccionismo não termina por aí. Para fabricar um café saboroso, é necessário escolher grãos do tipo cereja, aqueles que estão no ponto exato de maturação. "O grão seco já passou do ponto, e o grão verde ainda não amadureceu. Nenhum dos dois dá o sabor ideal", ensina.
O produtor rural Márcio Jório, que planta, processa e ensaca café em uma chácara no Lago Oeste, reforça as palavras do especialista. Ele tem um sistema de produção semiartesanal, com seleção manual dos grãos, e vende seu produto, o Café Serrazul, para restaurantes famosos de Brasília, como Patu Anu e La Gioconda. Ele é um dos poucos produtores locais do grão no DF, que não tem uma safra representativa com relação à nacional. Márcio Jório trabalha com o grão arábico, de sabor mais suave e que atinge maior preço do que o grão robusto.
"O café comum, que é vendido nos mercados, tem muito colilon, uma substância do grão robusto. Nas lojas especializadas em café, às vezes um pouquinho de colilon é misturado ao grão arábico. Mas esse segundo é mais aromático e suave, e sempre é dada preferência a ele", diz.
Para todos os gostos
O militar Paulo Eduardo Ubaldino de Souza, 43 anos, é um degustador fiel de cafés e, mesmo sem conhecer detalhes técnicos sobre grãos, dá preferência a sabores mais suaves, considerados os melhores. Ele bebe doses do produto na rua pelo menos quatro vezes por dia, pagando em média R$ 3 por um expresso e sempre escolhendo estabelecimentos que tenham café de qualidade. "Gosto daquele o menos torrado possível. E não sou muito chegado a café forte. Não começo o meu dia enquanto não tomar um bom café."
Copeira em uma empresa de telecomunicações, Maria Aparecida dos Santos, 47 anos, é apaixonada por café, mas só tem acesso à variedade mais popular do produto. "Gosto muito de café. Tomo no meu trabalho e os engenheiros já até me chamam de 'cafezeira'", comenta ela. Maria também consome doses na rua ao longo do dia, a R$ 0,50.
No estabelecimento administrado pela barista Luciana Sturba, só são servidas misturas que levam grãos arábicos. Luciana, proprietária da Grenat Cafés Especiais trazgrãos da Bahia, do Espírito Santo e de Minas Gerais e trabalha com marcas famosas nacionalmente, como Pessegueiros, Orfeu e Ateliê do Café. Também desenvolveu uma marca própria, a Blend Grenat. Seu expresso, não importa a marca, custa R$ 3,50.
Em cinco dos sete restaurantes da rede Dudu Camargo no Distrito Federal, a opção é por servir aos clientes o café Nespresso, da Nestlé. A xícara sai a R$ 6. O preço é salgado, mas a assessoria de comunicação do grupo justifica. Além de feito com grãos de qualidade, o líquido é armazenado em cápsulas de alumínio, que manteriam , por meio de um processo de selagem, 900 aromas e sabores do café que, do contrário, seriam perdidos após a moagem.