Os meses que antecedem o dia do casamento são, geralmente, marcados por muita correria e ansiedade por parte dos noivos. Seria estranho se não fosse assim ; para muitos, afinal, esse é um dos dias mais importantes da vida. Mas o que acontece quando não se consegue garantir que o dia desejado esteja disponível? Quem quer casar e tem a intenção de dizer o ;sim; na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Lago Sul, deve se programar. A cada ano, a competição por datas da paróquia se torna mais voraz. Além de se organizar, talvez o interessado tenha até de fazer as malas para pernoitar na igreja e garantir um lugar na fila, à espera do dia de abertura da fabulosa agenda de cerimônias. Horários vagos, só para o ano seguinte.
O calendário para 2011 foi aberto ontem. A aglomeração na porta da igreja não se deu cedo, mas às 15h de terça-feira, quando a empresária Natália Andrade, 28 anos, montou campana no local. A antecipação a colocou no primeiro lugar do pódio das noivas. Seu futuro marido, o funcionário público Renato Porto, 29, só chegou para fazer companhia após o expediente. Veio de bom grado participar da vigília? ;Claro que sim! Você acha que eu teria coragem de dizer o contrário na frente dela (da noiva)?;, diverte-se. ;Ele quer casar mais do que eu;, diz Natália. Noivos há sete meses, eles querem trocar as alianças em dia 30 de abril de 2011 e reservaram os dois horários disponíveis.
Às 23h, a marquise da paróquia já se transformara em um acampamento dos sem-data. Tudo muito organizado. Comes e bebes devidamente armazenados em uma caixa de isopor. Noivos e seus respectivos amigos e familiares solidários acomodados em cadeiras plásticas, protegidos do frio por cobertores e travesseiros. Alguém chegou a levar um colchão de ar. Televisão também tinha. ;Energético é importante nessa hora;, aponta Alessandra Costa, 24 anos. O objetivo dela e do noivo Cláudio Araújo, 26, é subir ao altar em 1; de outubro de 2011. Para manter o clima de camaradagem, os presentes organizaram o atendimento do dia seguinte por ordem de chegada, tendo em mãos um cronograma extraoficial de todos os sábados de 2011. Cada uma marcou seu dia. A medida foi necessária, segundo as noivas porque no ano passado houve caso de fraude no posicionamento da fila.
A preferida
A Perpétuo Socorro pode ser considerada a paróquia mais concorrida de Brasília. A preferência transita por inúmeras explicações. ;Diz a lenda que quem casa aqui não se separa;, explicou a psicóloga Érica Moura, 27 anos, noiva há um ano de Gilberto Soares, 30. ;Eu casei aqui, meus filhos foram batizados, fizeram primeira comunhão e crisma aqui. Temos uma relação especial com essa igreja;, revelou Margareth, mãe de Alessandra Costa. Para Renato Porto, a paróquia ;é prática e tem boa infraestrutura.; No entanto, nenhum dos plantonistas gostou de saber que quem paga o dízimo da igreja tem preferência para marcar o casamento. ;Isso fere o princípio da isonomia. Casar aqui não é de graça. Todos pagamos e é preciso haver a relação de consumo;, criticou o advogado Adalberto Xavier, 30 anos. Além de ser a mais procurada, a Perpétuo Socorro é também a mais cara de Brasília: um horário custa R$ 1.500.
A cerimonialista Lyana Azevedo planeja casamentos há 12 anos e nunca viu demanda parecida. ;A cada ano que passa, casar aqui fica mais difícil. Eu sempre digo às minhas clientes que querem essa paróquia para se prepararem, mas esse ano, assustei. Haja paciência!” Segundo ela, as noivas não medem sacrifícios para realizar um desejo. ;Qualquer argumento é argumento quando se trata de um sonho;, resume.
Infelizmente, nem todos conseguem realizar o sonho. A advogada Juliana, 28 anos, saiu da paróquia decepcionada. Ela chegou às 21h de terça-feira ao local e viu que outra pessoa já havia reservado os dois horários do dia em que gostaria de casar. Tentou argumentar para que a outra noiva lhe cedesse um espaço, mas foi em vão. ;Por um capricho, não vou poder casar na igreja que sempre sonhei e que frequento. Estou com tudo fechado, mas vou ter que procurar outra igreja. Se não houvesse procura pelos dois horários, tudo bem, mas havia outras pessoas interessadas. É uma política errada da paróquia permitir que isso aconteça. Acho um absurdo;, lamentou.
Para quem não deu o braço a torcer ; nem arredou o pé da igreja ;, o jeito foi esperar o dia nascer com bom humor. ;Antes de casar, não vou me confessar. Passar a noite aqui já foi minha penitência;, ironizou Renato Porto. Odilon Faria, 33 anos, foi dar um apoio ao amigo Adalberto. Claro que nada vem de graça: ;O fato de eu vir e ficar com meu amigo me isenta de dar o presente de casamento?;, disparou. ;Eu me sinto responsável por ter mostrado a igreja para a Luciane. Ainda por cima, fui arrastada para passar a noite aqui com ela;, brincou Aucilene Couto. A amiga Luciane Lago, 37, quer casar na capela da Perpétuo porque acha o local ;muito aconchegante para casamentos pequenos.; Vanessa Ponce também está noiva, mas só passou a noite na igreja por solidariedade à prima Érica Moura. Trouxe o noivo Wilson Júnior a tiracolo com um motivo bem específico: ;A intenção é convencê-lo até amanhã para já marcar logo a data;. Deve funcionar.
MELHOR NÃO ATRASAR
O tradicional atraso da chegada das noivas vem sendo combatido severamente por algumas igrejas no Distrito Federal. Se para casar na Perpétuo Socorro, é preciso desembolsar R$ 1.500. E, caso a noiva atrase mais de 15 minutos, a conta é acrescida de mais R$ 765.
O número
R$ 1.500
Preço normal de uma hora marcada para casamento na paróquia