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Móveis presidenciais ganham vida nova

Projeto de oficina ligado ao programa Jovem Aprendiz seleciona jovens que, por meio de intenso treinamento, começam a revitalizar o mobiliário do Palácio do Planalto

Todo o mobiliário do Palácio do Planalto, em reforma desde março de 2009, contará com peças modernistas assinadas por artistas brasileiros, entre eles Oscar Niemeyer. Mais do que recuperar cadeiras, mesas e quadros das décadas de 1950, 1960 e 1970, o projeto do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan) do Distrito Federal, em parceria com a curadoria da Presidência da República, tem modificado vidas. O material está sendo restaurado com ajuda de jovens entre 15 e 18 anos, moradores das cidades Estrutural, Paranoá e Itapoã.

Para desempenhar o trabalho, eles participam da Oficina de Restauro de Mobiliário Moderno(1), que está em sua segunda edição. A iniciativa teve início em março de 2009, com 13 jovens. Hoje, já são mais de 40. Os alunos permeiam aulas teóricas com as práticas que são dadas pelo professor do Iphan Marcos Aurélio Tavares, em uma oficina montada no Palácio do Planalto. ;Boa parte desses jovens será absorvida pelo mercado de trabalho, principalmente em antiquários;, prevê Tavares.

As disciplinas de história da arte, história da arquitetura e história do mobiliário são ministradas por professores da UniEuro no Centro Cultural Renato Russo, na 508 Sul. A oficina tem duração de seis meses. Ao final, o participante recebe o diploma de auxiliar de mobiliário moderno. Os alunos da primeira edição passaram a receber uma bolsa, dentro do programa Jovem Aprendiz, no valor de R$ 598. Nos próximos meses, o benefício será estendido aos demais, segundo o presidente da Saber ; empresa executora do projeto ;, Sindiclei Patrício.

;Com o dinheiro, ajudei minha família e quero comprar óculos, porque estou com problemas na visão;, contou o veterano Gustavo Cordeiro dos Santos, 16 anos, que está no programa desde o início. O adolescente sente orgulho do que faz. ;Lá no Itapoã, as pessoas me param na rua e perguntam: ;Você participa daquela oficina do Palácio, né?;; Além da profissionalização, o auxiliar de mobiliário moderno sabe o que de mais importante levará das aulas: ;Valorizar uma rotina de trabalho e ter ideia de coisas que a gente tem que aprender nessa vida: disciplina e responsabilidade;, analisa, com sabedoria.

A iniciante Geissiany Barros Oliveira, 16 anos, hesitou em participar da segunda edição da oficina, que começou em março deste ano e oficializada ontem. Ela integrava o Programa de Proteção a Jovens em Território de Vulnerabilidade (Protejo), do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). ;Estou gostando muito. É muito legal você pegar um objeto velho e transformar em novo. Não vejo a hora em trabalhar na restauração da mesa que foi do presidente Juscelino Kubitschek;, diz, empolgada.

Resgate
Aproximadamente 600 móveis serão restaurados no Palácio do Planalto. Metade foi doada pelo Senado Federal. ;As peças iriam a leilão, mas um dia antes fomos ao Congresso e conversamos com o senador Sarney, que doou os móveis para gente;, informa Rogério Carvalho, idealizador do projeto e participante da curadoria dos palácios do Planalto e da Alvorada. ;Além dessa doação, passamos meses visitando os órgãos públicos em busca de móveis antigos em desuso.;

Antes do projeto, os móveis eram largados em garagens dos prédios públicos, iam parar leilões ou viraram doações. ;É uma barbaridade a quantidade de móveis que foram perdidos. As pessoas não tinham a noção do valor financeiro e material desses móveis para o Brasil;, lamenta o presidente do Iphan, Alfredo Gastal.

Rogério Carvalho estima uma economia de R$ 3 milhões aos cofres públicos com a restauração dos móveis antigos. ;A administração pública tem que parar de gastar dinheiro comprando coisas novas e aprender a recuperar;, complementa o diretor de Documentação Histórica da Presidência da República, Cláudio Soares Rocha. ;Uma poltrona quebrada de Sérgio Rodrigues é vendida por R$ 200, R$ 300 em um leilão. Revitalizada, sai por R$ 20 mil;, compara Gastal.

Nem todos os móveis estarão prontos na inauguração do Palácio do Planalto, prevista para o fim deste mês. Mas a intenção é que todos os funcionários do primeiro escalão do Executivo (presidente e vice, ministros, secretários executivos) encontrem peças das décadas de 1950, 1960, 1970 de designers brasileiros famosos como Sérgio Rodrigues, Joaquim Tenreiro e Oscar Niemeyer em seus gabinetes. O restante será trocado conforme as peças forem sendo recuperadas. ;A meta é ambientalizar com móveis modernistas, do térreo para cima do Palácio do Planalto. Para o subsolo, ainda não conseguimos;, completa Rocha.

Durante a abertura oficial da oficina, Alfredo Gastal se emocionou ao exaltar a habilitação profissional dos jovens por meio do projeto: ;O que importa é que vocês estão tendo uma profissão. Enquanto isso, crianças de oito e dez anos estão vivendo de crack na Rodoviária e ninguém faz nada;, lamentou.

1 - Projeto adaptado
O projeto de restauração de móveis modernos foi proposto pelo arquiteto Rogério Carvalho, em 2001, que na época trabalhava na superintendência do Iphan. Rogério adaptou a ideia do trabalho de recuperação de móveis coloniais desenvolvido pelo designer Arnaldo Danemberg com jovens carentes de Jacarepaguá, Rio de Janeiro. Em 2009, o projeto foi introduzido pelo Iphan no Distrito Federal. Depois o Iphan sugeriu à Presidência da República que os móveis recuperados mobiliassem o Palácio do Planalto.

"A administração pública tem que parar de gastar dinheiro comprando coisas novas e aprender a recuperar"
Cláudio Soares Rocha, diretor de Documentação Histórica da Presidência da República